quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Carta aberta aos subversivos de Jesus


Queridos amigos de indignação, paz!

Robinson Cavalcanti escreveu: "Um mundo novo é possível; uma igreja nova é imprescindível". Eis a ânsia que nos une. Resolvi escrever essa carta (e não a velocidade impessoal do e-mail e seu internetês) porque cartas despertam aquela nostalgia deliciosamente clássica que parece ter sumido dos nossos dias, também porque precisamos cada vez mais estarmos juntos. Nossa força vem do nosso abraço. Nossa unidade é o megafone que potencializa nosso grito.

Algumas pessoas insistem em questionar nosso criticismo (ao invés de questionar seu alvo), então respondo: criticamos não porque vivemos encarcerados numa espiritualidade azeda (ainda que alguns de nós assim estejam), mas porque somos parte do corpo (I Co. 12. 12-27), e o que dói no corpo afeta nossa alma. Criticamos porque não conseguimos olhar para o ambiente eclesiástico com uma irresponsabilidade tatuada de piedade e tolerância, mas sim com a inquietação aprendida do olhar de Jesus: "Vendo ele as multidões"; em Jesus, o olhar constrói.

Tenho percebido que nossas críticas produzem algumas feridas. Contudo, se Jesus Cristo é o "médico dos médicos", então, o melhor que temos a oferecer são justamente nossas feridas, principalmente quando são geradas pela adocicada fúria do amor: "Fiéis são as feridas feitas pelo que ama, mas os beijos do que odeia são enganosos" (Pv. 27. 6). Nossas feridas não matam, aliás, nem mesmo são feridas, são apenas paradoxos benditos: machucam para sarar.

Ouso fazer um apelo: amigos subversivos, jamais nos esqueçamos da essência da nossa subversão: a centralidade de Cristo acima das ideologias (II Co. 10. 5), a santidade de Deus (Is. 6. 1-7), a prática da oração (I Ts. 5. 17), a meditação nas Escrituras (Sl. 119. 101-106), o cuidado no discipulado que forma o caráter (II Tm. 2) e a afirmação da Cruz de Cristo (I Co. 1. 18). Esse é o nosso baluarte! Essa é a nossa gloriosa herança!

Por favor, meus amigos de gemido, nossa causa é a mais nobre de todas as causas: a luta pela regeneração da igreja! Não se trata de arrogância intelectualóide, mas de temor e tremor. Apenas captamos o chamado do Espírito e adestramos nossas fúrias, canalizando-as para a defesa fiel dos valores do Reino.

Aos empresários da fé, paipóstolos, malandros de púlpito, vagabundos da celestialidade bandida, um aviso: não vamos parar! O que nos une é a certeza feliz de que sempre tem alguém ouvindo e respondendo ao nosso grito!

Por uma igreja verdadeiramente Igreja...
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Por Alan Brizotti

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O palácio maravilhoso


Este post é dedicado àqueles que não decidiram se são pastores ou arquitetos, e ainda confundem templo com igreja.

Conta-se que o rei Hiamir chamou, certa vez, o seu digno ministro Idálio e disse-lhe:

– Quero fazer, ó vizir, uma longa e demorada excursão a uma das regiões mais longínquas do meu reino. Formei o desejo de visitar e percorrer o país de Tiapur, na fronteira. Estou informado, porém, de que essa província, sobre ser pobre e triste, é árida e sem conforto. Daqui partirás, pois, alguns meses antes de mim, levando os recursos que forem necessários. Logo que chegares a Tiapur mandarás, sem demora, construir um magnífico palácio, com largas varandas de marfim e pátios floridos. Nesse palácio ficarei hospedado, durante uma temporada, com tranqüilidade e conforto.

Respondeu o vizir, beijando a terra entre as mãos:

– Escuto e obedeço, ó rei, a vossa ordem estará sempre diante de meus olhos e de meu coração.

Cinco dias depois, uma poderosa caravana, sob a chefia do grão-vizir, partia da capital em demanda dos oásis verdejantes de Tiapur. Os numerosos camelos carregados de ouro e ricas alfaias deixavam sulcos bem fundos na areia branca do deserto. A fila era tão extensa que a caravana, ao parar, sob a inclemência do sol, parecia um arabesco escuro traçado no areal sem fim.

– Que vai fazer, tão longe, o vizir? – indagavam os beduínos. – Por Alá! Com que fim conduz ele tantas riquezas?

O chamir – guia da caravana – procurava saciar aquela sede de curiosidade, derramando uma torrente de indiscrições:

– O vizir vai construir, em Tiapur, um palácio maravilhoso para o rei! O palácio terá varandas de marfim e pátios cheios de flores! Uassalã!

A imensa caravana conduzia, realmente, entre os seus viajantes, o talentoso Benadin, o arquiteto de mais prestígio daquele tempo.

Ao chegar, porém, ao país de Tiapur, o vizir Idálio ficou desolado com o estado de pobreza e de abandono em que se achava a população. Encontrou, pelas estradas, crianças famélicas, nuas, que mendigavam tâmaras secas; em casebres de palha, centenas de infelizes, abatidos pelas febres, morriam de inanição; mulheres cobertas de andrajos, com os filhinhos nos braços, deixavam-se ficar, esquálidas, no pátio da velha mesquita, aguardando os pedaços de pão que eram ali atirados por beduínos supersticiosos.

Os quadros de miséria e sofrimento que se desenrolavam, a cada passo e a todo instante, torturavam o coração do poderoso ministro. E ele trouxera, por ordem do rei, mais de 30 mil dinares, que seriam gastos na construção de um grandioso palácio!

Que fez o vizir do rei?

Levado por um impulso irresistível de bondade, em vez de executar a ordem do poderoso soberano, deliberou gastar o dinheiro que trazia, beneficiando a infeliz população de Tiapur. Mandou, pois, construir abrigos para os desamparados; distribuiu víveres entre os mais necessitados; determinou que todos os enfermos fossem, sem demora, medicados; forneceu vestes aos que estavam nus e pão, em abundância, aos que padeciam fome. Por sua ordem foi construído um grande asilo para os órfãos; mandou, ainda, reformar a mesquita, que se achava quase em ruínas, e ao lado do velho templo fez erguer um magnífico hospital, onde recolheu os cegos e aleijados.

Ao fim de alguns meses, notava-se uma transformação completa da cidade. Os homens haviam voltado, cheios de entusiasmo, ao trabalho, e por toda parte reinava a alegria; as crianças brincavam nos pátios e as mulheres cantavam nas portas das tendas.

E do palácio maravilhoso, que o rei encomendara, nada existia...

Um dia, afinal, como já estava combinado, o rei Hiamir, acompanhado de grande escolta, deixou a bela cidade em que vivia para jornadear pelas terras fronteiriças de seu reino.

O vizir Idálio foi ao encontro do soberano e aguardou a chegada da régia caravana ao oásis de Cobo, que fica a três horas de jornada de Tiapur.

– Estou ansioso, ó vizir – exclamou o rei –, por admirar o belo monumento que aqui vieste construir! A fadiga da longa viagem convida-me ao repouso, mas só saberia descansar na varanda de marfim de meu belo palácio!

Quando o rei Hiamir chegou a Tiapur, foi recebido por uma indescritível manifestação de júbilo da população.

– Sinto-me feliz – confessou o monarca ao seu primeiro-ministro – por saber que sou sinceramente estimado pelos meus dedicados súditos. A satisfação com que todos aqui me recebem é um indizível conforto para o meu espírito.

E, muito intrigado, perguntou:

– Mas onde está, ó vizir, o palácio de Tiapur?

– Rei poderoso! – respondeu o vizir Idálio. – Antes de vos falar do palácio que aqui vim erguer, segundo vossa determinação expressa, tenho um pedido muito sério a fazer-vos. Segundo as vossas leis, aquele que desobedecer ao rei, praticando conscientemente um abuso de confiança, deve ser condenado à morte. Houve, ó rei, um homem de vossa confiança que praticou o grave delito da desobediência. Espera que determineis, sem demora, a execução do culpado.

– Quem é o acusado? – indagou o monarca. – Como se chama? Não é curial que exijas de mim sentença de morte contra um réu que desconheço!

– O criminoso sou eu, ó rei – respondeu o vizir.

E, sem ocultar aos olhos do soberano a menor parcela da verdade, descreveu, em poucas palavras, o estado deplorável em que encontrara o povo daquela terra. Falou do abandono em que se achavam os enfermos, das criancinhas famintas que mendigavam e da miséria inenarrável que torturava as pobres mães. E confessou, afinal, que ele, penalizado diante de tanto sofrimento, em vez de construir o palácio real, resolvera despender todos os recursos da caravana real em socorrer e mitigar a triste sorte da população.
E, ajoelhando-se aos pés do monarca, exclamou o bom vizir:

– Não cumpri, ó rei, como acabei de confessar, a ordem que me destes. Desobedeci ao meu amo e senhor! E aguardo, humilde, o castigo de que me fiz merecedor. Que seja contra mim lavrada a sentença de morte!

– Levanta-te! Dá-me a tua mão, meu amigo – ordenou, emocionado, o rei. – Não poderá pesar jamais sobre tua consciência a culpa da menor desobediência. O palácio, de cuja construção, em boa hora, foste por mim encarregado, acha-se construído com incomparável arte e invejável talento. E posso, deste lugar, abrangê-lo em suas linhas suntuosas, em seu conjunto soberbo; em sua cúpula radiosa e eterna.

E, erguendo o rosto como se fitasse algum monumento fantástico, exclamou, cheio de entusiasmo e comoção:

– Que palácio maravilhoso! Como é lindo e deslumbrante! Vejo as torres cintilantes nas fisionomias alegres das crianças que foram por ti socorridas; admiro as largas varandas de marfim no sorriso radiante dos meus súditos; reconheço os pátios floridos no olhar de gratidão das mães felizes! Como é majestoso e belo, ó vizir, o palácio que a tua bondade fez erguer nas terras de Tiapur! Alá seja exaltado!

Reparai, meu amigo! A verdade não deve ser ofuscada!

Grande fora, sem dúvida, o ministro Idálio, ao praticar, com risco de sua vida, aquele ato de caridade; maior, porém, demonstrara o rei ter sido ao aprovar imediatamente, com intensa alegria, a generosidade de seu vizir.

O palácio maravilhoso do rei Hiamir tinha os seus alicerces inabaláveis na terra; mas estendia suas torres deslumbrantes até o céu.


TAHAN, Malba. Os melhores contos. 23 ed.
Rio de Janeiro: Record, 2007. p.109-114.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Dizem por aí


Dizem por aí, que Deus é tão soberano, a ponto de excluir a liberdade humana para fazer o que propôs em Seu coração. Visto que não existiria amor sem liberdade, não me vejo a acreditar nestes pressupostos conceitos de “soberania”.

Dizem por aí, que incondicionalmente, Deus escolhe seus eleitos para vida eterna e outros para perdição. Visto que as condições impostas por Deus em toda Bíblia dão sempre opções de dois caminhos ao homem (obedecer ou desobedecer), não me vejo a acreditar neste suposto conceito de “incondicionalidade”.

Dizem por aí, que Deus é responsável por tudo que acontece de bom e de ruim. Visto que esse conceito irrevogável da responsabilidade de Deus o coloca culpado de tudo, não me vejo a acreditar neste fatalismo “muçulmano”.

Dizem por aí, que todos aqueles que disserem “sim” a um apelo de aceitar a Cristo como seu Salvador, terá sua morada garantida no céu. Visto que nem todos que dizem “sim” ao apelo passam realmente por uma metanóia, me vejo a não acreditar nestas supostas conversões em massa que temos visto em tempos modernos.

Dizem por aí, que Jesus Cristo foi apenas um grande homem iluminado. Visto que a transformação de minha vida se deu única e exclusivamente pelo poder de sua ressurreição, me vejo a acreditar que Jesus Cristo foi tanto um homem iluminado, como o Deus único e verdadeiro.

Dizem por aí, que "quem tem promessa não morre". Visto que o escritor aos hebreus salienta que “todos estes (os heróis da fé do AT), tendo sido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa”, me vejo a não acreditar nestes clichês dos pregadores atuais.

Dizem por aí, que "quem não faz barulho está com defeito de fabricação". Visto que não consigo enxergar o apóstolo Paulo, ou até mesmo Jesus, gritando, "sapateando" ou "marchando no poder", me vejo a acreditar que muitos pentecostais foram fabricados por pseudolíderes que apresentam distúrbios em suas exegeses bíblicas.

Dizem por aí, que dinheiro, fama e sucesso, são sinais da benção de Deus. Visto que Jesus foi pobre e não tinha onde reclinar a cabeça, me vejo a não acreditar nas supostas profecias destes profetas da famigerada teologia da prosperidade.

Dizem por aí, que se o Espírito Santo fosse retirado da igreja, 90% das atividades eclesiásticas iriam continuar a acontecer normalmente como se nada tivesse ocorrido. Visto que isso é algo estarrecedor, sou obrigado dar crédito a este dado, orando em todo tempo, para que tenhamos sensibilidade de perceber isso quando ocorrer em nossas vidas.

Tantas coisas dizem por aí, mas prefiro ficar com o Evangelho genuíno apresentado nas páginas das Escrituras.

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