segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O que significa língua dos anjos?


Muito se discute a respeito do dom de línguas na Bíblia, se ele ainda existe ainda hoje ou não. Um texto que me intriga muito é 1 Coríntios 13:1, onde Paulo fala a respeito das línguas dos anjos. Que línguas são essas? Seria esse falar em línguas que vemos muitas pessoas falando nas igrejas e que não entendemos muito bem?
Caro leitor, a questão do falar em línguas realmente é um tema muito polêmico, que por séculos tem provocado diversos debates. Porém, sobre esse texto que você citou de Paulo, creio não haver tanta polêmica, pois é um texto onde não temos tantas dificuldades na interpretação. Vejamos juntos o que significa línguas dos anjos ali:

(1) O texto que o leitor cita é este: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine” (1Coríntios 13:1). A primeira coisa a se compreender sobre esse texto é que a Bíblia em nenhum momento menciona que existam línguas (idiomas) especiais que os anjos falam. Sempre que anjos são mencionados conversando com pessoas eles falam a língua da pessoa e não uma língua própria que poderia ser chamada de línguas dos anjos. Dessa forma, afirmar que anjos falam em línguas especiais baseados única e exclusivamente no texto de Paulo é algo muito equivocado como veremos a seguir.

(2) Isso nos leva a pensar: O que Paulo quis dizer com línguas dos anjos? Seria uma revelação feita apenas a ele de que os anjos falam em línguas especiais que os seres humanos não entendem? A resposta é não! Uma avaliação cuidadosa do texto e contexto (regra básica da interpretação correta) nos revela claramente o que Paulo quis comunicar ali. Paulo usou uma figura de linguagem chamada hipérbole. O dicionário Priberan Online define essa palavra como Figura de retórica que corresponde ao exagero com efeitos enfáticos no sentido das palavras ou das frases”. Isso significa que Paulo usou de vários “exageros” nesse texto para enfatizar seu ensino. Inclusive quando usou línguas dos anjos também usou de uma hipérbole.

(3) Mas como saber que Paulo usou de hipérbole nesse texto? Se você observar em todo o contexto, Paulo usa de diversas hipérboles para fortalecer seu ensino. Por exemplo, vejamos algumas: “Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência” (1Coríntios 13:2). Como alguém pode conhecer todos os mistérios e toda a ciência? Aqui temos um exagero proposital de Paulo para enfatizar o argumento de seu ensino. Ele continua: “ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei” (1 Coríntios 13:2). Você já viu alguma montanha mudar de lugar por causa de alguém que exerceu a fé? Óbvio que não! Temos aqui também mais uma hipérbole usada por Paulo. “E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará” (1Coríntios 13:3). Aqui Paulo também trabalha a figura do exagero, já que é impossível que alguém entregue 100% de seus bens. Algo sempre a pessoa vai ter. Outra coisa, em sã consciência, quem irá entregar seu próprio corpo para ser queimado? Mais uma figura de linguagem hiperbólica de Paulo.

(4) Assim, fica evidente que nos versos de 1 a 3 de 1 Coríntios 13 Paulo usou diversas hipérboles, incluindo o termo “línguas dos anjos” como figuras de linguagem para promover o seu ensino sobre a importância do amor.

[Por André Sanches]

terça-feira, 17 de novembro de 2015

A ilusão do Livre-Arbítrio


No estado de pecado, o homem não quer aquilo de que não dispõe em sua alma. Ou seja, não está no homem natural o querer agradar a Deus, mas apenas o detestá-lo porque a queda implantou um princípio de hostilidade na raça humana a ponto desta se tornar incapaz e indiferente a todo bem espiritual, sendo sempre inclinada a toda forma de mal (Jr 13. 23; Jo 6. 44, 65; Rm 9. 16). Ele perdeu a capacidade de viver em plena comunhão e obediência a Deus de maneira que sempre decide e se inclina ao pecado. Trata-se de uma incapacidade da liberdade que só pode ser revertida com a obra do Espírito. Por isso a Escritura descreve a natureza humana não regenerada como num estado de: cegueira e trevas, morte espiritual, serva do pecado, sujeita a Satanás, sendo que os homens; por isso, são filhos da desobediência e da ira, escravos do pecado, estando mortos em delitos e transgressões (Jo 8. 34; Rm 6. 16; 20; 2 Tm 2. 26; Mt 22. 33-36; Jo 8. 44; 1 Jo 3. 10; Cl 2. 13-15; Ef 2.1-2). Livre-arbítrio significa o poder de escolher ou rejeitar a oferta de salvação, mas qualquer ensino que coloca estas opções à escolha do homem, desconhece o estado de morte espiritual que o impede de enxergar o caminho da salvação. Freqüentemente se faz confusão entre livre-arbítrio e livre-agência.
No estado de santidade em que Adão e Eva foram criados, foi-lhes dado poder de escolha entre duas alternativas: Vida e Morte espirituais (segundo Agostinho, sem coação externa). A isto chamamos livre-arbítrio ou, (para usar uma expressão mais apropriada) vontade própria. Com a queda é o próprio Deus quem provê os meios para reconciliar seus eleitos com Ele mesmo, porque mesmo que o homem não tenha perdido a capacidade de fazer escolhas, a Bíblia informa que serão sempre escolhas erradas, ou seja, ele é sempre escravo de suas escolhas erradas (Is 59. 2; 2 Co 5. 18; Cl 1. 22). Seu Filho tomou forma humana para ser o sacrifício vivo pelo pecado trazendo purificação porque “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9. 22). A este último ato chamamos pacto da graça. Se ainda estivéssemos sob a liberdade de escolher, então o mérito da escolha da salvação seria nosso e a morte de Cristo não teria qualquer eficácia e utilidade. E a pessoa que não escolhe a salvação é porque quer conscientemente ir para o inferno? Mas no pacto da graça, Cristo é o agente e o redentor de nossa salvação. O poder que o homem possui de gerar suas próprias ações responsáveis é chamado livre-agência. Significa que o homem é livre para querer o que deseja e deseja aquilo que quer. Esse poder não foi perdido com a queda, mas a verdadeira liberdade, sim. 
Eles decidem suas ações e se tornam responsáveis por elas, com base na consciência, inclinações naturais e pensamentos. No entanto, a ação nasce na vontade, e esta; por sua vez, está tão escravizada pelo pecado que o homem jamais se inclina para a salvação pelo uso de sua livre-agência pois ele “perdeu totalmente a capacidade da vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação”.

[Confissão de Fé de Westminster, (São Paulo-SP, Puritanos, 1999), p. 222.]

O que significa blasfêmia contra o Espírito Santo?


Não são poucas as pessoas que já se perguntaram – com medo – se não teriam blasfemado contra o Espírito Santo em algum momento. Recebo aqui no blog quase toda semana perguntas de pessoas desesperadas, achando que pecaram contra o Espírito e não serão perdoadas e salvas por Deus, tendo assim como destino final o inferno. Consigo entender seu desespero, pois a Bíblia diz que esse pecado é imperdoável. “Por isso, vos declaro: todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada.” (Mateus 12.31).

Para compreender bem essa difícil passagem precisamos entender seu contexto. Tudo ocorreu quando Jesus fez a cura de um endemoninhado cego e mudo: “Então, lhe trouxeram um endemoninhado, cego e mudo; e ele o curou, passando o mudo a falar e a ver.” (Mateus 12.22). Essa cura provocou admiração na multidão, que buscava encontrar respostas ao que presenciaram (Mt 12.23) e uma reação negativa por parte dos fariseus, que acusaram Jesus de estar a serviço do Diabo (Mt 12. 24). Jesus é duro com eles e, nesse contexto, declara que a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada nem nesse mundo nem no porvir (Mt 12.32).

Mas como entender o que é essa blasfêmia mencionada por Jesus? Tem-se entendido que essa expressão está ligada a um “pecado eterno” e não a um “juízo eterno”. Isso significa que a pessoa que blasfema contra o Espírito Santo não é aquela que de alguma forma fez algo contra Deus, mas tem seu coração arrependido, mas é aquela que, por causa de seu coração duro – à semelhança dos fariseus – não se arrepende de sua atitude contumaz contra o Espírito de Deus. Nesse sentido elas permanecem em um estado de incredulidade tal que não se arrependem e, por isso, não são perdoadas. Assim, não é um único pecado que traz a elas o juízo de condenação de Deus, mas o fato de manterem-se nesse estado de “pecado eterno” sem arrependimento.

Algumas pessoas têm dificuldades de entender isso na prática. Será que eu já blasfemei contra o Espírito Santo e não sou salvo? Será que estou debaixo desse pecado imperdoável por tudo que fiz no passado? Será que já cometi esse ato e não terei mais oportunidade de ser agradável aos olhos de Deus, de gozar a salvação e o céu?

De forma prática, muito mais fácil do que entender com exatidão o que Jesus quis dizer nessa passagem, é entender que se alguém tem sinais de arrependimento de seus pecados em seu coração, crê em Jesus Cristo como o Salvador, crê no poder de Deus, etc., essa pessoa não pode ter cometido o pecado imperdoável. Sinais de arrependimento, pra mim, são sinais claros de que a pessoa não cometeu esse pecado.

D. L. Moody diz que “A essência do “pecado eterno” é a atitude do coração que sustenta o ato.”. Isso quer dizer que o coração daquele que está embrenhado nesse pecado, sempre sustentará esse pecado com uma atitude de incredulidade para com Deus, sem nenhum arrependimento dele. Ou seja, quando alguém tem uma atitude de credulidade evidente, não pode estar debaixo desse pecado. Assim, não há motivo para desesperar-se achando que você pecou contra o Espírito Santo e não será mais perdoado. O próprio desespero em não ser perdoado é uma mostra do quão grande desejo se tem de ser perdoado por Deus e ter a paz do Espírito. Aquele que permanece no pecado imperdoável nunca sentirá isso em seu coração impenitente e duro, nunca se preocupará se cometeu ou não esse pecado.

[Por André Sanches]

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O que significa ser batizado com o Espírito Santo e com fogo?


Você Pergunta: O que é o batismo com fogo citado em Mateus 3:11? Alguns afirmam que seria o batismo com o Espírito Santo seguido do falar em línguas. Eu fico um pouco confuso com relação a isso, pois eu mesmo sou crente fiel a Deus, mas nunca falei em línguas. Será que existe algum problema comigo? Todo crente deverá ser batizado com fogo ou só alguns que serão? O que é ser batizado com o Espírito Santo e com fogo?

Caro leitor, vamos fazer uma análise correta do texto citado por você, bem como de todo o contexto. Dessa forma conseguiremos esclarecer facilmente o significado dessa expressão usada por João Batista. O texto que você citou é este: “Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mateus 3:11). Vamos começar a nossa análise:

(1) A primeira pergunta que temos de responder é a seguinte: para quem João Batista dirigiu essa palavra? Observando o contexto, vemos que muitos iam até João Batista e, arrependidos de seus pecados, eram batizados por ele com água (Mateus 3:5-7). Mas entre estes, alguns iam até João com outros propósitos; estes são identificados como os fariseus e saduceus (Mateus 3:7). Foi diretamente a eles que João disse essa palavra, que começa no verso 7: “Vendo ele, porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura?”

(2) João questiona veementemente a falsidade e hipocrisia do arrependimento dos fariseus e saduceus (Mateus 3:8-9). Eles estavam ali com outros objetivos, não com o de se arrependerem dos seus pecados e viver uma nova vida. Nesse contexto João diz algo interessante a eles que nos ajudará a compreender o que significa batismo com fogo: “Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo” (Mateus 3:10). O fogo citado aqui, claramente aponta para o julgamento de Deus e a justa condenação dos ímpios.

(3) Dentro desse contexto João continua sua fala aos fariseus e saduceus e, claro, para aqueles que deveriam estar ali ouvindo toda essa conversa, explicando a eles da vinda do Messias, que seria maior do que ele (Mateus 3:11). Esse Messias estaria apto a oferecer dois batismos, sendo: o batismo com o Espirito Santo: é o batismo do arrependimento, a morte para a velha vida, a purificação dos pecados, a nova vida, etc. E o batismo com fogo: Esse é o batismo no qual os perversos serão batizados, conforme o próprio João explica na sequência: “A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível” (Mateus 3:12).

(4) Esse trigo que será recolhido no celeiro são os salvos, os batizados com o Espírito Santo, os selados pelo Espírito Santo da promessa (Efésios 1:13). Já a palha que será jogada em fogo inextinguível são os ímpios, batizados com o fogo do juízo de Deus. Como vimos, todo o contexto usa o fogo como símbolo do juízo de Deus sobre os perversos.

(5) Sabemos que nas Escrituras Sagradas o fogo é usado com diversos significados. Por exemplo, como símbolo de purificação, da provação, do juízo, etc. Para que o sentido da palavra fogo seja corretamente atribuído a um texto é importante avaliar cada contexto para não cometer erros. Como vimos claramente nesse texto que analisamos neste estudo, o batismo com fogo é claramente identificado como o batismo que Deus aplica nos ímpios, um batismo de condenação justa.

(6) Assim, caro leitor, o crente verdadeiro não deve ser batizado com esse fogo citado nesse texto, pois se o for, nem mesmo poderá mais ser chamado de crente, pois, na verdade, nunca o foi. Antes, se for batizado com esse fogo citado por João Batista, será um batismo de condenação.

[Por André Sanches]

Faraó morreu ou não morreu na travessia do Mar Vermelho?


Pergunta: Nessa semana a Rede Record transmitiu a novela Dez Mandamentos que mostrou a travessia do povo de Israel pelo Mar Vermelho. Na novela o Faraó do Egito não morre. Sempre fui ensinado que o Faraó morria junto com seu exército. Fiquei confuso agora. O que a Bíblia diz a respeito dessa questão? Faraó morreu ou não morreu na travessia do Mar Vermelho?

Caro leitor, recebi perguntas de vários irmãos em Cristo com essa mesma dúvida, se o Faraó morreu ou não morreu na travessia do Mar Vermelho. Para termos uma resposta bíblica, vamos analisar o que temos de fato escrito na Bíblia sobre essa questão:

(1) O texto principal que narra a perseguição dos israelitas e a travessia do Mar Vermelho se encontra em Êxodo 14:1-30. Podemos perceber nessa narrativa que o Faraó sai junto com um exército escolhido de seiscentos carros em perseguição aos israelitas (v.v.6-7). Ou seja, fica claro que o Faraó sai liderando seu exército nessa perseguição aos israelitas com o claro objetivo de trazê-los de volta à escravidão no Egito.

(2) O texto de Êxodo não nos diz objetivamente se o Faraó entrou ou não no Mar Vermelho atrás dos Israelitas: “Os egípcios que os perseguiam entraram atrás deles, todos os cavalos de Faraó, os seus carros e os seus cavalarianos, até ao meio do mar” (Êxodo 14:23). Também não temos uma menção objetiva de que o Faraó tenha sido engolido pelas águas quando desabaram sobre os egípcios: “E, voltando as águas, cobriram os carros e os cavalarianos de todo o exército de Faraó, que os haviam seguido no mar; nem ainda um deles ficou” (Êxodo 14:28).

(3) Considerado isoladamente, a narrativa de Êxodo não nos dá elementos concretos para podermos afirmar com 100% de certeza que Faraó tenha morrido na travessia do Mar Vermelho. Porém, causa estranheza o fato do Faraó vir com seu exército e no momento mais esperado pelos egípcios, que era de perseguir de perto e capturar o povo israelita, o Faraó simplesmente pare de liderar o exército que vinha liderando por todo o caminho e fique apenas observando. Era comum que reis e faraós liderassem seus exércitos nesse tipo de campanha de guerra. Mas ao mesmo tempo causa estranheza que Moisés não tenha registrado a morte do principal inimigo do povo de Deus naquele momento. Será que Moisés pode não ter visto se o Faraó também foi tragado pelas águas? É uma possibilidade. No cântico de Moisés registrado em Êxodo 15, Moisés também não relata a morte do Faraó: “Lançou no mar os carros de Faraó e o seu exército; e os seus capitães afogaram-se no mar Vermelho” (Êxodo 15:4).

(4) Por outro lado, considerando um outro texto bíblico que fala sobre a vitória do povo israelita sobre os egípcios, temos a menção do Salmos 136:15: “mas precipitou no mar Vermelho a Faraó e ao seu exército, porque a sua misericórdia dura para sempre” (Salmos 136:15-17). Nesse texto bíblico a menção da morte do Faraó é clara. Talvez uma explicação para essa menção posterior da morte do Faraó nesse Salmo seja um indicador de que Moisés quando escreveu o relato de Êxodo não tivesse a certeza da morte dele, mas, posteriormente, a notícia dessa morte tenha sido divulgada quando os egípcios ficaram sabendo de tudo o que ocorreu e a notícia se espalhou, o que permitiu a outros escritores bíblicos terem essa certeza e registrá-la.

(5) Dessa forma, em minha opinião, a Bíblia nos dá elementos suficientes para crer que Faraó tenha sim morrido na travessia do Mar Vermelho, junto com seu exército. Fato esse que Moisés não tinha certeza à época do seu registro de Êxodo (por isso não o registrou), mas que, depois, pode ser confirmada e registrada de forma clara pelo autor do Salmos 136.

[Por André Sanches]

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