sexta-feira, 15 de maio de 2009

Ensaio sobre Onipotência


Onipotência (de Deus) significa poder para fazer tudo que é intrinsecamente possível, e não para fazer o que é intrinsecamente impossível. É possível atribuir-lhe milagres, mas não tolices. Isto não é um limite ao seu poder. Se disser: "Deus pode dar a uma criatura o livre-arbítrio e, ao mesmo tempo, negar-lhe o livre-arbítrio" não conseguiu dizer nada sobre Deus: combinações de palavras sem sentido não adquirem repentinamente sentido simplesmente porque acrescentamos a elas como prefixo dois outros termos: "Deus pode".
Permanece verdadeiro que todas as coisas são possíveis com Deus: as impossibilidades intrínsecas não são coisas, mas insignificâncias (praticamente não existem). Não é possível nem a Deus nem à mais fraca de suas criaturas executar duas alternativas que se excluem mutuamente; não porque o seu poder encontre um obstáculo, mas porque a tolice continua sendo tolice mesmo quando é falada sobre Deus. Deve ser porém lembrado que os raciocinadores humanos com freqüência cometem erros, seja argumentando a partir de dados falsos ou por falha no argumento em si. Podemos chegar assim a pensar coisas possíveis que na verdade são impossíveis, e vice- versa. Devemos, portanto, tomar a máxima precaução ao definir aquelas impossibilidades intrínsecas que nem mesmo a Onipotência pode realizar.

Extraído do livro "O problema do sofrimento"
C. S. Lewis

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