terça-feira, 19 de maio de 2009

A surpreendente novidade


Otto Maduro definiu religião como “um conjunto de discursos e práticas, referente a seres anteriores ou superiores ao ambiente natural e social, em relação aos quais os fiéis desenvolvem uma relação de dependência e obrigação” [Religião e luta de classes. Petrópolis: Vozes, 1981]. Por trás de toda experiência religiosa existe uma mesma lógica: a relação de dependência e obrigação entre os deuses e seus fiéis. Como numa espécie de contrato, as partes estão comprometidas: o fiel obedece e cumpre obrigações e o tal deus recompensa abençoando. Na lógica religiosa “não existe almoço grátis”. Outra maneira de dizer isso é afirmar que a religião está baseada na relação de méritos, que resultam em bênçãos, e deméritos, que resultam em maldições. Para que um determinado deus faça alguma coisa, os seus seguidores devem cumprir obrigações para com ele. O favor dos deuses custa caro.
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Nesse sentido, o Cristianismo é o fim da religião, pois faz desmoronar a lógica da justiça retributiva. A mensagens dos apóstolos e dos cristãos chamados primitivos faz surgir no cenário religioso do mundo antigo uma novidade que até hoje ainda não foi bem compreendida. A surpreendente novidade do Cristianismo atende pelo nome de Graça de Deus. O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo é singular: ele não pode ser comprado. Não há nada que uma pessoa possa fazer para merecer o favor de Deus. Não há nada que uma pessoa possa fazer para atrair sobre si a ira de Deus. Essa é a essência da obra de Jesus Cristo na cruz do Calvário: “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens [...] Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado (Cristo), para que nele (Cristo) nos tornássemos justiça de Deus” [2Coríntios 5.18,20].
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A partir de Jesus Cristo não mais precisamos temer a ira de Deus, pois “nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo” [Romanos 8.1], e não precisamos mais barganhar com Deus para alcançar seu favor, pois “Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com Ele, e de graça, todas as coisas?” [Romanos 8.32]. Libertos das obrigações em relação a Deus, estamos livres dos estreitos limites impostos pelos ritualismos e moralismos da lógica religiosa, o que nos exige responder por que, então, ainda nos dedicamos a fazer a vontade de Deus. Somente uma resposta é possível: fazemos a vontade de Deus porque a graça de Deus assemelha nosso coração ao coração de Deus. Antes, escravizados pela lógica “obedecer para receber a bênção”, fazíamos a vontade de Deus para fugir de sua ira e alcançar o seu favor. Agora, libertos pela graça, fazemos a vontade de Deus porque a ela nosso coração se afeiçoou: fomos transformados no entendimento, e passamos a considerar a vontade de Deus algo bom, perfeito e agradável [Romanos 12.1,2]. Aquele que foi alcançado pela graça, já não tem obrigação de fazer a vontade de Deus. Mas tem prazer [Salmo 1.2]. São esses os que podem dizer: “Pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi inútil” [1Coríntios 15.10].
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Por Ed René Kivitz

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