quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Fé e soberania de Deus


Recentemente terminei uma série de estudos na carta de Paulo aos Romanos. Como sempre acontece, a leitura de Romanos instigou o pensamento dos crentes, fazendo-os contemplar com maior clareza o Deus soberano que os salvou, bem como o modo como ele salva.

Um dos pontos de tensão na carta é a aparente dualidade entre a fé e a soberania de Deus, tanto que alguns escritores evangélicos, na tentativa de conciliar a fé (do homem) e a soberania (de Deus), acabam por optar pelo sinergismo, que é a crença de que o homem pode cooperar com Deus para a sua salvação. Definitivamente, não creio assim. Estou convencido de que a soberania de Deus não deixa nenhum espaço para a glorificação humana.

A aparente tensão somente surge quando ignoramos o fato de que a fé (do homem) é também a fé de Deus. Senão, vejamos:

Primeiramente devemos perceber que a fé é um dom de Deus. Isso está claro em passagens como Filipenses 1.29 (onde está escrito que a nós foi concedido crer), em Hebreus 12.2 (onde Cristo é o autor e consumador da nossa fé), e de um modo muito especial em Efésios 2.8, onde a salvação de graça e por meio da fé aparece claramente como um dom de Deus. Poderíamos ainda mencionar Pedro, quando este diz que Deus, por seu divino poder, nos concedeu “tudo que diz respeito à vida e a piedade” (2Pd 1.3) e também Tiago, quando afirma que toda “boa dádiva e dom perfeito vem de Deus” (Tg 1.17), mas creio que estas referências são suficientes.

O segundo ponto que quero aclarar é que a fé, sendo um dom de Deus, é irrevogável. Isso encontramos em Romanos 11.29, onde Paulo diz que “os dons de Deus e o seu chamado são irrevogáveis”. Sendo assim, podemos afirmar que um crente verdadeiro pode apresentar uma fé fraca ou forte, mas ele sempre terá fé. No entanto, não ignoro que alguns, tendo conhecido o evangelho, se distanciam, aparentando perder a fé. Estes, na realidade, apenas aparentavam fé, pois nunca a tiveram (1Jo 2.19).

Em terceiro lugar, gostaria de esclarecer que nem todas as pessoas possuem fé salvífica. Obviamente existe um tipo de fé comum a todos os homens, como a fé nos ídolos ou em si mesmos, mas nem todos possuem fé para a salvação. Paulo aos Tessalonicenses disse que “a fé não é de todos” (2Ts 3.2), e isso pode ser percebido também quando observamos ao nosso redor e fatalmente constatamos que nem todos se salvam. Ora, por alguma razão Deus decidiu não conceder a fé, que é um dom dEle, a todos os homens.

Agora, a razão porque Deus escolheu dar a fé a alguns homens não pode ser a bondade do próprio homem (pois assim a salvação seria por obras), nem mesmo algo intrínseco ao homem (porque neste caso a glória seria do homem). Por isso afirmamos que a única razão coerente porque Deus decidiu dar a fé a alguns homens é a sua livre vontade, ou soberania.

Nosso quarto ponto visa responder a seguinte pergunta: “Uma vez que a fé é um dom de Deus, irrevogável e não é de todos, então a quem Deus dá a fé?”. A resposta a esta pergunta é que somente os escolhidos de Deus terão fé. Veja, por exemplo, o modo como Paulo começa a escrever sua carta a Tito: “Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de Deus (...)” (Tt 1.1). Observe aqui que a fé é um presente de Deus aos que ele escolheu. Também Lucas, em Atos dos Apóstolos, narra que “creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna” (At 13.48). Somente aqueles que estavam ordenados para a vida eterna puderam crer.

A suma destas coisas é que, sabendo que a fé que o homem exerce é um dom de Deus, não convém repetir o já desgastado jargão “Salvação: Soberania de Deus; decisão sábia do homem”, uma vez que a salvação não é um projeto com participação humana, antes, é um projeto de Deus e uma decisão soberana de Deus que redundou em uma resposta humana. Também não devemos supor que nossa fé é a causa da eleição, pois primeiro foi a eleição (Ef 1.4), e depois veio a fé.


Por Leonardo Gonçalves do Blog Púlpito Cristão

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Engana que eu gosto


As culturas devem ser lidas nas linhas e entrelinhas. As linhas falam da coisa em si. As entrelinhas falam do espírito da coisa. As entrelinhas podem distorcer e até mesmo destruir o que está dito nas linhas.

Com a cultura cristã não é diferente. Veja o exemplo da assinatura da Igreja Universal do Reino de Deus, a saber, Jesus Cristo é o Senhor. De acordo com o Novo Testamento, isso significa que devemos viver como escravos dos propósitos de Jesus Cristo: ele manda e a gente obedece, ele propõe e a gente executa, ele dirige e a gente segue, pois afinal de contas, Ele é o Senhor. Mas na cultura da IURD, e de boa parte do movimento evangélico, as entrelinhas dessa afirmação fazem com que ela signifique que Jesus pode realizar todos os seus desejos, afinal de contas Ele é o Senhor. A relação fica invertida: você clama e ele responde, você reivindica e ele atende, você pede com fé e ele lhe dá o que foi pedido, você participa da corrente de oração e se submete aos 318 pastores e Jesus faz a sua vida próspera e confortável, pois Jesus Cristo é o Senhor e você é “filho do rei”, de modo que não há qualquer motivo para que você continue nessa vida miserável, daí a segunda convocação da IURD: “para de sofrer”.

Percebe como as linhas dizem uma coisa e as entrelinhas dizem outra?

O movimento evangélico é mestre em fazer confusão e promover distorção do Evangelho em virtude desse jogo de linhas e entrelinhas. Um exemplo disso é a mensagem VAI DAR TUDO CERTO, que recebi outro dia.

Eis a mensagem:

SALMO 22
VAI DAR TUDO CERTO

DEUS me pediu que te dissesse que tudo irá bem contigo a partir de agora. 
Você tem sido destinado para ser uma pessoa vitoriosa e conseguirá todos teus objetivos.
Nos dias que restam deste ano se dissiparão todas as tuas agonias e chegará à vitória. 
Esta manhã bati na porta do céu e DEUS me perguntou… 
’Filho, que posso fazer por você ?’ 
Respondi: 
’Pai, por favor, protege e bendiz a pessoa que está lendo esta mensagem’.
DEUS sorriu e confirmou: ‘Petição concedida’. 
Leia em voz baixa… 
’Senhor Jesus : 
Perdoa meus pecados. 
Amo-te muito, te necessito sempre, estás no mais profundo de meu coração, cobre com tua luz preciosa a minha família, minha casa, meu lugar, meu emprego, minhas finanças, meus sonhos, meus projetos e a meus amigos’. 
Passe esta oração a 5 pessoas, no mínimo. 
Receberás um milagre amanhã. 
Não o ignore.

Deus tem visto suas Lutas.
Deus diz que elas estão chegando ao fim.
Uma benção está vindo em sua direção.
Se você crê em Deus, por favor envie esta mensagem para 20 amigos.
Se acredita em Deus envia esta mensagem a 20 pessoas,
se rejeitar lembre Jesus disse:
“se me negas entre os homens, te negarei diante do pai” Dentro de 4 minutos te dirão uma notícia boa.

Deixo de lado a crítica gramatical e o péssimo uso da lingua portuguesa. Dedico minha atenção ao conteúdo da mensagem que, travestida de cristã, é absolutamente anti-cristã: mentirosa, fantasiosa, desprovida de qualquer sentido bíblico, desalinhada com o todo do ensino e experiência de Jesus, seus apóstolos, e seus primeiros seguidores, totalmente alinhada com os dircursos baratos da auto-ajuda e da enganação religiosa, enfim, uma versão barata e piedosinha da superstição sincrética do espiritualismo popular.

A afirmação “vai dar tudo certo”, lida de acordo com as linhas do Novo Testamento, significaria, por exemplo, que os propósitos de Deus prevalecerão, a marcha da igreja de Jesus Cristo contra os poderes do mal será vitoriosa, a vontade de Deus será um dia feita na terra como o céu. Mas também significaria que os seguidores de Jesus seriam sempre ovelhas em meio aos lobos [Mateus 10.16], odiados pelo sistema sócio-político-econômico anti-reino de Deus, ameaçados de morte, rejeitados, caluniados, e perseguidos por causa do nome de Jesus [Mateus 5.10-12], e passariam por muito sofrimento e tribulação antes de receberam a vitória plena no reino leterno de Deus [Atos 14.22]. Isto é, antes de dar tudo certo, daria tudo errado.

A convicção de que “em Cristo somos mais que vencedores” [Romanos 8.37], e que “em Cristo Deus sempre nos conduz em triunfo” [2Coríntios 2.14], é também acompanhada de uma profunda compreensão a respeito dos custos de se colocar ao lado de Deus e do reino de Deus, em oposição à injustiça e aos agentes promotores e mantenedores da morte no mundo: ”Porque me parece que Deus nos colocou a nós, os apóstolos, em último lugar, como condenados à morte. Viemos a ser um espetáculo para o mundo, tanto diante de anjos como de homens. Nós somos loucos por causa de Cristo, mas vocês são sensatos em Cristo! Nós somos fracos, mas vocês são fortes! Vocês são respeitados, mas nós somos desprezados! Até agora estamos passando fome, sede e necessidade de roupas, estamos sendo tratados brutalmente, não temos residência certa e trabalhamos arduamente com nossas próprias mãos. Quando somos amaldiçoados, abençoamos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, respondemos amavelmente. Até agora nos tornamos a escória da terra, o lixo do mundo” 
[1Coríntios 4.9-13].

Fica, portanto, muito evidente que quando os cristãos do Novo Testamento diziam que “vai dar tudo certo” estavam afirmando coisas completamente diferentes dessas afirmadas na mensagem que recebi pela internet, que diz:

”Tudo irá bem contigo a partir de agora”; “Você tem sido destinado para ser uma pessoa vitoriosa e conseguirá todos teus objetivos”; “Nos dias que restam deste ano se dissiparão todas as tuas agonias e chegará à vitória”; “Cobre com tua luz preciosa a minha família, minha casa, meu lugar, meu emprego, minhas finanças, meus sonhos, meus projetos e a meus amigos”; “Receberás um milagre amanhã”; “Uma benção está vindo em sua direção”; “Dentro de 4 minutos te dirão uma notícia boa”.

Meu amigo, minha amiga, não é verdade que “tudo irá bem contigo a partir de agora”, e também não é verdade que “você tem sido destinado para ser uma pessoa vitoriosa e conseguirá todos teus objetivos”. Não se iluda, pois não é verdade que “nos dias que restam deste ano se dissiparão todas as tuas agonias e chegará à vitória”. Preste atenção: o compromisso cristão não suplica que Deus cubra com sua luz “minha família, minha casa, meu lugar, meu emprego, minhas finanças, meus sonhos, meus projetos e a meus amigos”. Na verdade, o compromisso cristão exige que você deixe de viver para seus sonhos, seus planos e seus projetos e passe a viver para Deus, pois, como ensina a Bíblia, “o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou“ [2Coríntios 5.14,15], e justamente por isso é que quem deseja seguir a Jesus deve lmebrar o que Jesus disse:

”Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, a encontrará. Pois, que adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o homem poderá dar em troca de sua alma?” [Mateus 16.24-26].

Também não é verdade que “receberás um milagre amanhã” e que “dentro de quatro minutos te dirão uma notícia boa”.

Pelo amor de Deus, jogue fora esse evangelho açucarado, que promete o que Deus jamais prometeu, e gera falsas esperanças nas pessoas. Respeite o sofrimento e a dor das milhares de pessoas que, apesar de sua fé, e talvez justamente por causa de sua fé, passam fome, não têm mínimas condições de sobrevivência, sofrem as consequências de tragédias pessoais e fatalidades naturais, são vítimas de um sistema político e econômico cruel, que as condena à escravidão e a uma vida sem futuro. Lembre dos cristãos que vivem na África, na Índia, na América Latina, e nos rincões miseráveis do Brasil. Seja solidário com as minorias: os negros escravizados, as mulheres violentadas, as crianças abusadas, as populações indígenas dizimadas, os refugiados de guerra, os perseguidos políticos, os desaparecidos. Respeite a grandeza dos cristãos perseguidos e mortos sob a tirania do fundamentalismo terrorista islâmico (diferente do Islã) e dos regimes políticos ateístas. Pense um pouco se essa mensagem “vai dar tudo certo, todos os seus sonhos se realizarão, você vai receber um milagre amanhã” faz algum sentido na ala infantil do Hospital do Câncer, no campo de refugiados (mutilados) de Angola, ou nos casebres secos do sertão brasileiro.

Construa sua fé sobre um alicerce mais sólido. Por exemplo, o Salmo 22, aviltado com essa mensagenzinha “vai dar tudo certo”. Aliás, é bom lembrar que Bíblia não é um livro que pode ser manuseado por qualquer pessoa, de qualquer jeito. Da mesma maneira que não é qualquer pessoa que pode dar palpite a respeito do direito, de medicina, da engenharia, ou do marketing, também a teologia exige um mínimo de preparo, senão, muito preparo mesmo. Digo isso porque talvez o autor dessa mensagenzinha não saiba que o Salmo 22 é um dos Salmos messiânicos, que profetiza o sofrimento e o fracasso do Messias, que foi (1) abandonado por Deus e pelos homens [Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? Por que estás tão longe de salvar-me, tão longe dos meus gritos de angústia? Meu Deus! Eu clamo de dia, mas não respondes; de noite, e não recebo alívio! Não fiques distante de mim, pois a angústia está perto e não há ninguém que me socorra], (2) rejeitado [Mas eu sou verme, e não homem, motivo de zombaria e objeto de desprezo do povo], (3) insultado [Caçoam de mim todos os que me vêem; balançando a cabeça, lançam insultos contra mim], (4) dilacerado pela dor que lhe foi brutalmente imposta [Como água me derramei, e todos os meus ossos estão desconjuntados. Meu coração se tornou como cera; derreteu-se no meu íntimo. Meu vigor secou-se como um caco de barro, e a minha língua gruda no céu da boca; deixaste-me no pó, à beira da morte. Cães me rodearam! Um bando de homens maus me cercou! Perfuraram minhas mãos e meus pés], e por fim (5) cuspido na cara e crucificado como impostor.

Para esse Messias não deu nada certo. Ele não recebeu uma boa notícia quatro minutos após sua agonia no Getsêmani, e também não recebeu um milagre no dia seguinte. No dia seguinte foi crucificado.

Mas esse Messias, apresentado pelo profeta como “homem de dores, que sabe o que é padecer” [Isaías 53], “Deus exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” [Filipenses 2.9-11]. Isso sim é dar tudo certo.
Provavelmente alguém vai dizer que é isso o que a mensagenzinha quis dizer. Mas não foi. Nas linhas, pode ter sido. Mas no contexto da religiosidade popular e da subcultura evangélica, a mensagenzinha sugeriu que “os seus sonhos e os seus projetos” darão certo, e que você pode esperar para amanhã aquela resposta milagrosa de Deus para resolver seus problemas e dificuldades particulares, e que em quatro minutos você vai receber uma notícia boa, muito provavelmente trazendo a você uma benção na forma de conforto e prosperidade.

Em síntese, a mensagenzinha pode ser interessante, pode trazer uma esperança e um conforto para quem está lutando contra um sofrimento ou uma dificuldade medonha, e pode até mesmo trazer um alívio do tipo “eu sei que não é bem assim, mas é bom pensar que é, ou acreditar que pode ser”. Mas definitivamente essa mensagenzinha não tem nada a ver com o Evangelho de Jesus Cristo.
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Por Ed René Kivitz

Ensaio sobre uma queda


Ted Haggard era até semana passada pastor principal da New Life Church, uma mega-igreja com 14 mil membros e dezenas de ramificações sediada em Colorado Springs. Um dos evangélicos mais influentes dos Estados Unidos, Haggard era presidente da Associação Evangélica Norte-Americana (que reúne 45.000 igrejas e 30 milhões de membros) e tinha encontros semanais com o presidente Bush e outros oficiais da Casa Branca. Ted Haggard era porta-voz exemplar dos valores associados aos evangélicos tradicionais, defendendo por exemplo o criacionismo contra ateístas articulados e ativistas como Richard Dawkins, e participando ativamente da campanha para limitar os direitos dos homossexuais no seu estado.

Na quinta-feira Haggard afastou-se voluntariamente de seus cargos na igreja e na Associação Evangélica, a partir de uma acusação de envolvimento com drogas e prostituição. Um sujeito chamado Mike Jones, ex-prostituto homossexual, alegara numa entrevista que durante três anos tinha vendido acesso a seu corpo e à droga meth a um homem que descobriu mais tarde, assistindo televisão, ser o pastor Haggard.

Mike Jones, que se afirma cristão, disse que o que motivou a vir a público com a sua denúncia foi descobrir que Ted Haggard e sua igreja apoiavam ativamente a proposta para tornar ilegal no Colorado o casamento de homossexuais. “Chorei muitas noites, em dúvida sobre se deveria fazer isso… mas concluí que era a coisa certa a se fazer”. Segundo Jones ele e Haggard viam-se cerca de uma vez por mês, e o pastor pagava 200 dólares em dinheiro por uma sessão de menos de uma hora. “Não era emocional”, garante Jones. “Era coisa física, estritamente física”. Jones afirmava ainda ter gravações “reveladoras” da voz de Haggard tiradas da sua secretária eletrônica.

A primeira reação de Haggard foi negar por completo as acusações. “Nunca tive um relacionamento homossexual com quem quer que seja. Estou firme com a minha esposa. Sou fiel à minha esposa,” disse Haggard, que é casado e tem cinco filhos. Perguntado se conhecia seu acusador, Mike Jones, garantiu que não, explicando ainda que afastara-se temporariamente do pastorado porque não podia “continuar a ministrar debaixo da nuvem criada pelas acusações feitas na entrevista de rádio desta manhã”.

No dia seguinte Haggard viu-se forçado a modificar sua versão. Ele agora admitia ter recebido uma massagem do homem que o acusava, mas negava ter mantido relações sexuais com ele; confessava ter comprado metanfetamina, mas “tinha comprado por curiosidade e jogado fora”. Para acreditar nessa versão era preciso mais fé do que na primeira, mas os membros da New Life Church estavam ali para fornecer esse improvável apoio. “A reação na igreja foi de tristeza e surpresa”, disse um dos pastores associados, “mas acreditamos nele. Estamos do lado dele”.

No sábado, no entanto, o corpo administrativo da igreja decidiu pela exclusão definitiva de Haggard, porque uma investigação interna havia “provado sem qualquer dúvida que o pastor Haggard cometeu conduta sexual imoral”.

Um trecho da declaração:

"O texto do estatuto da nossa igreja afirma que na qualidade de supervisores devemos decidir, em casos em que o pastor principal demonstrou “conduta imoral”, se devemos “afastar o pastor de sua posição ou discipliná-lo do modo como acharmos necessário”.
Em consulta com líderes evangélicos e especialistas no tipo de comportamento demonstrado pelo pastor Haggard, decidimos que a medida mais positiva e produtiva para nossa igreja é sua dispensa e remoção (dismissal and removal)."

Finalmente, pressionado por todos os lados e três dias depois da acusação inicial, Haggard admitiu, numa carta lida para sua congregação no domingo de manhã, ser culpado de “imoralidade sexual” e de ter cedido aos impulsos “sombrios e repulsivos” (dark and repulsive) que o “perseguiram durante toda a vida”.

Trechos da carta:

"Por longos períodos eu conseguia desfrutar da vitória e regozijar-me na liberdade. Mas periodicamente a sujeira de que eu pensava ter me livrado voltava à superfície, e eu me pegava acalentando idéias e experimentando desejos contrários a tudo que eu cria e ensinava.
As acusações feitas contra mim não são todas verdadeiras, mas uma porção suficiente delas é verdadeira para justificar que eu tenha sido afastado."

* * *

Ted Haggard não é o primeiro pastor evangélico envolvido num escândalo sexual extra-marital, mas é certamente o primeiro do seu porte a ser pressionado a admitir uma transgressão que é tida nesse meio como particularmente abominável e sórdida, a relação sexual entre homens.

O que acho revelador neste caso é que no fim das contas, para si mesmo e para seus pares, a transgressão essencial de Haggard foi mesmo ter cedido a uma “conduta sexual imoral”. Qualquer outra eventual falha de caráter não é para comparar com a enormidade dessa baixeza, e é manifestamente por causa dela que o corpo administrativo da igreja viu-se forçado a remover do cargo o seu pastor. As verdadeiras falhas morais, fica implícito nessa reação coreografada, são todas da carne, e devemos orar no sentido de ver restaurada a castidade do pastor.

Essa linguagem supostamente piedosa só serve como cortina de fumaça para encobrir a verdade, que o pecado essencial de Haggard não foi – e nunca é – sexual.

Os cristãos podem ostentar um longo currículo de glorificação do sexo via sua demonização, mas não era assim no tempo e na ótica de Jesus. É natural que Jesus não ignorava o terrível potencial do sexo para promover o rompimento de relações entre gente que deveria se amar e respeitar; no seu tempo o emblema mais evidente desse potencial estava no adultério.

A diferença está em que Jesus não escolhia ignorar, como fazemos, que a imoralidade sexual (entendida como qualquer desejo ou conduta sexual que acaba promovendo alguma ruptura num relacionamento que deveria se caracterizar pela integridade) é coisa tão generalizada que se formos julgados ou julgar por ela não restará um sequer para continuar tocando o barco.

Para começar, Jesus minou nossas mais queridas seguranças quando opinou que sexo na cabeça é indistinguível do sexo no corpo: basta desejar uma mulher para ter adulterado com ela “no coração”. Jesus não estava com isso sustentando a ilusão de que com alguma disciplina nossas cabeças podem viver livres de imoralidade sexual; ele queria demonstrar o contrário, que os mais castos na carne permanecem ainda culpados dela.

Para Jesus, que não tinha aparentemente as nossas ilusões, a imoralidade sexual é coisa generalizada: um homem não vai pagar um prostituto apenas por uma massagem, e uma mulher não vai tirar água do poço fora de hora se não tiver mais do que um marido para esconder. O espírito pode estar muito vivo e bem-disposto, mas a carne não está morta. Numa das passagens mais esclarecedoras da sua postura a respeito do assunto, Jesus pede aos fariseus que estão “sem pecado” que atirem a primeira pedra numa mulher apanhada em adultério. Tremendamente mais honestos do que nós, os desafiados afastam-se um a um, dos mais velhos aos mais jovens. A coragem e honestidade desses homens fica enfatizada na confissão tácita, devido à peculiaridade da circunstância, de que seu pecado também era de natureza sexual. Os fariseus daquela época eram – pasme-se – menos fariseus do que nós.

Finalmente, quando todos os acusadores partem sentindo-se culpados e deixando em paz a mulher adúltera, Jesus exibe uma postura inesperada e maravilhosa, que os cristãos de todas as épocas têm encontrado a maior dificuldade para engolir. O Filho do Homem rejeita a solução simples que seria dizer “Eu te perdôo” antes de concluir com o conhecido “Vá e não peques mais”.

Embora reconheça a pisada de bola da mulher e recomende que ela não caia mais nessa roubada, o que Jesus diz a respeito da conduta da adúltera é – surpreendentemente, terrivelmente, inconcebivelmente – “Eu também não te condeno”.

O termo grego para condenar pode ser traduzido intercambiavelmente como “julgar”. A postura de Jesus nessa passagem pode ser então reconstruída da seguinte forma: “como vejo que o pecado sexual é coisa tão generalizada e inescapável (‘onde estão os que te acusavam?’), recuso-me a julgar você a partir dela. Agora me deixe em paz escrevendo na areia antes que eu perca o fio da meada. E não me faça mais isso”.

A posição de Jesus a respeito da imoralidade sexual é essencialmente essa: eu não condeno você. Há naturalmente o adendo, “não faça mais isso”, mas esse condição só se torna ao mesmo tempo concebível e atraente quando você absorve a manignanimidade da postura inicial. Esse sujeito saca qual é a minha e mesmo assim não me rejeita. Ele conhece meus impulsos e atos mais “repulsivos e sombrios”, e só pede que eu não ceda a eles por amor à minha integridade, e com a autoridade singular de quem não me condena por eles.

Enquanto isso vejo as imagens de arquivo da congregação da New Life Church chorando diante da leitura da carta em que Ted Haggard confessa sua imoralidade sexual. Nosso grande e querido líder caiu na carne e da forma mais grotesca, é o que sentem e lamentam os membros daquela igreja, convidando-nos assim a sentir e lamentar o mesmo. Porém se choramos por essa razão pré-codificada demonstramos não ter uma sombra da maturidade de Jesus, que sabia que o teor da carta de Haggard poderia permanecer inalterado e se aplicaria ainda assim a todos e a qualquer um. Qualquer membro da New Life Church, qualquer cristão de qualquer época; eu, meu pai, minhas irmãs, todos os papas, Billy Graham, Madre Teresa, Martin Luther King ou Martinho Lutero. Não há um santo sequer, não há um com a ficha limpa em atos e intenções. Deveríamos estar chorando a nossa própria incongruência, e não celebrando com nossas lágrimas a captura de mais um conveniente bode expiatório, em quem projetávamos a santidade que sabemos não ter.

Ainda mais revelador nas lágrimas da New Life Church diante dessa confissão de “imoralidade sexual” é que elas comprovam que os membros da igreja ansiavam por um líder que se definisse essencialmente pela sua castidade – dito de outra forma, ansiavam por um líder espiritual que se definisse pelo sexo. Eles não estariam chorando da mesma forma se Haggard tivesse sido apanhado meramente roubando um banco, transando drogas ou contratando um hitman para apagar Richard Dawkins. Uma igreja obcecada por sexo: é o que dois mil anos de cristianismo conseguiram produzir. Você, caro pastor, precisa ser dispensado e removido da nossa presença por não se mostrar à altura dos padrões que ninguém consegue seguir, mas pelos quais fingimos nos definir. Que venha outro que tenha a decência de manter seus impulsos no campo da intenção.

* * *

Eu não condeno você, é o que Jesus teria dito a Ted Haggard.

Não por isso, pelo menos.

Porque o mesmo Jesus que acolhia com paciência prostitutas, adúlteros e reincidentes (setenta vezes sete, e contando) não demonstrava um mínimo de compaixão diante de quem se rebaixava à hipocrisia. Da inconsistência sexual aparentemente ninguém escapa, mas cometer hipocrisia é que era para Jesus pecado particularmente abominável, o impulso “sombrio e repulsivo” por excelência. Ele reservava todo um repertório de imprecações (ninhada de víboras, impostores, carne em decomposição dentro de sepulturas bem pintadas) para condenar (agora sim) os que se alardeavam como santos e exigiam dos outros a postura que não sustentavam nem mesmo para si.

Ai de vós também, intérpretes da Lei! Porque sobrecarregais os homens com fardos superiores às suas forças, mas vós mesmos nem com um dedo os tocais.
Lucas 11:46

O Senhor, porém, lhe disse: Vós, fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e perversidade.
Lucas 11:39

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando!
Mateus 23:13

Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.
Mateus 15:7-9

Guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo!
Mateus 23:24

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia!
Mateus 23:27

Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.
Mateus 7:1-5

E castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes.
Mateus 24:51

A queda de Haggard deixou expostas não apenas a fragilidade do discurso evangélico, mas as engrenagens do mais essencial mecanismo psicanalítico: no campo sexual, sentimo-nos estranhamente atraídos e vivemos paradoxalmente obcecados por aquilo que passamos a vida condenando. Talvez seja por isso que a sentença eu-não-condeno-você de Jesus seja tão excepcionalmente rara: porque para proferi-la sem que seja só da boca para fora (e no meu caso é naturalmente apenas da boca para fora) é preciso que o sujeito não tenha ele mesmo nenhuma neura sexual.

O pecado que Haggard e seus amigos deveriam estar lamentando não é a imoralidade sexual, pela qual Jesus recusou-se a julgar, mas a hipocrisia, que ele não se cansava de denunciar. Concentrar nossa atenção no aspecto sexual da transgressão é mero artifício a fim de sustentar a farsa que a conduta insuficiente de Haggard ameaçou por um momento derrubar. Alguém coloque outro depressa no lugar: preciso de um homem para idealizar, e é pra agora.

A grande mancada de Ted Haggard foi a segunda. Não está em ter cometido a gafe de ser apanhado no que outros tomam maiores cuidados para não trazer a público, mas em recusar-se a encarar e expor a extensão da sua hipocrisia e da nossa.

A transgressão que deveria estar sendo exposta e chorada neste momento é a única que tirava do sério o homem que afirmamos seguir: a hipocrisia religiosa. A hipocrisia é uma forma brutal de incredulidade, de tirania e de rebelião. Hipócrita é quem vive gastando recursos para sustentar uma ilusão, porque prefere de longe esse terrível investimento a ter de enfrentar a realidade da sua insuficiência e contradição essencial. É pagar a máscara de sanidade para não ter de encarar a necessidade de recorrer ao médico. É desclassificar os outros por aquilo que nós mesmos não somos capazes de resolver. É projetar sobre os outros a culpa que é essencialmente nossa.

Jesus era conhecido por congraçar-se com pecadores e prostitutas; Ted Haggard, por outro lado, nunca mais será visto entre homossexuais, mesmo que já tenha descoberto que não precisava pagar para desfrutar da companhia deles.
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Extraído da Bacia das Almas
Por Paulo Brabo

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Quando o pensar ameaça


A igreja tem medo de pensar. A verdade assusta. Muitos são os que amam a ignorância porque não querem assumir as consequências do pensar. Muitos sofrem da síndrome do presídio: o medo da liberdade - por viver tantos anos preso o indivíduo, uma vez liberto, cometerá outro crime só para voltar ao único mundo que conhece - o mundo das regras e punições.

Esse tipo de fobia é o prato predileto dos políticos, dos coronéis sagrados, dos mini-Hitlers da fé, de todos que detém poder sobre a massa. É muito mais fácil governar uma massa burra, uma massa de manipulação garantida. Quando a massa pensa também ameaça.

O nível de leitura do evangélico brasileiro é horroroso. Sua teologia é tão vulnerável quanto seu compromisso. O nome da hora é confusão: o que somos? Protestantes, evangélicos, cristãos, crentes, gospel? Nossa (in)definição é tão turva quanto nossas (in)certezas. A coqueluche da prosperidade é só um efeito colateral da burrice gospel aliada à malandragem tupiniquim.

Faça um teste: coloque um cartaz bem grande na frente de sua igreja com os seguintes dizeres: "Campanha do pensamento teológico no mês da Reforma". O que você acha que acontecerá? Parece que vejo alguém perguntando: "Ih! O pastor já vai fazer outra reforma no templo?" Pensar dói...

R. A. Torrey disse: "Uma teologia frouxa leva a uma moralidade igualmente frouxa". Esse é o retrato do que se chama "evangélico" hoje. Como pode indivíduos charlatães se proliferarem como praga nas igrejas e isso ser normal? Como pode programas de tv absurdamente mercenários serem vistos por uma miríade de pessoas que ainda ajudam finaceiramente essa fábricas de ilusões? Como pode um pregador à lá Silvio Santos empobrecido levar plateias ao delírio? Como?

Pensar ameaça. Quem pensa é condenado à solidão. Ao ostracismo (que, convenhamos, dependendo da igreja, é uma bênção). Quem pensa incomoda, "puxa o tapete" dos "Ali Babás e seus milhares de ladrões". Quem pensa desespera os "irmãos metralhas" da celestialidade bandida. Pensar é uma arma de grosso calibre deflagrando cápsulas de realidade na cara feia dos magos do poder.

Pense!
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Por Alan Brizotti

domingo, 5 de dezembro de 2010

O Fluminense é tricampeão, e o Nelson Rodrigues já sabia

Foi suado, foi sofrido, mas o Brasil tem um novo velho campeão:
O Fluminense reencontra sua vocação e se reconcilia com o verbo “conquistar”, cultivado em suas veias, desde o berço.

“Ninguém conquista um título num único dia, numa única tarde. Não… Um título é todo sangue, todo suor e todo lágrimas de um campeonato inteiro.”

As palavras do gênio Nelson Rodrigues poderiam ter sido escritas há pouco, mas foram em 1969, após uma vitória épica num Fla-Flu.

Quarenta e um anos depois, o Fluminense reedita o “Profeta Tricolor”: foi, de longe, o time que mais liderou o campeonato, 23 rodadas.

Venceu com o verde da esperança, contra um Guarani surpreendentemente aplicado. Venceu com o sangue do encarnado, com gol difícil, vitória mínima, de importância máxima.

E sobretudo venceu não em uma, não em duas batalhas, mas em 38. Superou traumas recentes, perdeu sua casa, revestiu-se de coragem e resgatou sua glória.

Este Fluminense, “time de guerreiros”, primeiro e genuíno, que virou modelo para outros, germinado pelas mãos de Cuca, crescido saudável nos braços de Muricy.

Que nem sempre brilhou qual luz de um refletor, mas que fascina pela sua disciplina.
Que encanta pelo carisma e magia de Conca, genial e humilde argentino, eternizado no país de Pelé.

Que recheado de astros nem sempre presentes, sobreviveu e triunfou pela força de todos, pela união de um grupo, pela cartilha das Sandálias da Humildade.

Que deu à sua linda, gigantesca e apaixonada torcida o que ela merecia há tempos:
A clareza absoluta de que todo o sofrimento valeu a pena. A certeza de que fariam tudo de novo, apenas por este momento de êxtase.

“Vivos e mortos subiram as rampas. Os vivos saíram de suas casas… E os mortos de suas tumbas.”

As futuras gerações vão saber: em 5 de dezembro de 2010, num Engenhão engalanado, vivos e mortos saborearam o triunfo. E conheceram o mais nobre dos sentimentos: o amor, aquele que não se explica; apenas se sente.

Salve o querido pavilhão, das três cores que traduzem o tricampeão.
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Nelson Rodrigues, em 1969:

“Acreditem…

O Fluminense começou a ser campeão muito antes. Sim… Quando saiu do caos para a liderança. Do caos para a liderança, repito…
Foi a nossa viagem maravilhosa. Lembro-me do primeiro domingo em que ficamos sozinhos na ponta. As esquinas e os botecos faziam a piada cruel: “líder por uma semana….”
Daí pra frente, o Fluminense era sempre o líder por uma semana…”
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Por José Ilan

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Instituição igreja x Igreja de Cristo

Em mais uma de suas palestras brilhantes, Ed René Kivitz mostra de uma forma singela e verdadeira, alguns equívocos que cometemos quando achamos que a instituição igreja é a mesma coisa que Igreja como Corpo Vivo de Cristo.

Assita o vídeo e tire suas conclusões. Não esqueça de ver as outras duas partes do vídeo. Em breve, articularemos uma série de postagens a respeito deste tema.

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