terça-feira, 26 de maio de 2009

Amar a Deus com liberdade


O livro de Jó parece se concentrar na questão do sofrimento. No fundo, um problema diferente está em jogo: a doutrina da liberdade humana. Jó teve de suportar um sofrimento imerecido a fim de demonstrar que o Senhor está, na verdade, interessado no amor demonstrado em liberdade.

A disputa travada entre Deus e Satanás não foi um exercício trivial. A acusação feita por Satanás de que Jó só amava o Senhor por que “puseste uma cerca em volta dele” é um ataque ao caráter divino. Implica que Deus não é digno de amor por si mesmo; as pessoas fiéis só o seguiriam mediante “suborno”. A reação de Jó depois que todos os sustentáculos da fé fossem removidos comprovaria ou descartaria o desafio de Satanás.

Para entender essa questão da liberdade humana, talvez o melhor seja imaginar um mundo em que todos obtêm aquilo que merecem. Esse mundo imaginário tem uma certa atração. Seria justo e consistente e todos saberiam com clareza o que Deus esperava. A justiça reinaria. Há, no entanto, um enorme problema com um mundo assim tão organizado: ele não tem nada a ver com o que Deus pretende realizar na terra. Ele quer de nós o amor, amor ofertado em liberdade. E não ousemos subestimar a recompensa que Deus associa a esse amor. O Senhor lhe atribui tamanha importância que permite ao nosso planeta ser um câncer de maldade no seu universo – por algum tempo.

Se o mundo funcionasse de acordo com regras fixas, justas e perfeitas, não haveria liberdade real. Agiríamos certo por causa do nosso ganho imediato e motivações egoístas infestariam cada gesto de bondade. As virtudes cristãs descritas na Bíblia, pelo contrário, se desenvolvem quando escolhemos Deus e seu caminho apesar da tentação ou dos impulsos para fazer o contrário.

Na Bíblia inteira, uma analogia que ilustra o relacionamento entre o Senhor e seu povo salta aos olhos o tempo todo. Deus, o marido, é retratado tentando atrair a noiva para si mesmo. Ele quer seu amor. Se o mundo fosse construído de forma que cada pecado recebesse um castigo e cada boa ação, um prêmio, o paralelo não resistiria. A analogia mais próxima a esse relacionamento seria uma mulher mantida em cativeiro, mimada, subordinada e trancafiada em um quarto de forma que o amante pudesse estar seguro de sua fidelidade. Deus não “prende” seu povo. Ele nos ama, oferece-se para nós e espera ansioso por nossa livre reação.

O Senhor quer que optemos por amá-lo de livre e espontânea vontade, mesmo que essa opção envolva dor, por estarmos comprometidos com Ele, não com sensações e recompensas que nos façam sentir bem. Ele quer que permaneçamos fiéis a Ele, como fez Jó, inclusive quando tivermos todos os motivos do mundo para negá-lo com veemência. Jó se apegou à justiça de Deus no momento em que se tornou o melhor exemplo da história da aparente injustiça divina. Não procurou o Presenteador por causa do presente; pois quando todos os presentes foram removidos, ele ainda O buscava.

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