sexta-feira, 29 de maio de 2009

A humildade


Sobre a humildade, concordo com André Comte-Sponville: “Não é a ignorância do que somos, mas, ao contrário, conhecimento, ou reconhecimento de tudo o que não somos”. É a admissão de que cheguei onde estou sem gabar-me: “sou o que sou pela graça”.

Quando penso em humildade, acompanho Dwight Moody: “O homem pode demonstrar um falso amor, uma falsa fé, uma falsa esperança e outras graças, mas jamais poderá simular humildade”. Também concordo com Stanley Jones: “A essência do divino é a humildade. O primeiro passo para encontrar a Deus é destruir nosso orgulho”.

A humildade não sobrevive sem que se aniquilem as falsas onipotências. O petulante não admite fragilidades, não reconhece limites, não aceita inadequações. O soberbo se embrutece porque é insaciável. Apropria-se da pergunta do poeta: “Por que não é infinito o poder humano, como o desejo?” Dionisíaco, atropela quem estiver na frente. Odeia ser frustrado.
Spinoza dizia que “a humildade é uma tristeza nascida do fato de o homem considerar sua impotência ou sua fraqueza”. Nietzsche bateu o martelo: “Conheço-me demais para me glorificar do que quer que seja”. E Comte-Sponville conclui: “O que é mais ridículo do que bancar o super-homem?... A humildade é o ateísmo na primeira pessoa: o homem humilde é ateu de si, como o não-crente o é de Deus”.

A humildade e a gratidão necessitam uma da outra. O humilde sabe que não se fez; não é o self-made man, que se recusa a reconhecer os que lhe ajudaram nos primeiros degraus. Sente-se devedor dos pais que se sacrificaram para que estudasse, dos professores que lhe incutiram valores, dos amigos que nunca censuraram na vergonha, dos poetas que traduziram beleza, dos profetas que lhe falaram em nome de Deus. Nos solilóquios, repete: “Não sou a causa de mim mesmo; vejo nos outros a raiz da minha alegria; celebro o meu presente como um dom".

A humildade é esvaziamento. O prepotente não consegue amar. Só quem abre mão dos controles sabe deixar-se invadir pela compaixão.
Simone Weil afirmou que “o amor consente tudo e só comanda os que consentem em ser comandados”. Amor é renúncia. Não existe a possibilidade de coerção e amor se misturarem. O pretensioso é inflexível, impaciente e estúpido. O humilde recua, na recusa de exercer força, poder, violência.

A humildade é demasiadamente discreta. Se pretendo, um dia, ser humilde ninguém pode perceber. Mas, espero aprender a não cobiçar a divindade.
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Por Ricardo Gondim

Arte subversiva

Rob Bell irá contar para você seu estilo não ortodoxo. Ele implantou uma igreja pregando sobre Levíticos. Seus ensinamentos são uma mistura de imagens, histórias pessoais e exegeses, além de algumas perspectivas que você provavelmente nunca ouviu na igreja. A mensagem, entretanto, é ortodoxa, bíblica e bem informada pela história. O pacote inteiro, Bell diz, é subversivo. Como Jesus.

Seja lá o que for, funciona. Atinge multidões totalizando 10 mil pessoas, a maioria nos finais de semana em Mars Hill Bible Church, em Grandville, Michigan, nos EUA, a igreja que Bell fundou há cinco anos atrás. Atinge estudantes na sua alma mater, a Universidade de Wheaton, e líderes da Igreja Emergente em conferências nacionais, onde Bell é apto a ensinar usando uma grande cadeira, um xale judeu, ou uma cabra viva. “Animais, o que seja. O que seja, leve.”, ele diz. “Sem regras”. Nos últimos dias ele tem falado muito sobre rabinos.

Ed Dobson fala sobre Bell: “Rob é dirigido pela paixão de ensinar a Bíblia, marcado por entender o livro sagrado no seu contexto, aplicando a Palavra onde as pessoas vivem.” Foi com Dobson, na Calvary Church, em Grand Rapid, que Bell serviu como pastor associado por três anos antes da igreja dar apoio ao lançamento da congregação pós-moderna de Bell. Hoje, Bell também lidera o Nooma (pense pneuma), um ministério que produz pequenos vídeos dramáticos das palavras de Bell, com o estilo da MTV, entre ruas de cidades, aeroportos e florestas (www.nooma.com).

Nossa conversa com ele vai de tópico a tópico (“Meus amigos me dizem que sou um caso clássico de Déficit de Atenção. Isso, lógico, já era óbvio”, ele diz). Mas em meio a pensamentos aparentemente fortuitos e perseguições de rabinos, Bell faz uma observação. Ele é intencional na exploração da pregação para alertar sua geração do real, histórico, presente e revolucionário Cristo.

Cristianismo hoje: Como você se interessou pelos ensinamentos rabínicos?

Rob Bell: Eu tenho um casal de amigos judeus que se tornaram cristãos. Eles sempre prosseguiam dizendo sobre coisas na Bíblia:
-“Você sabe sobre o que isso é?”
-“Não”
-“Seder”
-“O que?”
-“Quatro promessas em Êxodo 6, de 4 taças. Quando Jesus diz : “Essa é a minha taça”, existem quatro delas. Ele está escolhendo a quarta. Você sabe por quê?”
-“Não”. Eu não conhecia o contexto das escrituras.
Jesus é judeu. Eu pensei que ele era um cristão. Então eu comecei a ler. Jesus ensinou sobre ele mesmo com Moisés - a Torah - e os profetas. Isso me deixou louco. Eu pensei, “deve haver um mundo inteiro de coisas que eu estou perdendo”. E havia. Havia milhares e milhares de páginas de escritos antigos que cristãos estão esquecendo.
Batismo, o mikvah, toda a parte de Levíticos, todas essas coisas.
Tudo o que Jesus disse - o Bom Samaritano é comentário em Levíticos 15 - essas coisas são discussões sobre a Torah. Ele não está aparentemente retirando as coisas do céu.
Quando Jesus se torna um tipo de figura esotérica espiritual e não um cara real em um lugar real num tempo real, as coisas realmente políticas e econômicas subversivas que ele diz se perdem em um esforço de proclamar o Filho de Deus, como nós fazemos. Mas ele é também um rabino judeu que viveu de um jeito judeu num tempo judeu, e nós temos muitas informações sobre como esse mundo foi.
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Cristianismo hoje: Como os ensinamentos rabínicos se conectam com os jovens cristãos de hoje?

Rob Bell: Eu estava numa universidade cristã ensinando no sistema rabínico, falando sobre o sistema educacional no primeiro século. Numa época mais próxima, as crianças memorizariam a Torah, mas poucas fazem isso para o outro nível. A criança pode fazer o que eu faço?
E Jesus continua dizendo aos seus discípulos, você pode fazer isso. “Vocês não me escolheram, eu escolhi vocês.” Isso é uma linguagem rabínica. Grande parte da frustração de Jesus com os discípulos foi quando eles pensaram que não poderiam ser como Ele. Jesus tinha fé nos seus discípulos. Ele diz para eles, “Agora vão e façam mais discípulos. Eu estou fora daqui”. É como o rabino trabalha. O rabino só escolhe os discípulos em quem acredita.

Cristianismo hoje: O que você lê para ter esse conhecimento?

Rob Bell: Agora estou lendo um trabalho sobre César. Eu poderia estudar passagem por passagem onde os escritores da palavra de Deus usam a imagem de César. César chegou ao poder num processo de coroação de oito etapas. Marcos organizou a semana da paixão em oito etapas. Como César, Jesus foi coroado. Soldados se juntaram em torno dele como fariam com César. Eles colocaram uma coroa em sua cabeça. Eles se prostraram perante Jesus. O público romano e judeu de Marcos sabia exatamente como era a coroação de um rei. Marcos está dizendo que Jesus é rei. Isso não é impressionante?
Aqueles garotos eram tão brilhantes. Você começa a pensar que eles tiveram ajuda (risadas).

Cristianismo hoje: Seu ministério é muito contemporâneo, mas você realmente valoriza a história.

Rob Bell: Apesar da tradição de se premiar quem está baseado na Bíblia, a comunidade cristã sabe muito pouco sobre o que acontece historicamente na Bíblia. E existem coisas tão grandes e incríveis. Mas alguns temem usar alguma coisa para explicar a Bíblia que não seja a Bíblia. Eu tenho dito, “Nós não podemos usar a história. História é falível”.
Um pregador recentemente disse para mim que você não pode usar a história, porque quanto mais você lê a história, mais afeta o modo como você interpreta a Bíblia. Sim, eu espero.
N.T. Wright diz nesse modo: “A maioria das pessoas querem acordar de manhã com um general no pé da cama dizendo ‘vá e faça isso’. O problema é que há alguém no pé da cama dizendo ‘Era uma vez’...”.
A ‘verdade eterna’ da escritura emerge de um povo real em lugares reais e um Deus que tem toda autoridade trabalhando em tempo real. Então quanto mais eu sei sobre os lugares e tempos, mas eu entendo da autoridade de Deus.

Cristianismo hoje: Por exemplo...

Rob Bell: Artemis: a deusa da fertilidade. Seu centro de adoração mundial era a cidade de Éfeso. Acreditava-se que se você estivesse grávida e trouxesse uma oferenda ao templo, ela protegeria você no nascimento da criança. Agora no meio do século primeiro, de duas mulheres, uma morria na hora do parto. Isso é um terror real. Então o que Paulo diz a Timóteo? “A propósito, as mulheres serão salvas na hora do parto”. Mas, e sobre Artemis?
Paulo, de um brilhante e subversivo modo, diz que Artemis não salva as mulheres na hora do parto. Deus salva.
Agora como na Terra você entende esse verso sem conhecer um pouco da história?

Cristianismo hoje: Como você ensina as pessoas a aplicar a história em situações atuais?

Rob Bell: No último inverno eu fiz uma série inteira de Efésios. Existem lugares onde Paulo faz referência a Artemis. Seu templo foi uma das Sete Maravilhas do Mundo. Milhões de pessoas vêm visitar seu templo e comprar estátuas, acreditando que Artemis é a fonte de riqueza econômica. E como Paulo começa Efésios? “Deus seja adorado por todas as bênçãos espirituais”.
“Espere, espere, espere. Não, Artemis. Nós adoramos Artemis por tudo.”
Em Efésios, a palavra de Paulo seria um ensinamento subversivo. Não surpreende ter causado um motim.
Mas Paulo não desmoraliza Artemis. Quando você conta bem a história, você não tem que desmoralizar. É claro. Na verdade, em Atos 19, o escrevente da cidade diz à quadrilha de rebeldes que “Paulo nunca blasfemou contra a deusa”. Umas das coisas que distinguem a revolução de Jesus é que ele nunca blasfemava contra os deuses das cidades, e toda a cidade ainda se tornava cristã.
Isso tem implicações inacreditáveis para o que os cristãos estão fazendo agora – pregadores ridicularizando Hollywood.
Quando você conta a história bem, você não precisa disso. É claro. Não que não haja um lugar e um tempo nos quais você deva chamar as coisas como elas são.

Cristianismo hoje: Você sempre levanta e diz: “Portanto diz o Senhor”?

Rob Bell: Eu penso que nós temos que recuperar a voz pregadora da poesia profética. Nós temos que recuperar aquele momento quando a pessoa falava, e é a palavra de Deus, e todo mundo sabe. É uma coisa linda. Eu quero recuperar isso como uma forma de arte revolucionária que realmente tem poder para transformar comunidades e culturas.

Cristianismo hoje: Como você recuperaria a pregação?

Rob Bell: Eu quero resgatar a pregação. Acredito que é uma forma de arte e eu quero resgatar isso dos cientistas e analistas. Eu quero ver os poetas, os profetas e os artistas segurando o microfone e dizendo coisas boas sobre Deus e a revolução. Eu penso que toda uma forma de arte tem sido perdida e precisa ser recapturada, uma grande ambição para a arte de pregar.
Existe um mistério para um homem e uma mulher em um quarto, quando o texto fez alguma coisa neles e então está retirando alguma coisa deles, seja lá o que for. É uma parábola, é silêncio, é uma série de imagens diferentes que não parecem ter nenhuma conexão, e de alguma maneira têm.

Cristianismo hoje: Os engenheiros tem dominado um pouco a pregação. O que os artistas poderiam fazer de diferente?

Rob Bell: Muitos pregadores cristãos não são sérios sobre a história. Eu não quero conquistar mistério. Eu não quero celebrar isso. E na era moderna nós temos “Sete passos para oração”, “Quatro passos para finanças, etc.”. Tudo isso, eu assumo, tem o seu lugar.
Mas o que freqüentemente acontece é que Deus é encolhido no processo. E no esforço de simplificar as coisas, Deus é simplificado. E devem existir espaços onde o mistério é simplesmente celebrado.
A verdadeira fé ortodoxa é profundamente misteriosa, e toda questão respondida leva a um novo jogo de perguntas. Muitos pregadores tentam responder tudo. E no fim do sermão, pessoas se retiram sem mais questões.
Os rabinos acreditam que a Palavra é como uma pedra preciosa: quanto mais você a gira, mais sua luz refrata. Eu ouvi um cara dizer uma vez, “Oh sim, eu tive um sermão sobre aquele verso. Um sermão que foi muito pregado.” O que? Você está louco? Você teve um sermão muito pregado? Só agora, já posso transformá-lo de tantas maneiras diferentes.
Fiz uma série de seis meses sobre João 3:16. Fiz um sermão sobre a palavra que. Você precisa fazer perguntas. Algumas tradições cristãs pensam que um texto tem um significado e se você aplicar o método certo, pode afastar o significado correto. Isso é o cúmulo da arrogância. Se esse é um mundo vivente, então gire a pedra.
"E Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho”
Por que Deus deu o seu Filho?
“Por que Ele amou o mundo”
Ok, por que Deus ama o mundo? Ele ama todo mundo? Todo mundo mesmo?
“Porque Deus é amor”
Essas respostas – nas quais acredito que você pode descansar - podem te fazer mergulhar ainda mais fundo.

Cristianismo hoje: Não é o problema com pregadores respondidos-centrados que, uma vez que o sermão providenciou todas as respostas, a pessoa diga “Eu ainda tenho questões pendentes; entretanto a resposta é insuficiente?”

Rob Bell: Sim, exatamente. Bem dito.

Cristianismo hoje: E então, como você tenta evitar isso?

Rob Bell: Kierkegaard fala sobre fé no medo e no tremor como absolutamente necessários para se ter uma fé real. É fácil dizer, “Somente acredite. Você consegue todos os fatos”. Mas não funciona dessa maneira.
Duas semanas atrás eu patrocinei uma “Noite da Dúvida”. Eu disse, “Quero falar sobre todas as minhas dúvidas sobre Deus, Jesus, a Bíblia, salvação, fé. E se você tem alguma, traga-a. Escreva-a e passe para frente, nós a leremos e veremos o que acontece.” Nós tínhamos uma grande caixa - você não acreditaria - e começamos a ir através das dúvidas, ler e discutir. Foi impressionante.

Cristianismo hoje: Muitos pastores votariam contra esse artifício.

Rob Bell: Eu estou tentando (risadas), mas, muitos pastores, se tiverem uma noite da dúvida, estariam falando para onde as pessoas vivem na realidade. Realmente penso que pessoas que são cristãs há muito tempo freqüentemente têm as maiores dúvidas, porque elas têm vivido isso, ainda têm muitas coisas não resolvidas. E está tudo bem. Isso é central para o que significa ser uma pessoa de fé. Uma questão implica que existem coisas que eu não sei. Então, trazer questões e dúvidas é uma forma de respeito a Deus.

Cristianismo hoje: O que leva sua vida a essa direção?

Rob Bell: Eu cresci em um lar cristão e fui familiarizado com as bases da fé, e ainda assim minha espiritualidade sempre pareceu não se ajustar (o que é verdade para muitas, muitas pessoas). Eu estava em torno de boas pessoas cristãs que não falavam a minha língua. Eu tinha o maior respeito para escutar, mas o mundo onde eu vivia não tinha.
Depois da universidade eu sabia que possivelmente iria para o seminário. E estava ensinando ski na água e, por alguma razão estranha, me voluntariei para pregar num serviço de capela. Me levantei para fazer minha pequena palestra, tirei minhas sandálias porque sabia que estava num solo sagrado. Foi como ter nascido de novo.
E Deus me disse: “Se você ensinar esse livro, eu vou tomar contar de tudo”. Através dos anos isso se tornou mais e mais claro, sim, Ele disse isso. Então, no ponto da minha rebelião, agitação, insatisfação, tudo se tornou canalizado. Eu tinha algo para fazer. Eu tinha uma razão para estar lá.

Cristianismo hoje: Sua pregação mistura estilos e imagens. E as pessoas frequentemente riem. Você pretende entreter as pessoas?

Rob Bell: Na universidade meus amigos e eu começamos uma banda justamente quando a música estava começando a ser chamada de alternativa – pré-Nirvana. Nós estávamos escrevendo o nosso próprio material. As pessoas ouviriam, e se gostassem, comprariam a cassete. (Isso. Nós fazíamos cassetes nos nossos quartos). Meu pensamento é que se você vai ver uma banda e não gosta, vai embora. Você não fica em pé por uma banda que você não gosta.
Então meu entendimento em comunicação é que você engaja as pessoas onde elas estão. Se você não faz isso, elas vão embora.
Algumas vezes eu ouço as pessoas dizerem, “a igreja não está aqui para entreter”. Entreter significar segurar a atenção da pessoa, que é claramente o que os professores da escritura estão fazendo. Eles engajam e capturam a atenção.
Mas nós não estamos aqui para divertir. Divertir significa não pensar. E é errado impedir as pessoas de pensar ou distraí-las do pensamento. Eu não estou aqui para divertir. Mas é claro que eu quero engajar as pessoas. Eu tenho algo para dizer.

Cristianismo hoje: Então o que você diz é importante, mas tão importante é o modo como você diz.

Rob Bell: Na aula a professora de história não pode ficar lendo, isso é insanamente chato. Ela põe um clipe de três minutos de O Patriota, e todas as crianças estão totalmente engajadas. Então ela pára o clipe e a tela fica azul e todas as crianças da classe dizem “Uauuu”.
Existe uma arte, e as crianças são sugadas por ela. A história está acontecendo em algum lugar, mas o escritor sabe onde concentrar a tensão, onde decidir, onde não decidir. O roteirista sabe introduzir a marca entre os minutos 28 e 32, então deixa isso não resolvido para a próxima hora.
Até o mais exegético pregador pode ter uma arte: nós estamos indo para algum lugar, e a tensão pode ser resolvida - ou não.

Cristianismo hoje: Como o celular que você usou no sermão que nós ouvimos na última noite. Tocou por quanto tempo, dois minutos?

Rob Bell: Eu quis que todo mundo experimentasse a grande inquietação do momento. Eu quis que saísse do nada. Se as pessoas estivessem como “Oh, ele está esperando... vai atender daqui três minutos”, então eu as teria perdido. Eu queria que elas falassem “Eu não entendo. Ele não vai atender ao telefone? Onde ele está indo?”.
Eu uso muitos suportes e materiais visuais. As pessoas dizem, “você usa suportes e materiais. Eu sou somente um pregador da Bíblia”. Bem, encontre para mim uma pessoa nas escrituras que não usou imagens. Jesus disse, “Olhe para os pássaros, olhe para a árvore”.
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Cristianismo hoje: Por que as imagens são criticadas na pregação de hoje?

Rob Bell: A palavra da escritura é cheia de imagens. Jesus diz, “O Espírito é como o vento”. A mente oriental pensa muito em termos de figuras, a ocidental em palavras. A Oriental pensa, “Deus é uma rocha”. A mente Ocidental faz uma declaração de fé - mais confortável com definições e precisão. São boas, mas se você ganha alguma coisa, também perde alguma coisa.
Hoje você tem uma cultura que pensa em imagens. Eu sou uma criança de televisão, parte de toda uma geração onde o pensamento é baseado em imagens.
Mas os suportes nunca podem deixar de ter alguma coisa para dizer. É fácil se tornar o Cara Suporte, ou a Mulher Vídeo Clipe, mas não dizer nada. Deve se começar com alguma coisa para dizer.

Cristianismo hoje: Nós vimos você pregar usando um xale judeu. O que você pretende com isso?

Rob Bell: O xale se torna como uma dobradiça sob a qual todo o resto gira em torno. É um ponto de referência. Mais tarde, quando você estiver relembrando o ensinamento, o xale te ajuda a lembrar qual foi o ponto. Nós também aprendemos pelo toque, paladar, visão e audição. Se fico em pé atrás de um púlpito e leio, estarei fazendo um aprendizado auditivo e de recolhimento. Mas, se apelo para diferentes sentidos, consigo entrar por outros portões.
Entreguei um modelo de argila quando as pessoas entravam e disse a elas que fizessem alguma coisa. Se eu posso fazer com que você toque ou faça alguma coisa, veja ou ouça alguma coisa, é muito mais provável que você seja impactado.

Cristianismo hoje: No fim do sermão, você tirou o xale. Pessoas vieram, se ajoelharam e oraram. O uso de adereços é tático e memorável. Mas nesse caso também é muito espiritual.

Rob Bell: Deus é o Deus de adereços. Todo o sistema de sacrifícios é de adereços. Isso é como Deus explica a expiação, o sacrifício que substitui, a reconciliação. É abstrato. Então, o que Deus diz? “Pegue uma cabra. Abra. Você vê o sangue? Esse é o seu sangue. Claro?”
O pacto. “Ok, corte alguns animais ao meio. Ande para o centro. Diga para a pessoa, ‘Eu serei como esses animais se eu não mantiver minha parte no acordo’”.
Deus pega esses conceitos e os põe no barro, sangue, carne, ossos, madeira e aço. Eu diria que os adereços não são apenas formas de alcançar as crianças. É uma questão maior de o material ser espiritual.

Cristianismo hoje: Conte para nós sobre a mensagem do bode expiatório. Você tem realmente uma cabra?

Rob Bell: Preguei um sermão uma vez em Willow Creek e a cabra fez cocô no palco. Um grande momento na história daquela igreja.

Cristianismo hoje: O espiritual se tornou físico, não foi?

Rob Bell: Acho que os ajudei a ir a um novo nível de ministério, nos subúrbios de Chicago. A mesma coisa aconteceu em Mars Hill - Acho que é algo frequente na minha pregação. (risadas)Uma vez trouxe uma ovelha para as crianças no Natal. Falamos sobre a aparição dos anjos aos pastores. Acho que eles são como crianças servindo.
Migdal Eder foi o local do túmulo de Raquel, perto de Belém, mas também foi o lugar onde os pastores mantinham a ovelha para a Páscoa. Então aquelas crianças foram pastoras que mantiveram as milhares de ovelhas que deveriam ser trazidas para Jerusalém. Seu trabalho era inspecionar as ovelhas para garantir que elas estavam perfeitas e apropriadas para o sacrifício. Então Migdal Eder esteve perto da pequena vila onde Jesus nasceu. E os pastores, que estavam perto, vieram inspecionar o Cordeiro para ver se era uma personalidade e então sair proclamando.
Então eu tinha um pastor e uma ovelha no palco, e trouxe todas as crianças. E queria que elas corressem pelo prédio, todas gritando, “Glória a Deus nas alturas”. E, naquele momento, a ovelha estava fazendo cocô no palco. Então tentei dizer às crianças para irem, mas elas estavam surpresas com a ovelha. Foi um momento incrível.

Cristianismo hoje: Isso fez você ficar contra o uso de adereços vivos?

Rob Bell: Não, às vezes os uso com as crianças. Elas ficam gritando, “Mãe, você não vai acreditar no que a ovelha fez. Foi incrível”. Não foi o que eu esperava, mas elas lembram disso.
Animais, ou qualquer coisa. Seja o que for, leve. Sem regras.
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Fonte: www.cristianismohoje.com.br

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Adoração ao deus mercado


“Então disse o Senhor a Moisés: Vai, desce; porque o teu povo, que fizeste sair do Egito, se corrompeu e depressa se desviou do caminho que lhe havia eu ordenado; fez para si um bezerro fundido, e o adorou, e lhe sacrificou, e diz: São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito. Disse mais o Senhor a Moisés: Tenho visto este povo, e eis que é povo de dura cerviz. Agora, pois, deixa-me, para que se acenda contra eles o meu furor, e eu os consuma; e de ti farei uma grande nação” (Êx 32.7-10).


O texto acima é um dos mais utilizados pelos apologetas evangélicos contra a prática da idolatria. Este, entre tantos, é, na maioria das vezes, utilizado para atacar a prática da igreja católica romana em venerar imagens. Fazendo isto estamos sujeitos a não considerar com justiça o que vem a ser a idolatria de fato, pois, uma coisa é como entendemos tal prática hoje e outra coisa como ela era compreendida no passado, como quer demonstrar o texto mosaico. Hoje, basicamente, o ídolo é uma imagem que representa uma divindade e que se adora como se fosse a própria divindade. Mas, no passado na tradição judaico-cristã, o ídolo era um indíviduo real, ou uma imagem representativa de uma entidade fantástica, ou a própria entidade, considerados, de maneira equivocada e herética, portadores de atributos divinos. Ou seja, não havia a necessidade de um ícone, de uma representação gráfica, concreta do ídolo, pois, este existia e consistia de sua essência como entidade.

Sem maiores aprofundamentos, seria interessante considerar que o problema da idolatria não está na imagem em si, mas, em tudo o que ela passa a representar. O ícone, o objeto concreto não é nada; o problema está em sua capacidade de transportar ideologias, culturas, etc, (economia, política, religião, etc) que podem ser danosas à vida humana e ao meio-ambiente.
“Se algum dentre os incrédulos vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que for posto diante de vós, sem nada perguntardes por motivo de consciência. Porém, se alguém vos disser: Isto é coisa sacrificada a ídolo, não comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da consciência; consciência, digo, não a tua propriamente, mas a do outro” (I Co 10.27-29a).
As palavras de Paulo corroboram, portanto, para que se compreenda que o ídolo em si não é nada, contudo, o que lhe é intrínseco pode ser perigoso. O bezerro de ouro do texto de Êx 32.7-10 é uma clara demonstração disto. O bezerro em si não era nada, mas representava a ingratidão e a arrogância de Israel diante de Deus.

Até antes da construção do bezerro de ouro Deus havia libertado seu povo, conduzindo-o pelo deserto sem deixar-lhe faltar o alimento e nem vestimentas. Da parte de Israel o que se ouviu foi incredulidade, pois achavam que os egípcios os matariam ante o Mar Vermelho, murmurações a respeito da falta d’água (que lhes foi providenciada), do maná (“todo dia a mesma coisa!”), da falta de carne, da saudade dos pepinos do Egito, da liderança de Moisés, etc. Além disso, aquele povo seria submetido a uma lei duríssima a qual deviam obediência para sua salvação e glorificação do nome de Deus.

O que representava o bezerro de ouro? Representava a preferência de Israel em manter-se escravo de suas conveniências, em vez de estar livre, como povo autônomo, mas, com o compromisso de servirem a Deus, a seus semelhantes e à terra. Adorarem ao bezerro de ouro era uma limitação da real divindade de Deus, de sua soberania, de sua onipotência, onipresença e onisciência, relegando-o a um simples objeto que não poderia exercer nenhuma autoridade sobre seus seguidores. Faz-se isso nas igrejas de hoje quando são enfatizados pontos que possam parecer mais interessantes ao público: prosperidade, felicidade agora, saúde inabalável, poder e prestígio. O homem transfere seu amor, seu respeito, sua atenção e todos os seus esforços de Deus para suas conveniências pessoais. Deus passa a existir e ser poderoso somente para fazer o que seus fiéis lhe pedirem (ou mandarem).

O que seria o consumismo senão um culto velado ao mercado? Um deus não representado por nenhum ícone, ou desenho, mas, que está vivo e atuante na vida de todos nós, religiosos ou não. “O consumismo é uma compulsão caracterizada pela busca incessante de objetos novos sem que haja necessidade dos mesmos. Após a industrialização, criou-se uma mentalidade de que quanto mais se consome mais se tem garantias de bem-estar, de prestígio e de valorização, já que na atualidade as pessoas são avaliadas pelo que possuem e não pelo que são” (Blog Consumismo, a modinha da vez).

O consumismo é uma forma de “testemunho” de prosperidade, poder e prestígio, alcançados por aqueles que seguem religiosamente os mandamentos do mercado, onde ter é mais importante que ser (e que o ser). Onde as coisas passam a ser mais importantes que as pessoas e a projeção individual o clímax paradisíaco do fiel. Tal testemunho nem sempre é fruto de sucesso, uma vez que muitas pessoas, no afã de se sentirem tão abençoados como os demais, compram compulsivamente e se endividam para obterem reconhecimento de seus “irmãos”.
O consumista torna-se escravo de seu deus, lutando contra tudo e contra todos para alcançar cada dia mais robustez financeira, legalmente ou nem tanto. Mesmo que isso lhe custe a saúde, a própria vida, ou a família, porque, para ser bem-sucedido nesse mundo, não se pode perder tempo com o outro. Aliás, é sempre dos outros que os sacerdotes tiram para colocar na mão de pouquíssimos merecedores. Nesta igreja, tal doutrina é conhecida como “máxima concentração de renda”. Aleluia?!

A Igreja de Cristo não pode seguir este caminho, não pode se deixar levar pela toada do capitalismo. Ao contrário, com um paradigma profético de valoração do oprimido, a Igreja (como Deus) deve preocupar-se em anunciar e fomentar a vida; suprindo-lhe de bens materiais, mas, principalmente, a dignidade do ser. O que o mundo precisa hoje é conscientizar-se da necessidade de se construir uma sociedade mais fraterna, justa e humana. A Igreja deve estar pronta para dar-lhe tal direcionamento.

Por Luciano Costa

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Templos, Sacerdotes e Sacrifícios


O antigo Judaísmo estava centrado em três elementos: O templo, o sacerdócio e o sacrifício. Quando Jesus veio, Ele cancelou os três elementos cumprindo-os em Si mesmo. Ele é o Templo que incorpora uma casa nova e viva feita de pedras vivas — “sem mãos [humanas]”. Ele é o Sacerdote que estabeleceu um novo sacerdócio. Ele é o Sacrifício perfeito e definitivo.

Como conseqüência, o templo, o sacerdócio e o sacrifício do Judaísmo cessaram com a vinda de Jesus Cristo. Cristo é o cumprimento e a realidade de tudo isso. No paganismo greco-romano estes 3 elementos também estavam presentes: Os pagãos tiveram seus templos, seus sacerdotes e seus sacrifícios. Foram apenas os cristãos que descartaram todos estes elementos. Poder-se-ia dizer que o cristianismo foi a primeira religião sem templos. Na mente do cristão primitivo, era a pessoa que constituía o espaço sagrado, não a arquitetura.

Os primeiros cristãos entendiam que eles mesmos — coletivamente — eram o templo de Deus e a casa de Deus. Notavelmente, em nenhuma parte do NT, encontramos os termos “igreja” (ekklesia), “templo”, ou “casa de Deus”, usados para referir-se a edifícios próprios. Ao ouvido do cristão do século I, descrever um edifício como ekklesia (igreja) seria como chamar uma mulher de arranha-céu! O uso inicial da palavra ekklesia (igreja) para referir-se a um lugar de reunião cristã ocorre no ano 190 d.C. por Clemente de Alexandria (150-215). Clemente foi a primeira pessoa a utilizar a frase “ir à igreja”, que era um pensamento alheio ao crente do século I. (Ninguém pode deslocar-se a um lugar que é ele mesmo! Ao longo do NT, ekklesia sempre se referiu a uma assembléia de pessoas, não a um lugar!).

Mesmo assim, a referência “ir à igreja” de Clemente não trata de uma alusão a um edifício de alvenaria construído especialmente para a adoração dos membros, trata de um lugar privado que os crentes do século II usavam para suas reuniões. Os cristãos não construíram edifícios especiais até a Era Constantino no século IV. Tampouco tiveram um sacerdócio especial separado para servir a Deus. Em vez disso, cada crente reconhecia que ele mesmo era um sacerdote diante de Deus. Os cristãos primitivos também eliminaram os sacrifícios porque entendiam que o sacrifício verdadeiro e final (Cristo) havia prevalecido. Os únicos sacrifícios que ofereciam eram sacrifícios espirituais de louvor e gratidão.

Entre os séculos IV e VI, o catolicismo romano absorveu as práticas religiosas do paganismo e do Judaísmo. Instalou um clericalismo profissional e erigiu edifícios sagrados de alvenaria. E converteu a Santa Ceia em um sacrifício místico. Seguindo a trilha dos pagãos, o catolicismo adotou a prática das virgens vestais (sagradas) e da queima do incenso. Felizmente os protestantes aboliram o uso do sacrifício da Ceia do Senhor, das virgens vestais e da queima de incenso. Mas eles retiveram tanto a casta sacerdotal (o clero) como o edifício sagrado.

Extraído do livro "Cristianismo pagão"
Frank A. Viola

terça-feira, 26 de maio de 2009

Amar a Deus com liberdade


O livro de Jó parece se concentrar na questão do sofrimento. No fundo, um problema diferente está em jogo: a doutrina da liberdade humana. Jó teve de suportar um sofrimento imerecido a fim de demonstrar que o Senhor está, na verdade, interessado no amor demonstrado em liberdade.

A disputa travada entre Deus e Satanás não foi um exercício trivial. A acusação feita por Satanás de que Jó só amava o Senhor por que “puseste uma cerca em volta dele” é um ataque ao caráter divino. Implica que Deus não é digno de amor por si mesmo; as pessoas fiéis só o seguiriam mediante “suborno”. A reação de Jó depois que todos os sustentáculos da fé fossem removidos comprovaria ou descartaria o desafio de Satanás.

Para entender essa questão da liberdade humana, talvez o melhor seja imaginar um mundo em que todos obtêm aquilo que merecem. Esse mundo imaginário tem uma certa atração. Seria justo e consistente e todos saberiam com clareza o que Deus esperava. A justiça reinaria. Há, no entanto, um enorme problema com um mundo assim tão organizado: ele não tem nada a ver com o que Deus pretende realizar na terra. Ele quer de nós o amor, amor ofertado em liberdade. E não ousemos subestimar a recompensa que Deus associa a esse amor. O Senhor lhe atribui tamanha importância que permite ao nosso planeta ser um câncer de maldade no seu universo – por algum tempo.

Se o mundo funcionasse de acordo com regras fixas, justas e perfeitas, não haveria liberdade real. Agiríamos certo por causa do nosso ganho imediato e motivações egoístas infestariam cada gesto de bondade. As virtudes cristãs descritas na Bíblia, pelo contrário, se desenvolvem quando escolhemos Deus e seu caminho apesar da tentação ou dos impulsos para fazer o contrário.

Na Bíblia inteira, uma analogia que ilustra o relacionamento entre o Senhor e seu povo salta aos olhos o tempo todo. Deus, o marido, é retratado tentando atrair a noiva para si mesmo. Ele quer seu amor. Se o mundo fosse construído de forma que cada pecado recebesse um castigo e cada boa ação, um prêmio, o paralelo não resistiria. A analogia mais próxima a esse relacionamento seria uma mulher mantida em cativeiro, mimada, subordinada e trancafiada em um quarto de forma que o amante pudesse estar seguro de sua fidelidade. Deus não “prende” seu povo. Ele nos ama, oferece-se para nós e espera ansioso por nossa livre reação.

O Senhor quer que optemos por amá-lo de livre e espontânea vontade, mesmo que essa opção envolva dor, por estarmos comprometidos com Ele, não com sensações e recompensas que nos façam sentir bem. Ele quer que permaneçamos fiéis a Ele, como fez Jó, inclusive quando tivermos todos os motivos do mundo para negá-lo com veemência. Jó se apegou à justiça de Deus no momento em que se tornou o melhor exemplo da história da aparente injustiça divina. Não procurou o Presenteador por causa do presente; pois quando todos os presentes foram removidos, ele ainda O buscava.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Reflexões do Reino também é humor

O Reflexões do Reino, a partir de hoje, se compromete com seus leitores a postar toda 6ª feira uma série de piadinhas pra descontrair. Sabe como é né, fim de semana chegando, precisamos estar bem-humorados para o sabadão.

Quer pagar como?

O sujeito passava em frente a um hospital de luxo, quando teve um troço e precisou ser operado às pressas.

Quando ele acordou, a enfermeira, uma senhora muito religiosa, perguntou:
— O senhor tem seguro saúde?
— Infelizmente não...
— Dinheiro pra pagar a conta?
— Nenhum tostão...
— Algum parente que possa pagar?
— De parente só tenho a minha irmã solteirona, uma pobre freira.
— Freiras não são solteironas! — disse ela. — Elas são casadas com Deus!
— Ah, ótimo! Então nesse caso pode mandar a conta pro meu cunhado!


No Confessionário

O cara entra no confessionário e o padre pergunta:
- Pois não, meu filho. Quais são os seus pecados?
- Ai, padre... É que eu comunguei há três anos...
- Entendi, meu filho. Você não deveria fazer isso, mas me diga... Quais são os seus pecados?
O cara sem jeito, diz novamente:
- Então... Eu comunguei há três anos.
- Está bem meu filho, eu já sei que você comungou há três anos. Mas isso não é pecado! Conte-me seus pecados, filho...
- Padre, vê se presta atenção no que estou dizendo: EU... COMO...UM... GAY... HÁ... TRÊS... ANOS!

O Deus Presente


Deixa-me ser franco: Que diferença Jesus faz para nossos sentimentos de decepção com Deus? Como nos ajuda o saber que ele também experimentou frustração e decepção?

Os teólogos, acompanhando o apóstolo Paulo, geralmente explicam a contribuição de Cristo em linguagem jurídica: justificação, reconciliação, propiciação. Mas essas palavras caracterizam somente uma pequena parte do que aconteceu. Para compreender que diferença Jesus faz para o problema da decepção, temos de ir além dessas palavras e examinar a história subjacente de Deus sair ardentemente em busca de seres humanos.

Reexamine as duas principais imagens nos Profetas: um pai ansioso lamentando pelo filho que fugiu, e um amante abandonado ardendo de raiva. As histórias de Jesus propiciam um final feliz para ambas. O pai à espera tem aguardado por muito tempo; ele recebe de volta, com braços abertos, o filho fugi-tivo. O amante ferido, recuperado de sua ira, escancara a porta da frente.

Que diferença Jesus fez? Tanto para Deus como para nós, ele tornou possível uma intimidade que nunca antes havia existido. No Antigo Testamento, os israelitas que tocaram a arca sagrada da aliança caíram mortos; mas pessoas que tocaram em Jesus, o Filho de Deus em carne e osso, saíram curadas. A judeus que não pronunciavam nem mesmo soletravam as letras do nome de Deus, Jesus ensinou uma nova maneira de dirigir-se a Deus: Abba, ou "papai". Em Jesus Deus se aproximou do homem.

As Confissões de Agostinho descrevem como essa proximidade o afetou. Na filosofia grega ele havia aprendido acerca de um Deus perfeito, atemporal, incorruptível. Ele jamais conseguiu aquilatar como uma pessoa cheia de cobiça, obcecada por sexo, indisciplinada, tal como era o seu caso, podia se relacionar com um Deus assim. Tentou várias heresias da época e achou todas elas insatisfatórias, até que finalmente encontrou o Jesus dos evangelhos, uma ponte entre seres humanos comuns e um Deus perfeito.

O livro de Hebreus examina em detalhes esse surpreendente novo avanço na questão da intimidade. Primeiramente o autor trata detalhadamente do que era necessário apenas para chegar até Deus na época do Antigo Testamento. Só uma vez por ano, no Dia da Expiação — o Yom Kippur — uma única pessoa, o sumo sacerdote, podia entrar no Lugar Santíssimo. A cerimônia envolvia banhos rituais, vestes especiais e cinco sacrifícios de animais; e ainda assim o sacerdote entrava no Lugar Santíssimo temeroso. Ele usava sinos em seu manto e uma corda em volta do tornozelo, de modo que, caso morresse, e os sinos parassem de tocar, outros sacerdotes poderiam puxar seu corpo para fora.

Hebreus apresenta um contraste marcante: agora podemos nos aproximar do "trono da graça'' sem receio, com intrepidez, "confiadamente". Avançar com intrepidez até o Lugar Santíssimo — nenhuma imagem podia ser mais chocante para os leitores judeus. Contudo, no momento da morte de Jesus, uma grossa cortina dentro do templo literalmente se rasgou em duas, de alto a baixo, deixando aberto o Lugar Santíssimo. Portanto, conclui Hebreus, devemos nos aproximar de Deus.

Jesus contribui com isto para o problema da decepção com Deus: por causa dele, podemos ir diretamente a Deus. Não necessitamos de mediador humano, pois o próprio Deus se tornou mediador.

Extraído do livro "Decepcionado com Deus"
Philip Yancey

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Retrô - Até quando?


Como tem sido difícil assistir um culto pentecostal nas igrejas atuais. Confesso, saí frustrado do último que fui. As raízes pentecostais não tem nada a ver com isso que chamamos hoje de manifestações do Espírito.

Sei que corro o risco de ser chamado de frio, de intelectual e outros nomes mais. Portanto, não me renderei a esse pseudoevangelho pregado nos púlpitos da igreja moderna.

Como pode alguém ir ao um “culto de poder” e sair pior do que entrou? Que tanto poder é esse que é “liberado” pelos evangelistas e pastores, que não tem eficácia na vida existencial deles próprios?

Que tanta “unção” é essa que é exalada de seus paletós e não transforma a vida dos fiéis?

Até quando veremos os manipuladores de auditórios manobrando as massas para um falso evangelho?

Até quando vamos chamar de “cristãos” esses falsos líderes? Eles inventaram outra religião. Abandonaram o cristianismo. Não falam da cruz de Cristo e da regeneração do Espírito Santo como solução para toda e qualquer escravidão espiritual. Não falam do discipulado de Jesus Cristo como compromisso com o Reino de Deus, o que exige arrependimento e submissão absoluta ao Rei Eterno, o que implica mudança de vida e serviço abnegado.

Continuo a peregrinar com minhas incertezas, sabendo que o Deus da igreja dará um escape aos seus pequeninos que anseiam viver humildemente, praticando a justiça e amando a misericórdia. Continuo a crer nas manifestações do Espírito Santo na vida do cristão; continuo a crer na transformação do homem caído; e continuo a ter esperança que a nossa missão é manifestar, aqui e agora, a maior densidade possível do Reino de Deus, que será consumado ali e além.

terça-feira, 19 de maio de 2009

A surpreendente novidade


Otto Maduro definiu religião como “um conjunto de discursos e práticas, referente a seres anteriores ou superiores ao ambiente natural e social, em relação aos quais os fiéis desenvolvem uma relação de dependência e obrigação” [Religião e luta de classes. Petrópolis: Vozes, 1981]. Por trás de toda experiência religiosa existe uma mesma lógica: a relação de dependência e obrigação entre os deuses e seus fiéis. Como numa espécie de contrato, as partes estão comprometidas: o fiel obedece e cumpre obrigações e o tal deus recompensa abençoando. Na lógica religiosa “não existe almoço grátis”. Outra maneira de dizer isso é afirmar que a religião está baseada na relação de méritos, que resultam em bênçãos, e deméritos, que resultam em maldições. Para que um determinado deus faça alguma coisa, os seus seguidores devem cumprir obrigações para com ele. O favor dos deuses custa caro.
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Nesse sentido, o Cristianismo é o fim da religião, pois faz desmoronar a lógica da justiça retributiva. A mensagens dos apóstolos e dos cristãos chamados primitivos faz surgir no cenário religioso do mundo antigo uma novidade que até hoje ainda não foi bem compreendida. A surpreendente novidade do Cristianismo atende pelo nome de Graça de Deus. O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo é singular: ele não pode ser comprado. Não há nada que uma pessoa possa fazer para merecer o favor de Deus. Não há nada que uma pessoa possa fazer para atrair sobre si a ira de Deus. Essa é a essência da obra de Jesus Cristo na cruz do Calvário: “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens [...] Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado (Cristo), para que nele (Cristo) nos tornássemos justiça de Deus” [2Coríntios 5.18,20].
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A partir de Jesus Cristo não mais precisamos temer a ira de Deus, pois “nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo” [Romanos 8.1], e não precisamos mais barganhar com Deus para alcançar seu favor, pois “Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com Ele, e de graça, todas as coisas?” [Romanos 8.32]. Libertos das obrigações em relação a Deus, estamos livres dos estreitos limites impostos pelos ritualismos e moralismos da lógica religiosa, o que nos exige responder por que, então, ainda nos dedicamos a fazer a vontade de Deus. Somente uma resposta é possível: fazemos a vontade de Deus porque a graça de Deus assemelha nosso coração ao coração de Deus. Antes, escravizados pela lógica “obedecer para receber a bênção”, fazíamos a vontade de Deus para fugir de sua ira e alcançar o seu favor. Agora, libertos pela graça, fazemos a vontade de Deus porque a ela nosso coração se afeiçoou: fomos transformados no entendimento, e passamos a considerar a vontade de Deus algo bom, perfeito e agradável [Romanos 12.1,2]. Aquele que foi alcançado pela graça, já não tem obrigação de fazer a vontade de Deus. Mas tem prazer [Salmo 1.2]. São esses os que podem dizer: “Pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi inútil” [1Coríntios 15.10].
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Por Ed René Kivitz

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sem barganhas com Deus


Então, estando você cônscio da Graça — e a ela ligado pela fé em Cristo Jesus —, não temerá ver-se refletido na Palavra e também não desejará esquecer a imagem de seu ser por ela revelado, pois, essa é a imagem de quem você é! E, também, o potencial de quem você pode ser!

Ao contrário, quando se está livre do medo da condenação, até aquilo que você lê contra você mesmo, chega com o poder da cura, e não da ‘enfermização’ que nasce da fobia que é fruto das relações de causa e efeito, pois, fica-se livre da neurose culposa, que é produto da condenação moral e de seus juízos impacientes, caprichosos e imediatos.

A Palavra, todavia, nos coloca no Caminho e nele nos mostra um caminho sobremodo excelente, onde de um lado vemos quem somos, e não nos entregamos em indulgência aos nossos descontrolados desejos e doenças; e, de outro lado, não somos convidados a nenhum tipo de exercício de auto-punição purgatória. O Caminho acontece entre esses dois pólos e é marcado pelo amor que lança fora o medo. Portanto, entregues à Graça, ficamos livres para aceitarmos em paz a transformação, seja ela instantânea ou um processo. Pois, como é óbvio, não há barganhas a fazer!

Sem barganhas com Deus
Caio Fábio

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Ensaio sobre Onipotência


Onipotência (de Deus) significa poder para fazer tudo que é intrinsecamente possível, e não para fazer o que é intrinsecamente impossível. É possível atribuir-lhe milagres, mas não tolices. Isto não é um limite ao seu poder. Se disser: "Deus pode dar a uma criatura o livre-arbítrio e, ao mesmo tempo, negar-lhe o livre-arbítrio" não conseguiu dizer nada sobre Deus: combinações de palavras sem sentido não adquirem repentinamente sentido simplesmente porque acrescentamos a elas como prefixo dois outros termos: "Deus pode".
Permanece verdadeiro que todas as coisas são possíveis com Deus: as impossibilidades intrínsecas não são coisas, mas insignificâncias (praticamente não existem). Não é possível nem a Deus nem à mais fraca de suas criaturas executar duas alternativas que se excluem mutuamente; não porque o seu poder encontre um obstáculo, mas porque a tolice continua sendo tolice mesmo quando é falada sobre Deus. Deve ser porém lembrado que os raciocinadores humanos com freqüência cometem erros, seja argumentando a partir de dados falsos ou por falha no argumento em si. Podemos chegar assim a pensar coisas possíveis que na verdade são impossíveis, e vice- versa. Devemos, portanto, tomar a máxima precaução ao definir aquelas impossibilidades intrínsecas que nem mesmo a Onipotência pode realizar.

Extraído do livro "O problema do sofrimento"
C. S. Lewis

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Alvos da tentação - Riqueza e Prazer


Encerramos aqui em uma tacada só a série "Alvos da tentação", tratando suscintamente sobre a riqueza e o prazer.

RIQUEZA

Dinheiro, dinheiro, dinheiro. Coisas que têm uma etiqueta de preço. Bens materiais. Objetos tangíveis. E que há por trás de tudo isso? O desejo de possuir, de apossar-se, de juntar riquezas, ficar rico; enfrentemos a realidade: o desejo de parecer rico. Trata-se da obsessão de raízes profun­das, no sentido de impressionar os outros e também deliciar-se na velhíssima coceira denominada "quero mais." Sempre mais. O bastante nunca é bastante. A satisfação está fora de questão.
Tudo isto parece tão claro no papel! Pinte essa coisa de verde e chame-a de cobiça pura e simples; fácil de ser analisada neste momento objetivo. Porém, quando deslizamos na cor­rente de água e começamos a nadar, eis que surge uma torrente que nos apanha e nos arrasta. Logo somos engolfados por ela, e atirados nas cataratas, quase totalmente descontrolados. Para livrarmo-nos e iniciar nova trajetória nou­tra direção precisamos de nada me­nos que o poder do Deus Todo-poderoso. Jamais alguém re­sistiu à cobiça sem que travasse uma luta ao mesmo tempo incansável e feroz. O deus chamado Riqueza tem morte lenta e dolorosa.

PRAZER

"Se você se sentir bem..." Ah! termine você mesmo o adágio. Talvez seja nosso ponto mais vulnerável à tentação: o prazer, que significa o desejo de satisfazer-se sensualmente, não importa o custo. Pode ser tão inocente como um pequeno divertimento, ou tão sórdido como uma relação sexual ilícita. Não estou interessado no ato, mas na atitude. "Quero o que quero quando quero. Vou ser feliz, preciso realizar-me, gratificar meus desejos... a despeito de!"
Não, de modo nenhum saímos por aí dizendo as coisas assim, abertamente. Entretanto, é com essa intensidade de prazer sensual que o prazer é perseguido. E ao fazê-lo, racionalizamos as Escrituras, baixamos nossos padrões de moralidade, des­prezamos as funções da consciência e, assim, convencemo-nos não apenas de que está tudo bem, mas de que aquilo é uma necessidade! Se, de alguma forma, algumas visões de Deus interrompem nossa brincadeira no "playground", temos meios de ignorá-lo, também. Dessas pessoas diz Paulo que são insensatas e loucas:

"Pois tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus... antes seus raciocínios se tornaram estultos, e seus corações insensatos se obscureceram. Di­zendo-se sábios, tornaram-se loucos..." (Rm 1.21-22).

Poder. Fama. Riqueza. Prazer. No que concerne às tentações, estas são as maiorais. Resistindo contra cada uma delas, de peito aberto, cultivamos o caráter dentro de nós, no íntimo. Portanto, mantenha os olhos abertos, e deixe sua armadura bem à mão. A batalha prossegue agora mesmo, bem acesa. Você não pode confiar no "cessar fogo" de Satanás.

"tomando, sobretudo, o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do ma­ligno" (Ef 6.16)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Retrô - Às vezes


Às vezes, tenho vontade de gritar para o mundo ouvir que Jesus Cristo é o Senhor. Mas, logo vêm os desbravadores do evangelho-fácil e roubam de mim o fervor.

Às vezes, me surgem alguns pensamentos triunfalistas de que “se Jesus venceu, eu também vencerei”. Porém, logo me vem à mente que Jesus não tinha nem onde reclinar a cabeça – pobre, manso e humilde. Me envergonho.

Às vezes, me angustio com a situação e comportamento da igreja evangélica brasileira. Todavia, alguns bons amigos me fizeram lembrar que Jesus buscará uma Igreja dentro da igreja – como diz a brilhante parábola da colheita (Mt 13.24-30).

Às vezes, perco o sono com meus conflitos interiores, vendo-me impotente para mudar o rumo da igreja. Portanto, me recordo da ilustração do beija-flor, que no afã de apagar o grande incêndio da floresta, jogava água no fogo com seu pequeno bico, como em conta-gotas.

Às vezes, sou chamado de pessimista. Logo, quando sou confrontado com as páginas sagradas, vejo que a tendência é só piorar.

Às vezes, sou tentado a acreditar nos profetas modernos que jogam bênçãos avanço ao povo. Entretanto, olho para os profetas veterotestamentário e vejo quão distante estão os seus respectivos ministérios.

Às vezes, me comparo com aqueles discípulos a caminho de Emaús, onde não conseguiam enxergar o Mestre devido às circunstâncias desfavoráveis que os judeus passavam. Contudo, será que sou eu que não contemplo Jesus, ou Jesus não está sendo encontrado em alguns de nossos templos suntuosos?

Às vezes, olhando para os relatos da Reforma Protestante, penso que poderíamos passar por algo semelhante em nossas igrejas. Porém, devido aos tempos pós-modernos, seria algo humanamente impossível – os “Luteros” estão se corrompendo.

Às vezes, faço minhas orações acreditando que todas elas serão atendidas por Deus. Logo, lembro-me de umas das cartas paulinas endereçadas aos irmãos de Filipos (Fp 4.6,7), onde Ele não promete realizar meus desejos e caprichos, mas sim, a paz em nossos corações.

Às vezes, sinto vontade de vociferar contra as mazelas da liderança eclesiástica. Mas, logo atento para dentro de mim, e contemplo o homem corrupto que habita em mim, com igual ou maior número de mazelas do que os líderes religiosos.

Às vezes, olho para o caos que se encontra nosso sistema religioso, tentando entender “por que isso Senhor?!”, e ouço Deus responder em meu coração: “Eu sou Soberano sobre todas as coisas filho, tudo está patente aos meus olhos, faça a sua parte”. Então, quase sempre saio constrangido, entendendo que a boa mão de Deus, há de nos mostrar a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não serve (Ml 3.18).

Às vezes...

Alvos da tentação - Fama


Continuando nossa série "Alvos da tentação", discorreremos agora sobre os perigos da fama.

Grande perigo inicia-se com o anseio de ser popular. Ser membro da "gangue". Ser amado. Na verdade, é algo mais do que isso. É a fome de ser conhecido, de criar um nome para si mesmo. Inclui a per­seguição do melhor lugar, o aperto de mãos certas, a batida nas costas certas, estar nos ambientes certos; manipulando e cavando habilmente. O tempo todo há uma preocupação ja­mais pronunciada em torno de uma agenda egocêntrica, oculta: que o seu nome fique lá em cima, sob o foco dos holofotes. A insegurança assim revelada está entre o patético e o nauseante.
Não me entenda mal. Para algumas pessoas, a fama chega de surpresa. Nada mais é do que o subproduto de um trabalho bem feito, isento de estratégia maliciosa. Sem jamais nutrir qualquer desejo de ser bem conhecido, algumas pessoas são atiradas no centro do palco independentemente de seus pró­prios desejos. Tudo bem: que elas continuem a examinar suas motivações e a manter o equilíbrio. A fama pode ser o atrativo principal. As alturas são estonteantes. Um brincalhão disse, jocosamente: "A fama, à semelhança da fumaça, é inofensiva se você não a inalar." As pessoas que conseguem dominá-la com graça, não se permitem esquecer quão imerecedoras são. Com freqüência, tais pessoas têm origens muito humildes. Como a famosa contralto Marian Anderson, que afirmou que o momento mais importante de sua vida ocorreu quando ela chegou em casa e disse à sua mãe que não precisaria mais lavar a roupa das pessoas, dali por diante.

O apóstolo João escreve palavras muito fortes: "o mundo inteiro jaz no maligno." Em seguida, adverte-nos: "Filhinhos, guardai-vos dos ídolos." Ídolos como a fama e o poder. Essa é uma das razões porque os momentos devocionais com o Senhor têm tanto valor. Ilumi­nam o foco de nossa vida. Corrigem nossa visão. Incendeiam nosso louvor. Redirecionam nossas prioridades. Tiram nossa atenção deste planeta, e colocam-na em coisas eternas.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Alvos da tentação


Poder. Fama. Riqueza. Prazer.

No que concerne às tentações, aqui estão os maiores vilões.
Não é que não existam outras armadilhas e tropeços. Exis­tem, e quantos! Mas os quatro acima representam nossos elos mais fracos na corrente de resistência; as aberturas mais vi­síveis em nossa armadura. Se o inimigo de nossas almas deseja lançar um de seus "dardos inflamados" num ponto em que produzirá maior impacto, fará uma escolha dentre estes quatro principais alvos.


PODER

Os que buscam o poder desejam controlar, governar os outros. Querem ocupar cargos de autoridade e fazer as coisas à sua maneira, conforme sua vontade. Manipulam e manobram as pessoas, a fim de ficar em posição de autoridade, de tal maneira que consigam dominar os outros e mantê-los obe­dientes. Embora alguns consigam realizar isto como mestres da fraude, escondendo a verdade por detrás de máscaras sor­ridentes e palavras piedosas, seu estilo dominador torna-se evidente quando as pessoas que supostamente deveriam obe­decer não obedecem e, ao contrário, exercem alguma forma de independência criativa e sadia. "Anátema!" grita o ditador. E zás! o chicote entra em ação. As pessoas que anseiam pelo poder demonstram mínima tolerância pelos indivíduos que pensam com suas próprias cabeças e falam segundo suas pró­prias idéias.
Por alguma estranha razão, as fileiras religiosas estão incha­das de pessoas que sucumbiram diante desta forma especial de tentação. Dê a certas pessoas autoridade suficiente para liderar, conhecimento bíblico suficiente para citações escriturísticas e necessidade de obter sucesso, e não passará muito tempo para você pensar que César se reencarnou. Não é de surpreender que Pedro, ao dirigir-se aos que pastoreiam o rebanho de Deus, advertiu-os contra serem "dominadores dos que vos foram confiados". Líderes enlouquecidos pelo anseio de poder esmagam mais ovelhas do que poderíamos imaginar. A tragédia particular disto é que as ovelhas esmagadas não se reproduzem e, além disso, raramente se re­cuperam de todo.
Aguarde, em breve discorreremos sobre os outros alvos da tentação.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Uma outra forma de pregar o evangelho


Funciona mais ou menos assim: O pregador anuncia para o auditório que todos estão perdidos e precisam de salvação. Necessitam se arrepender, pedir perdão e aceitar a Jesus como salvador. Só assim serão salvos. Após a prédica o orador faz um apelo. Quem quiser ser salvo deve levantar a mão e ir até à frente. Repetidas umas frases, a pessoa está salva.

Esse é um modelo clássico de pregação evangelística. Existem outros muito mais apelativos e até constrangedores, mas esse é o tradicional. O problema é o seguinte: será que as respostas dadas nesse tipo de pregação respondem as perguntas que as pessoas estão se fazendo na atualidade?

Vamos imaginar esse tipo de pregação sendo ministrada a uma adolescente de 13 anos que foi violentada sexualmente pelo próprio pai, que está machucada no corpo, na alma, no coração, nos sentimentos. Ela já não tem referenciais porque quem devia protegê-la foi o algoz e abusador. Acho que pode passar pela mente dela as seguintes questões: Do que preciso me arrepender? Preciso pedir perdão de quê? Serei salva do quê para quê? Tenho que aceitar um Deus que vai perdoar quem me violentou?

O discurso da pregação tradicional e formulada com base em regrinhas pré-moldadas importadas de uma eclesiologia pragmática não faz o menor sentido num contexto desses. A pregação da salvação, nos moldes daquele orador do início do texto vai cair no vazio para quem está envolto em tamanhas tragédias.

As elaborações acerca da justificação, expiação, santificação, eleição, etc, não vão comunicar, de forma alguma, o amor de Deus ao coração de uma pessoa quem nem perguntou nada disso e que, por conta da maldade alheia, foi envolvida numa espiral de dor e sofrimento. Ela só quer alívio para sua dor e esperança de dias melhores.

Diante da dor de uma menina violentada pelo próprio pai ou por qualquer outra pessoa, nossas discussões acerca da melhor verdade ou da mais reta doutrina, deveriam nos causar vergonha e rubor na face. De que adianta sair vencedor de um debate doutrinário, se somos impotentes para dar uma resposta ao sofrimento humano? Se somos covardes ou acomodados de tal forma que preferimos levantar a mão numa canção pasteurizada de “louvor” a Deus, mas somos incapazes de estender a mão para aliviar a dor de quem sofre.

Aquela menina vítima de 13 anos também é alvo do amor de Deus. Como pregar o evangelho para ela? Creio que há, sim, uma forma. Acolher, amar, estender a mão, tentar livrá-la das culpas que ela certamente carrega fazendo-a enxergar que ela é querida, amada, e que há, ainda, pessoas em quem ela pode confiar. Sentar-se ao lado dela sem dizer palavra alguma, mas deixar bem claro que ela tem com quem contar. Talvez assim, ela consiga enxergar Jesus no rosto de quem estiver ao seu redor, cuidando dela. Talvez ela consiga enxergar Jesus no rosto de uma psicóloga comprometida com a causa da justiça, talvez no rosto de um funcionário de um abrigo, talvez no sorriso acolhedor de quem lhe preparou uma refeição, talvez no gesto de um voluntário que abriu mão de uma tarde de sábado ou domingo para lhe contar estórias ou para ouvir suas histórias.
As pessoas que agem assim são pregadoras do Evangelho de Jesus Cristo, ainda que não saibam. Estão seguindo a recomendação de Francisco de Assis: “Pregue o evangelho em todo o tempo. Se necessário, use palavras.”

Por Marcio Rosa

Os teimosos soldadinhos de chumbo


O Filho de Deus se fez homem para que os homens pudessem tornar-se filhos de Deus. Não sabemos - eu, pelo menos, não sei — como as coisas seriam se a raça humana nunca tivesse se rebelado contra Deus e se aliado ao inimigo. Talvez todos os homens vivessem "em Cristo", compartilhassem desde o nascimento a vida do Filho de Deus. Talvez a vida que chamamos de bíos, a vida natural, tivesse sido assumida e incorporada a zoé, a vida incriada, de imediato e de uma vez por todas. Mas isso não passa de um palpite. O que nos interessa é a situação tal como se apresenta para nós agora.

O atual estado de coisas é o seguinte: os dois tipos de vida são não apenas completamente diferentes entre si (o que sempre foram e sempre serão), mas também opostos. A vida natural de cada um de nós é uma coisa egocêntrica, que quer ser paparicada e admirada, quer tirar vantagem das outras vidas e usar para seu proveito o universo inteiro. Acima de tudo, ela quer ser deixada em paz: quer distância de tudo que possa ser melhor, mais forte ou mais elevado que ela, tudo que possa revelar a sua pequenez. Tem medo da luz e do ar fresco do mundo espiritual, da mesma forma que as pessoas que foram criadas sem higiene não gostam de tomar banho. Num sentido, ela tem toda a razão, pois sabe que, se cair nas garras da vida espiritual, seu egocentrismo e sua vontade própria serão exterminados. Assim, luta com unhas e dentes para que isso não aconteça.

Você nunca imaginou, quando era pequeno, como seria divertido se seus brinquedos ganhassem vida? Bem, imagine que você tivesse efetivamente o poder de dar-lhes vida. Imagine que pudesse transformar um soldadinho de chumbo num homenzinho de verdade. O chumbo teria de transformar-se em carne. Imagine que o soldadinho não gostasse da mudança. A carne não o interessa; tudo o que ele vê é o chumbo arruinado. Pensa que você quer matá-lo e fará tudo o que puder para impedi-lo. Se isso estiver ao seu alcance, não se deixará transformar em homem de jeito nenhum.

O que você faria com esse soldadinho eu não sei, mas o que Deus fez com o gênero humano foi o seguinte: a Segunda Pessoa de Deus, o Filho, tornou-se ele mesmo um homem: nasceu em nosso mundo como um homem — uma pessoa real, que falava determinada língua, tinha determinada altura, determinado peso e uma certa cor de cabelo. O Ser Eterno, que tudo sabe e criou todo o universo, tornou-se não apenas um homem, mas (antes disso) um bebê e, antes disso ainda, um feto dentro do corpo de uma mulher. Se quer saber como ele deve ter se sentido, imagine se você se transformasse numa lesma ou num caranguejo.

Como resultado, houve um homem que foi de fato como todos os seres humanos deveriam ser: um homem cuja vida criada, herdada de sua mãe, deixou-se assimilar completa e perfeitamente pela vida gerada. Nele, a criatura humana natural foi plenamente assumida pelo divino Filho. Assim, num caso particular, a humanidade chegou, por assim dizer, aonde tinha de chegar: passou à vida de Cristo. E, uma vez que toda a nossa dificuldade reside no fato de que, em certo sentido, a vida natural tem de ser "morta", ele escolheu um caminho terreno marcado pela morte cotidiana de todos os seus desejos humanos — escolheu a pobreza, a incompreensão de sua própria família, a traição de um de seus amigos íntimos, a zombaria e o espancamento nas mãos da polícia e a execução mediante tortura. E então, depois de ser morta - morta, de certa maneira, a cada dia -, a criatura humana que nele havia, por ser unida ao divino Filho, voltou de novo à vida. O homem em Cristo ressuscitou: não apenas o Deus. Tudo se resume a isto. Pela primeira vez vimos um homem de verdade. Um soldadinho de brinquedo - feito de chumbo como todos os outros - se tornou esplêndida e totalmente vivo.

C. S. Lewis
Cristianismo puro e simples

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A parábola da bola


Os dez homens importantes sentados ao redor da bola discutiam acaloradamente:– A bola é grená, disse um.– Claro que não, a bola é bordô, retrucou outro em tom raivoso.Todos estavam fascinados pela beleza da bola e tentavam discernir a cor da bola. Cada um apresentava seu argumento tentando convencer os demais, acreditando que sabia qual era a cor da bola. A bola, no centro da sala, calada sob um raio de sol que entrava pela janela, enchia a sala de uma luminosidade agradável que deixava o ambiente ainda mais aconchegante, exceto para aqueles dez homens importantes, que se ocupavam em defender seus pontos de vista.

– Você é cego?, ecoou pela sala gerando um silêncio que parecia ter sido combinado entre os outros nove homens importantes. Era até engraçado de observar a discussão – na verdade era trágico, mas parecia cômico. Todos os dez homens importantes usavam óculos escuros, cada um com uma lente diferente. Talvez por causa dos óculos pesados que usavam, um deles gritou “você é cego?”, pois pareciam mesmo cegos.

Depois do susto, a discussão recomeçou. O sujeito que acreditava que a bola era cor de vinho debatia com o que enxergava a bola alaranjada, mas um não ouvia o que o outro dizia, pois cada um usava o tempo em que o outro estava falando para pensar em novos argumentos para justificar sua verdade. Aos poucos, a discussão deixou de ser a respeito da cor da bola, e passou a ser uma troca de opiniões e afirmações contundentes a respeito das supostas cores da bola. A partir de um determinado momento que ninguém saberia dizer ao certo quando, os dez homens tiraram os olhos da bola e passaram a refutar uns ao outros. Em vez de sugestões do tipo: – A bola é vermelha, todos se precipitavam em listar razões porque a bola não era grená, nem cor de vinho, nem mesmo alaranjada.

De repente, alguém gritou: – Ei pessoal, onde está a bola? Todos pararam de falar – estavam todos falando ao mesmo tempo, e foi então que perceberam um alarido parecido com aquelas gargalhadas gostosas que as crianças dão quando sentem cócegas. Correram para a janela e viram uma criançada brincando com a bola, que parecia feliz sendo jogada de mão em mão. Ficaram enfurecidos com tamanho desrespeito com a bola. Ficaram também muito contrariados com a bola, que parecia tão feliz, mas não tiveram coragem de admitir, afinal, a bola, era a bola.

Lá fora, sem dar a mínima para os dez homens importantes, estavam as crianças brincando e se divertindo a valer com a bola que os dez homens importantes pensavam que era deles. E nenhuma das crianças sabia qual era a cor da bola.

Autor desconhecido

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