segunda-feira, 29 de março de 2010

Páscoa


Estamos nos aproximando da Páscoa. Essa data nos recorda muitos chocolates. Mas seu verdadeiro significado não está no coelhinho nem nos chocolates.

Quando chegamos perto desta data tão festiva para os judeus, somos levados a relembrar daquelas intervenções divinas feitas por Yahweh no êxodo do Egito para uma terra que manava leite e mel.

Para nós, igreja hodierna, a Páscoa tem um significado parecido com a comemoração dos hebreus – libertos do mundo (Egito) para serem livres para Deus. E quando nos retratamos para esta data, a ressurreição de Cristo é o ápice de toda esta história. Uma manhã de domingo muda a história da humanidade.

Penso que se Cristo apenas morresse e não ressuscitasse, seus ensinamentos de nada valeriam. Seria apenas um mártir como Martin Luther King Jr., Mahatma Gandhi e outros que revolucionaram a história de suas nações. Mas como bem disse Paulo: “E, se Cristo não ressuscitou logo é vã a nossa pregação, e também é vã a nossa fé”.

Mas quando olhamos para aquilo que se transformou a Páscoa em nossos dias, fico perplexo como a mídia faz um chamariz para a venda de produtos que nada tem haver com aquilo que significa minha libertação de um mundo tenebroso. Na verdade, bem que a mídia tentou reproduzir esses seus simbolismos para dentro do cristianismo, mas infelizmente para eles (mídia), não colou. Esses símbolos nada reproduzem os mistérios do novo nascimento. Dizem que o ovo fala da existência da vida, que logo está intimamente ligado ao nascimento. Pura balela.

Já os coelhinhos, representam animais com capacidade de gerar grandes ninhadas; sua imagem simboliza a capacidade da Igreja de produzir novos discípulos constantemente.

Bem, se fosse essa a intenção da mídia em fazer esses paralelos, poderia até que surtisse algum efeito para o cristianismo. Mas a mensagem central do Evangelho de Cristo está sendo apagada por uma mentalidade brasileira, que tudo que vem de fora é acrescido a nossa cultura. Recebemos uns "enlatados" do exterior que se reflete até em nossas mensagens, sermões e pregações.

Portanto, voltemos logo à mensagem central do Calvário. Lembremos daquela manhã de domingo quando o sepulcro de Jesus já estava vazio. Lembremos daquelas palavras dos varões com roupas reluzentes às mulheres no sepulcro: “Por que buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou.”

quarta-feira, 24 de março de 2010

Estou no meu limite

Gosto da coragem com que o Pr. Ricardo expressa seus sentimentos e dilemas. Falta-nos, em tempos hodiernos, profetas como ele. O texto abaixo salienta aquilo que há de mais nebuloso em nossos arraiais e expressa o sentimento deste humilde editor do Reflexões do Reino.

"Sei que existem pessoas sérias entre os evangélicos. Estou consciente de que mais de sete mil profetas ainda não se dobraram a Baal. Não esqueço o nobre testemunho dos que me precederam na militância da fé. Mas sinceramente, não dá...

Não dá para ver o avanço de vigaristas e charlatões prometendo cura divina, prosperidade financeira, solução de problemas conjugais, em troca de ofertas. Não suporto assistir a três minutos de programa de rádio ou de televisão. Sinto náusea com a postura arrogante de falsos profetas que oscilam entre camelôs religiosos e doces professores de Bíblia.

Não dá para lidar com a falta de responsabilidade humana dos fundamentalistas que celebram desastres naturais como sinais inequívocos do pecado ou do fim do mundo. Não tenho mais estômago para ouvir professores de teologia, forjados em seminários de segunda linha, criticando livros que nunca leram ou teólogos que não conseguem citar duas obras. Tenho medo quando discursam na defesa da “reta doutrina”.

Não dá para lidar com a inveja de sacerdotes que voam como abutres à espera de que alguém tropece. O mundo evangélico está repleto de líderes que jamais conseguiriam sobreviver no mundo empresarial, mas vivem de condenar os outros. Preguiçosos e despreparados, adoram praticar tiro ao alvo. Incompetentes, carregam a marca de Caim. Os piores, mimetizam comportamentos moralistas, copiam afirmações heterodoxas e se especializam na defesa das tradições denominacionais.

Não dá para lidar com o ufanismo das falsas onipotências. Na corrida pelos primeiros lugares no Olimpo dos ungidos, sobram narcisistas. Não agüento as empreitadas mundiais, os projetos, as campanhas, que “vão mudar o mundo”. Esses falsos heróis instumentalizam o povo em nome de suas megalomanias. Usam e abusam da boa-fé de quem quer fazer alguma coisa pela humanidade. Só que os recursos doados com sacrifício acabam diluídos na máquina, sugados pela volúpia de poder e investidos em mais propaganda para alardear como são especiais.

Não dá para lidar com a repetição enfadonha de chavões. Cansam as frases prontas, os conceitos batidos e repetidos, que já não transmitem valor algum. A grande maioria dos púlpitos evangélicos é de uma mesmice estupidificante. Os hinos reciclam poesias gastas; os sermões começam e terminam com a promessa de bênção.

Já escrevi que andava cansado com o meio. Já pedi para não ser classificado como “evangélico”. Agora não sei mais o que dizer. Talvez precise continuar batendo na mesma tecla, não dá, não dá, não dá..."

quinta-feira, 18 de março de 2010

21 mil acessos


Glórias a Deus nas alturas!!!

O Blog Reflexões do Reino completou 2 aninhos na web e estamos profundamente felizes pela marca que atingimos neste fim de semana.

Chegamos a um score de 21 mil acessos. Essas visitas compreendem irmãos de todas as localidades do Brasil e do mundo – e o que iniciou como indignação ao sistema evangélico brasileiro, tornou-se um hobby prazeroso.

Salientamos a presença maciça dos portugueses, americanos, japoneses, alemães, angolanos, italianos, suíços, franceses, romenos e peruanos, encabeçando a lista dos 10 países que mais nos visitam por esse mundão a fora.

Tratamos dos assuntos mais diversos possíveis, passando pela política, mídia, religião e humor, fazendo sempre links com a espiritualidade cristã.

Neste mundo da blogosfera muitos amigos virtuais foram feitos e nos edificamos mutuamente com os blogs parceiros. Aprendi a lidar com a opinião contrária e principalmente respeitar os que não concordam com nossos posicionamentos.

Prêmios diversos foram recebidos em forma de selos carinhosos como prova de que nosso trabalho não tem sido vão diante do Senhor.

Vale ressaltar que o mundo da blogosfera é muito vasto e o Reflexões do Reino não tem intenção nenhuma de angariar acessos por competitividade, mesmo porque, 21 mil acessos é muito pouco levando em consideração os catedráticos blogueiros que conseguem em apenas um dia mais de mil visitas.

Somos apenas uma gotinha no oceano da blogosfera e isso já nos deixa motivados em contribuir para o Reino de Deus escrevendo e protestando contra as mazelas que acontecem no meio dos que se dizem cristãos.

Longe de mim apresentar-me para nosso leitor como um puritano, mas de uma coisa tenho certeza: Caráter não pode faltar. Talvez a imagem que passamos ao leitor que não nos conhece é de um rebelde agressivo, portanto, são somente impressões.

Amo meu Senhor Jesus o qual me redimiu e me deu vida, e quanto mais vejo as atrocidades que fazem com a igreja de meu Senhor, mais indignado fico, e as reflexões ficam sempre mais picantes e apimentadas.

Agradecemos a você, blogueiro, internauta, cristão ou não, que dispõe de seu tempo para caminhar lado a lado conosco sempre acompanhando nossa odisseia cristã em busca de um relacionamento mais sincero com o Autor da vida.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Ensaio sobre o Neopentecostalismo


Um historiador já afirmou que o poder não convive com o vácuo, mas com o vazio. Foi exatamente isso que ocorreu com a Igreja Evangélica Brasileira no fim dos anos 80 e início dos 90. O pentecostalismo explodia, seus templos se multiplicavam pelo país e atraiam verdadeiras multidões. Estavam colocadas as condições para o surgimento de uma nova liderança, voluntariosa, de homens prontos para fazer a obra do Senhor.

Alguns desses novos líderes haviam saído da Assembléia de Deus, tinham uma base sólida, pois haviam crescido através da oração. Mas entre eles também contavam-se homens que converteram-se há pouco, estavam fora e foram atraídos pelo crescimento extraordinário do Evangelho. Queriam fazer parte disso e aí decidiram criar seus próprios ministérios. Movimentos como a ADHONEP (Associação dos Homens de Negócio do Evangelho Pleno) serviram de plataforma para projetá-los. O aparecimento dessa nova liderança coincide com uma importante mudança ocorrida no fim dos anos 80. Até então havia uma concentração de fiéis nas classes menos favorecidas (C, D e E). Com o surgimento dos neopentecostais, o Evangelho começa a ter penetração também nas classes A e B.

Inicia-se aí um processo, por assim dizer, de elitização da fé. Essa mudança é sintomática, uma vez que a partir desse instante uma corrente doutrinária especial vai se tornando prevalente, cuja ênfase vai estar exatamente na bem-aventurança material do crente e na pregação do sucesso como intrínseco à condição de filho de Deus. Surgida na esteira do crescimento dos pentecostais, a nova liderança precisou disputar espaço com a estrutura tradicional de poder da Igreja Evangélica Brasileira. A velha liderança, contudo, não estava preparada para absorvê-la nem aceitar seus métodos. Via com desconfiança esses “crentes” vindos de fora, impactados pela mensagem do Evangelho, desejosos de por fogo no mundo, mas sem paciência para aprender. Sem se intimidar, os novos líderes não perderam tempo: iniciaram ministérios, abriram suas próprias igrejas e foram para a mídia. Assim teve início a ascensão meteórica dos neopentecostais.

O que, afinal, há de errado com essa nova liderança? Embora honestos em sua fé, seus representantes não se livraram dos vícios sincréticos da cultura brasileira. Daí seus ministérios serem sincréticos, com uma pregação também sincrética. Pentecostais no discurso, pregam parte das ênfases evangélicas, mas pagam tributo à herança católica e espírita populares. Carecem de ciência teológica para separar as coisas. Os que identificam no discurso neopentecostal a união espúria entre fé e superstição, denunciam como heréticos seus propagadores. Escandalizados, batem a porta na cara deles. E declaram: “Vamos parar por aí, isso já passou dos limites”. Os que assim agem falam a partir do conhecimento que possuem da história e da teologia da Igreja Evangélica Brasileira. O que os preocupa é menos a polêmica do que a integridade da fé; mais a defesa do Evangelho do que a prerrogativa de ser histórico.
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Talvez nenhum outro país tenha um caldo cultural tão complexo quanto o Brasil. Somos miscigenados. Uma raça que é todas e nenhuma. O efeito desse mosaico de traços culturais díspares revela-se mais fortemente em nossa religião, acentuadamente sincrética. Esta é uma constatação assustadora. No Brasil, afirma Ricardo Gondim, em seu livro O Evangelho da Nova Era, “negros, europeus e nativos deixaram de ser africanos, brancos e índios para assumirem simplesmente uma nova identidade”. E completa: “Se esta peculiaridade ajudou para que o Brasil tivesse uma só língua, uma só cozinha, contribuiu também para que nascesse uma religião nova, autenticamente nacional”.

O movimento neopentecostal se fortalece precisamente desse sincretismo religioso, desse ambiente indistinto, no qual as “verdades” não se excluem, antes se reforçam. Numa religião sincrética o Evangelho ganhará todos e nenhum sentido na boca de católicos, espíritas e evangélicos. É a fé a la carte! Todos os componentes místicos autênticos do Cristianismo como que se diluem, perdem sua força em contato com elementos espúrios que tem apelo menos à razão do que ao coração, capturam mais a imaginação do crente do que sua capacidade de pensar. A superstição toma o lugar da fé, o transcendente dá lugar ao esotérico, o espiritual confunde-se com o oculto. Entramos na esfera do sobrenatural, mas não necessariamente na presença de Deus.

Extraído do livro "É tempo de refletir" de Ariovaldo Ramos e Ricardo Bitún.

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