quinta-feira, 24 de abril de 2008

Até quando?

Como tem sido difícil assistir um culto pentecostal nas igrejas atuais.
Confesso, saí frustrado do último que fui.
As raízes pentecostais não tem nada a ver com isso que chamamos hoje de manifestações do Espírito.
Sei que corro o risco de ser chamado de frio, de intelectual e outros nomes mais. Portanto, não me renderei a esse pseudoevangelho pregado nos púlpitos da igreja moderna.
Como pode alguém ir ao um “culto de poder” e sair pior do que entrou? Que tanto poder é esse que é “liberado” pelos evangelistas e pastores, que não tem eficácia na vida existencial deles próprios?
Que tanta “unção” é essa que é exalada de seus paletós e não transforma a vida dos fiéis?
Até quando veremos os manipuladores de auditórios manobrando as massas para um falso evangelho?
Até quando vamos chamar de “cristãos” esses falsos líderes? Eles inventaram outra religião. Abandonaram o cristianismo. Não falam da cruz de Cristo e da regeneração do Espírito Santo como solução para toda e qualquer escravidão espiritual. Não falam do discipulado de Jesus Cristo como compromisso com o Reino de Deus, o que exige arrependimento e submissão absoluta ao Rei Eterno, o que implica mudança de vida e serviço abnegado.
Continuo a peregrinar com minhas incertezas, sabendo que o Deus da igreja dará um escape aos seus pequeninos que anseiam viver humildemente, praticando a justiça e amando a misericórdia.
Continuo a crer nas manifestações do Espírito Santo na vida do cristão; continuo a crer na transformação do homem caído; e continuo a ter esperança que a nossa missão é manifestar, aqui e agora, a maior densidade possível do Reino de Deus, que será consumado ali e além.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Teodicéia

Hoje, iniciei uma peregrinação para tentar entender “Onde está Deus quando chega a dor?”. Na verdade, este é o título do livro de Philip Yancey que começo a ler. O título por si só já é muito intrigante, e poderíamos logo de cara matar esta questão e responder esta pergunta usando um grande clichê evangélico: “Deus está contigo”.
Portanto, como não consigo engolir estes jargões, por mais que acredite que Deus sempre está ao nosso lado, usarei as palavras de Ed René Kivitz para tentar explicar a questão do sofrimento humano.
Eis aí o que ele diz:
“Acho que Epicuro foi quem formulou a questão a respeito da relação entre a onipotência e a bondade de Deus. A coisa é mais ou menos assim: se Deus existe, ele é todo poderoso e é bom, pois não fosse todo-poderoso, não seria Deus, e não fosse bom, não seria digno de ser Deus. Mas se Deus é todo-poderoso e bom, então como explicar tanto sofrimento no mundo? Caso Deus seja todo-poderoso, então ele pode evitar o sofrimento, e se não o faz, é porque não é bom, e nesse caso, não é digno de ser Deus. Mas caso seja bom e queira evitar o sofrimento, e não o faz porque não consegue, então ele não é todo-poderoso, e nesse caso, também não é Deus. Escrevendo sobre a Tsunami que abalou a Ásia, o Frei Leonardo Boff resume: "Se Deus é onipotente, pode tudo. Se pode tudo porque não evitou o maremoto? Se não o evitou, é sinal de que ou não é onipotente ou não é bom". Considerando, portanto, que não é possível que Deus seja ao mesmo tempo bom e todo-poderoso, a lógica é que Deus é uma impossibilidade filosófica, ou se preferir, a idéia de Deus não faz sentido, e o melhor que temos a fazer é admitir que Deus não existe. Parece que estamos diante de um dilema insolúvel. Mas Einstein nos deu uma dica preciosa. Disse que quando chegamos a um "problema insolúvel", devemos mudar o paradigma de pensamento que o criou. O paradigma de pensamento que considera o binômio "onipotência/bondade" como ponto de partida para pensar o caráter de Deus nos deixa em apuros. Existiria, entretanto, outro paradigma de pensamento? Será que as palavras "onipotência" e "bondade" são as que melhor resumem o dilema de Deus diante do mal e do sofrimento do inocente? Há outras palavras que podem ser colocadas neste quebra-cabeça? Este problema foi enfrentado por São Paulo, apóstolo, em seu debate com os filósofos gregos de seu tempo. A mensagem cristã era muito simples: Deus veio ao mundo e morreu crucificado. Pior do que isso: Deus havia sido crucificado num "jogo de empurra" entre judeus e romanos, isto é, diferentemente dos outros deuses, o Deus dos cristãos havia sido morto não por deuses mais poderosos, mas por homens. Sendo Deus, jamais poderia ser morto por mãos humanas, e sendo o Deus onipotente, jamais poderia nem mesmo ser morto. Paulo, apóstolo, estava, portanto, diante de um dilema semelhante ao proposto por Epicuro: Deus era uma impossibilidade filosófica. Foi então que os apóstolos surgiram com uma resposta tão genial que os cristãos acreditam que foi soprada pelo Espírito Santo: antes de vir ao mundo ao encontro dos homens, Deus se esvaziou da sua onipotência, isto é, abriu mão do exercício de sua onipotência, e por amor, deixou-se matar por eles. (Eu disse que "Deus abriu mão do exercício de sua onipotência", bem diferente de "Deus abriu mão de sua onipotência"). O apóstolo Paulo admitia que não era possível pensar em Deus sem considerar o binômio bondade/onipotência. Optou pela palavra amor, assim como o apóstolo João, que afirmou "Deus é amor", e afirmou que Jesus de Nazaré foi Deus encarnado na forma de Amor, e não Deus encarnado na forma de Onipotência. Isso faz todo o sentido. Um Deus que viesse ao encontro das pessoas em trajes onipotentes chegaria para se impor e reivindicar obediência irrestrita, impressionando pela sua majestade e força sem iguais. Jung Mo Sung adverte que "a contrapartida do poder é a obediência, enquanto a contrapartida do amor é a liberdade". Também assim pensou o apóstolo Paulo, ao afirmar que o que constrange as pessoas a viver para Deus é o amor de Deus (demonstrado na morte de Jesus na cruz), e nunca o poder de Deus. Na verdade, "Deus não tinha escolha". Ao decidir criar o ser humano à sua imagem e semelhança, deveria cria-lo livre. Desejando um relacionamento com o ser humano, deveria dar ao ser humano a liberdade de responder voluntariamente ao seu amor, sob pena de ser um tirano que arrasta para sua alcova uma donzela contrariada. Somente o amor resolveria esta equação, pois somente o amor dá liberdade para que o outro seja livre, inclusive para rejeitar o amor que se lhe quer dar. Ricardo Gondim me introduziu ao pensamento de Comte-Sponville. Este ateu confesso discorre a respeito do amor divino como poucos que já li. Acredita que o amor divino é um ato de diminuição, uma fraqueza, uma renúncia. Usa os argumentos de Simone Weil: "a criação é da parte de Deus um ato não de expansão de si, mas de retirada, de renúncia. Deus e todas as criaturas é menos do que Deus sozinho. Deus aceitou essa diminuição. Esvaziou de si uma parte do ser. Esvaziou-se já nesse ato de sua divindade. É por isso que João diz que o Cordeiro foi degolado já na constituição do mundo. Deus permitiu que existissem coisas diferentes Dele e valendo infinitamente menos que Ele. Pelo ato criador negou a si mesmo, como Cristo nos prescreveu nos negarmos a nós mesmos. Deus negou-se em nosso favor para nos dar a possibilidade de nos negar por Ele. As religiões que conceberam essa renúncia, essa distância voluntária, esse apagamento voluntário de Deus, sua ausência aparente e sua presença secreta aqui embaixo, essas religiões são a verdadeira religião, a tradução em diferentes línguas da grande Revelação. As religiões que representam a divindade como comandando em toda parte onde tenha o poder de fazê-lo são falsas. Mesmo que monoteístas, são idólatras". Você já imagina onde quero chegar. Isso mesmo, entre a onipotência e a bondade de Deus existe a liberdade do homem, e o compromisso de Deus em respeitar esta liberdade. Isso ajuda a entender porque existe tanto sofrimento no mundo. O mal não procede de Deus e não é promovido ou determinado por Deus. O mal é conseqüência inevitável da liberdade humana, que teima em dar as costas para Deus e tentar fazer o mundo acontecer à sua própria maneira. Diante do mal e do sofrimento, o Deus com os homens, encarnado em Amor, também sofre, se compadece, tem suas entranhas movidas de compaixão.Mas você poderia perguntar, porque razão Deus não acaba com o mal. Isso é simples: Deus não acaba com o mal porque o mal não existe. Marilena Chauí diz que "o mal é o pecado, isto é, a transgressão da lei divina que o primeiro homem e a primeira mulher praticaram. Sua punição foi o surgimento de outros males: morte, doença, dor, fome, sede, frio, tristeza, ódio, ambição, luxúria, gula, preguiça, avareza. Pelo mal, a criatura afasta-se de Deus, perde a presença divina e a bondade original que possuía. O mal, portanto, não é uma força positiva da mesma realidade que o bem, mas é pura ausência de bem, pura privação do bem, negatividade, fraqueza. Assim a treva não é algo positivo, mas simples ausência da luz, assim também o mal é pura ausência do bem. Há um só Deus, e o mal é estar longe e privado dele, pois ele é o bem e o único bem". Em outras palavras, o mal não existe, o que existe é o malvado, aquele que faz surgir o mal porque se afasta de Deus, o supremo e único bem. Ariovaldo Ramos resumiu isso ao afirmar que "para acabar com o mal, Deus teria que acabar com o malvado". Mas, sendo amor, entre acabar com o malvado e redimir o malvado, Deus escolheu sofrer enquanto redime, para não negar a si mesmo destruindo o objeto do seu amor. Por esta razão Deus "se diminui", esvazia-se de sua onipotência, e se relaciona com a humanidade com base no amor, fazendo nascer o sol sobre justos e injustos, e mostrando sua bondade, dando chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo sustento com fartura e um coração cheio de alegria a todos os homens”.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Parabéns mamãe

11 de abril. Aniversário de minha mãe. 54 anos de vida, de luta, de uma história. Cheio de percalços é bem verdade, mas quem não tem luta não pode ser chamada de vencedora.
Queria poder reproduzir a história dessa vencedora, mas levaria muito tempo, teria que voltar 50 anos e lembrar da roça, da infância sobre rédeas, da família Alves Nascimento chegando ao Rio de Janeiro...a estrada é longa.
Prefiro me reportar somente até 1979, quando nasce um meninão – orgulho da mamãe.
Ali começa a minha história; tua história; nossa história.
Costumo dizer que ela é a melhor mãe do mundo, mas todos dizem isso a respeito das suas. Portanto, já ouvi muito amigo meu dizer que a minha mãe era melhor do que a deles. É mole.
Quem conhece a vida dessa mulher sabe o quanto ela foi mãe pra muita gente. Acho que já tive muitos irmãos ao longo da vida; pessoas que ela estendia a mão amiga e de lambuja ainda dava um teto para abrigá-los.
A vida é assim, cheia de improvisos e paradoxos. Portanto, Deus honra aqueles de bom coração.
A vida lhe reservou um casamento não muito feliz, e separação sempre é muito difícil; como diz o ditado: "há males que vem para o bem". Ou como diz a Bíblia: Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus...
Me deu tudo que uma criança e um adolescente poderia ter. Fui mimado é verdade, mas não troco esse mimo por nada neste mundo. Me ensinou a viver; me discipulou para vida; pena que quase estraguei tudo na minha juventude rebelde. Lembro-me das madrugadas a fio, me aguardando chegar das baladas. Como fui um tolo. Mas quando a Graça chega, superabunda toda e qualquer transgressão.
Dou graças à Deus pela vida de minha mãe, que sempre foi um pai e uma mãe; suportou os dias maus para poder me proporcionar o melhor, e me formar um homem de caráter.
Existe um jargão que diz: “Não existem palavras para expressar o que sinto por você”. Mas pensando na atitude de Deus em se revelar ao homem através da palavra escrita (Bíblia), quero tentar refletir meus pensamentos em palavras, para que na ausência das minhas palavras, eu possa expressá-las através de atitudes. Sei que estou muito longe de ser um filho exemplar, mas a Graça de Deus foi tão abundante sobre minha vida, que me deu uma mãe que simplesmente é a melhor do mundo.
Hoje é seu dia. E Deus ainda vai lhe reservar dias melhores.
Desejo-lhe dias de paz e com muito amor de Cristo. E que essa nova união venha trazer dias de intensa felicidade.
Beijos do seu filho predileto que tanto te ama.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Senhor, ensina-nos a orar

Por Ricardo Gondim

Orar poderia ser definido como uma arte? A arte de convencer? Seria, então, a mais nobre de todas as artes, pois persuade a Deus. Será que uma reza tem força para alterar o curso previamente definido pela Providência? Mas, como o desfiar de um rosário pode mudar o curso da história?
Morro de medo de começar a fazer esse tipo de pergunta; parece um fio solto que a gente vai puxando, puxando, até que não sobra mais nada da blusa. Na verdade, sabemos quase nada sobre as ladainhas, sobre as intercessões, sobre os rogos, sobre as súplicas, sobre as petições, sobre as correntes e as campanhas de oração.
Além de pastor e conferencista, sinto-me responsável, como pai e avô, de ensinar valores espirituais (transcendentais) à minha prole. Os tempos são difíceis, nunca se trivializou tanto o assunto da oração nessas "igrejas-empresas" que propagandeiam suas “orações fortes”; nunca tantos charlatões apregoaram a capacidade de saberem como “mover o braço de Deus". Mesmo assim, teimo em crer. Até contra as racionalizações positivistas, os ceticismos humanistas e as dúvidas cruéis, uma voz insiste em gritar dentro de meu peito: - Creia, é possível falar com Deus!
Confesso que sou um noviço nos protocolos de frequentar o Santo dos Santos. Minhas certezas são frágeis e carregadas de imprecisão. Identifico-me com os primeiros seguidores de Jesus de Nazaré e repito: “Senhor, ensina-me a orar”.
Não ofereço respostas, não indico caminhos rumo ao trono de Deus. Continuo como um daqueles discípulos, mais perdido do que centrado. Nas vezes em que precisei falar com o Todo-Poderoso, fui um fiasco. Consigo despejar palavras, gritar ou cantar louvores, manter minhas preces dentro da ortodoxia protestante, mas continuo inapto, sem grandes tratados de como se dirigir a Deus.
Contudo, às apalpadelas, faço minhas invocações ao Senhor, e nutro algumas intuições como balizas que me orientam nos exercícios espirituais.
Procuro fazer da graça o chão da minha devocional. Muito de minha adoração consiste em procurar escapar da armadilha de repetir esta palavra (graça) como um simples conceito teológico. A graça precisa manter-se como minha premissa relacional: Deus é sempre simpático a mim. Em todo culto, procuro trazer à lembrança que antes de qualquer manifestação piedosa, de arrependimentos com oblações, de flagelações e de rasgar de vestes, Deus me quer bem. Sua graça me poupa de implorar-lhe que troque de semblante; Deus não é antipático. Minha incapacidade de cumprir a lei não provoca sua ira. Não existe nada em minha conduta anterior que predisponha Deus contra mim. A graça me ajuda a dialogar com o Eterno sem depender da minha pureza.
Procuro manter em mente que Jesus de Nazaré revelou Deus como um Pai bom e misericordioso. Não oro como se Ele fosse uma energia ou um princípio metafísico. Porque procuro perceber que Deus me trata como um pai, não preciso arengar, bater o pé, para ganhar o seu favor. As circunstâncias da vida, com suas contingências, incidentes, sofrimentos, desditas, fadigas, fascínios, benevolências e alegrias, não possuem uma conexão direta com o desprezo ou amor de Deus. Ele não prometeu redomas; não sugeriu que vivêssemos sem percalços.
Há muito parei de pedir livramentos divinos. Pedir que Deus não deixe que o pneu do meu carro fure ou que meu neto não fira a boca ou que eu jamais tenha enxaqueca, não faz parte, por assim dizer, do jeito como Deus decidiu (soberanamente) lidar com suas filhas e filhos. Ele não criou um mundo onde as pessoas estejam isentas de percalços e não atrelou bênçãos à impecabilidade (faz o sol e a chuva virem sobre todos, bons e maus). O casuísmo da Escritura não pode criar a expectativa de que é possível viver sem tribulação.
Procuro lembrar a mim mesmo que pedir favores especiais de Deus representaria uma indignidade existencial. Por que eu deveria acreditar que, servindo-O, terei maiores benefícios neste mundo? Deus não odeia as balanças enganosas? Por que então abraçar a ilusão de que Deus “faz passar no vestibular”, “deixa os jogadores de futebol crentes marcarem mais gols”, “resolve causas na justiça” ou “traz a pessoa amada"?
Não seria muito mais nobre se os crentes abrissem mão das possíveis regalias de um relacionamento com Deus? Não seria este, precisamente, o mandato cristão: irmanar-se ao drama de milhões que sofrem e morrem sem salvamentos espetaculares? Cristianismo não aponta para o exemplo Jesus de Nazaré, que morreu numa cruz?
Minhas preces, muitas vezes, são sem palavras. Em absoluto silêncio, contemplo o misterium tremendum que fica para muito além dos contornos da razão. Procuro absorver os vazios infinitos; intuir as verdades inaprendíveis; familiarizar-me com as escuridões cósmicas; envolver-me de nostalgias doloridas; conviver com os paradoxos incontornáveis. Minhas preces se parecem com meditações quando regurgito textos sagrados, imagens e símbolos do fascínio eterno.
Meus solilóquios também servem de incenso. Converso com minha alma como uma disciplina espiritual. Falo sozinho. Já me flagrei perguntando: – Por que estás abatida, ó minha alma?
Não, não sou nenhum prior no sacramento da oração. Posso ensinar pouca coisa. Percebo, porém, que Deus não escuta quando se fala muito. Entendo também que todo aquele que conhece o amor do Pai pára de suplicar por bens materiais, como comida ou vestido. Compreendo que existe uma dimensão secreta da oração, um lugar onde só entra uma pessoa por vez e que jamais poderia ser revelado publicamente. Quando eu me tranco nele, converso com Deus sobre realidades que guardo debaixo de sete chaves.
Quem desejar o divino ofício de orar deve fazer a sua própria peregrinação. Eu só posso dizer que a trilha será íngreme, às vezes confusa, solitária, mas sempre recompensadora.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

A Janela Lateral


“A distância que vai entre a janela e os meus olhos determina o que vejo lá fora na rua. Se fico mais perto, a visão se alarga; se fico de longe, a visão se estreita. Se vou à esquerda, enxergo a praça; se vou à direita, enxergo a torre. Sou eu que determino o que aparece lá fora na rua para servir de panorama aos meus olhos.Mas nem por isso é falso ou errado aquilo que vejo e descrevo, pois não sou eu que crio as coisas que aparecem lá fora. Já existiam antes de mim. Não dependem de mim. É útil e até necessário que cada um defina bem clara e honestamente aquilo que vê pela sua janela. Isso redundará em benefício da análise que se faz da realidade da vida. O que me consola é que todos somos assim. Bem limitados e condicionados pelos próprios olhos, dependentes uns dos outros. É trocando as experiências, numa conversa franca e humilde, que nos ajudamos a enxergar melhor as coisas que vemos, e a romper as barreiras que nos separam sem razão. Pois ninguém é dono da verdade. Intérprete só”. Assim falou Carlos Mesters. Desde então a teologia ficou sub judice. Compreendi que a teologia não é um discurso a respeito de Deus, mas apenas trocas de impressões a respeito das múltiplas interpretações que os homens fazem de Deus. Foi então que compreendi porque o Cristianismo não depende da ortodoxia, mas da revelação. A ortodoxia é uma teologia elevada à categoria de verdade absoluta. A revelação é o encontro com uma pessoa. Uma pessoa que não cabe nem na teologia nem na ortodoxia.


LinkWithin

Related Posts with Thumbnails