quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Fé e soberania de Deus


Recentemente terminei uma série de estudos na carta de Paulo aos Romanos. Como sempre acontece, a leitura de Romanos instigou o pensamento dos crentes, fazendo-os contemplar com maior clareza o Deus soberano que os salvou, bem como o modo como ele salva.

Um dos pontos de tensão na carta é a aparente dualidade entre a fé e a soberania de Deus, tanto que alguns escritores evangélicos, na tentativa de conciliar a fé (do homem) e a soberania (de Deus), acabam por optar pelo sinergismo, que é a crença de que o homem pode cooperar com Deus para a sua salvação. Definitivamente, não creio assim. Estou convencido de que a soberania de Deus não deixa nenhum espaço para a glorificação humana.

A aparente tensão somente surge quando ignoramos o fato de que a fé (do homem) é também a fé de Deus. Senão, vejamos:

Primeiramente devemos perceber que a fé é um dom de Deus. Isso está claro em passagens como Filipenses 1.29 (onde está escrito que a nós foi concedido crer), em Hebreus 12.2 (onde Cristo é o autor e consumador da nossa fé), e de um modo muito especial em Efésios 2.8, onde a salvação de graça e por meio da fé aparece claramente como um dom de Deus. Poderíamos ainda mencionar Pedro, quando este diz que Deus, por seu divino poder, nos concedeu “tudo que diz respeito à vida e a piedade” (2Pd 1.3) e também Tiago, quando afirma que toda “boa dádiva e dom perfeito vem de Deus” (Tg 1.17), mas creio que estas referências são suficientes.

O segundo ponto que quero aclarar é que a fé, sendo um dom de Deus, é irrevogável. Isso encontramos em Romanos 11.29, onde Paulo diz que “os dons de Deus e o seu chamado são irrevogáveis”. Sendo assim, podemos afirmar que um crente verdadeiro pode apresentar uma fé fraca ou forte, mas ele sempre terá fé. No entanto, não ignoro que alguns, tendo conhecido o evangelho, se distanciam, aparentando perder a fé. Estes, na realidade, apenas aparentavam fé, pois nunca a tiveram (1Jo 2.19).

Em terceiro lugar, gostaria de esclarecer que nem todas as pessoas possuem fé salvífica. Obviamente existe um tipo de fé comum a todos os homens, como a fé nos ídolos ou em si mesmos, mas nem todos possuem fé para a salvação. Paulo aos Tessalonicenses disse que “a fé não é de todos” (2Ts 3.2), e isso pode ser percebido também quando observamos ao nosso redor e fatalmente constatamos que nem todos se salvam. Ora, por alguma razão Deus decidiu não conceder a fé, que é um dom dEle, a todos os homens.

Agora, a razão porque Deus escolheu dar a fé a alguns homens não pode ser a bondade do próprio homem (pois assim a salvação seria por obras), nem mesmo algo intrínseco ao homem (porque neste caso a glória seria do homem). Por isso afirmamos que a única razão coerente porque Deus decidiu dar a fé a alguns homens é a sua livre vontade, ou soberania.

Nosso quarto ponto visa responder a seguinte pergunta: “Uma vez que a fé é um dom de Deus, irrevogável e não é de todos, então a quem Deus dá a fé?”. A resposta a esta pergunta é que somente os escolhidos de Deus terão fé. Veja, por exemplo, o modo como Paulo começa a escrever sua carta a Tito: “Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de Deus (...)” (Tt 1.1). Observe aqui que a fé é um presente de Deus aos que ele escolheu. Também Lucas, em Atos dos Apóstolos, narra que “creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna” (At 13.48). Somente aqueles que estavam ordenados para a vida eterna puderam crer.

A suma destas coisas é que, sabendo que a fé que o homem exerce é um dom de Deus, não convém repetir o já desgastado jargão “Salvação: Soberania de Deus; decisão sábia do homem”, uma vez que a salvação não é um projeto com participação humana, antes, é um projeto de Deus e uma decisão soberana de Deus que redundou em uma resposta humana. Também não devemos supor que nossa fé é a causa da eleição, pois primeiro foi a eleição (Ef 1.4), e depois veio a fé.


Por Leonardo Gonçalves do Blog Púlpito Cristão

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Engana que eu gosto


As culturas devem ser lidas nas linhas e entrelinhas. As linhas falam da coisa em si. As entrelinhas falam do espírito da coisa. As entrelinhas podem distorcer e até mesmo destruir o que está dito nas linhas.

Com a cultura cristã não é diferente. Veja o exemplo da assinatura da Igreja Universal do Reino de Deus, a saber, Jesus Cristo é o Senhor. De acordo com o Novo Testamento, isso significa que devemos viver como escravos dos propósitos de Jesus Cristo: ele manda e a gente obedece, ele propõe e a gente executa, ele dirige e a gente segue, pois afinal de contas, Ele é o Senhor. Mas na cultura da IURD, e de boa parte do movimento evangélico, as entrelinhas dessa afirmação fazem com que ela signifique que Jesus pode realizar todos os seus desejos, afinal de contas Ele é o Senhor. A relação fica invertida: você clama e ele responde, você reivindica e ele atende, você pede com fé e ele lhe dá o que foi pedido, você participa da corrente de oração e se submete aos 318 pastores e Jesus faz a sua vida próspera e confortável, pois Jesus Cristo é o Senhor e você é “filho do rei”, de modo que não há qualquer motivo para que você continue nessa vida miserável, daí a segunda convocação da IURD: “para de sofrer”.

Percebe como as linhas dizem uma coisa e as entrelinhas dizem outra?

O movimento evangélico é mestre em fazer confusão e promover distorção do Evangelho em virtude desse jogo de linhas e entrelinhas. Um exemplo disso é a mensagem VAI DAR TUDO CERTO, que recebi outro dia.

Eis a mensagem:

SALMO 22
VAI DAR TUDO CERTO

DEUS me pediu que te dissesse que tudo irá bem contigo a partir de agora. 
Você tem sido destinado para ser uma pessoa vitoriosa e conseguirá todos teus objetivos.
Nos dias que restam deste ano se dissiparão todas as tuas agonias e chegará à vitória. 
Esta manhã bati na porta do céu e DEUS me perguntou… 
’Filho, que posso fazer por você ?’ 
Respondi: 
’Pai, por favor, protege e bendiz a pessoa que está lendo esta mensagem’.
DEUS sorriu e confirmou: ‘Petição concedida’. 
Leia em voz baixa… 
’Senhor Jesus : 
Perdoa meus pecados. 
Amo-te muito, te necessito sempre, estás no mais profundo de meu coração, cobre com tua luz preciosa a minha família, minha casa, meu lugar, meu emprego, minhas finanças, meus sonhos, meus projetos e a meus amigos’. 
Passe esta oração a 5 pessoas, no mínimo. 
Receberás um milagre amanhã. 
Não o ignore.

Deus tem visto suas Lutas.
Deus diz que elas estão chegando ao fim.
Uma benção está vindo em sua direção.
Se você crê em Deus, por favor envie esta mensagem para 20 amigos.
Se acredita em Deus envia esta mensagem a 20 pessoas,
se rejeitar lembre Jesus disse:
“se me negas entre os homens, te negarei diante do pai” Dentro de 4 minutos te dirão uma notícia boa.

Deixo de lado a crítica gramatical e o péssimo uso da lingua portuguesa. Dedico minha atenção ao conteúdo da mensagem que, travestida de cristã, é absolutamente anti-cristã: mentirosa, fantasiosa, desprovida de qualquer sentido bíblico, desalinhada com o todo do ensino e experiência de Jesus, seus apóstolos, e seus primeiros seguidores, totalmente alinhada com os dircursos baratos da auto-ajuda e da enganação religiosa, enfim, uma versão barata e piedosinha da superstição sincrética do espiritualismo popular.

A afirmação “vai dar tudo certo”, lida de acordo com as linhas do Novo Testamento, significaria, por exemplo, que os propósitos de Deus prevalecerão, a marcha da igreja de Jesus Cristo contra os poderes do mal será vitoriosa, a vontade de Deus será um dia feita na terra como o céu. Mas também significaria que os seguidores de Jesus seriam sempre ovelhas em meio aos lobos [Mateus 10.16], odiados pelo sistema sócio-político-econômico anti-reino de Deus, ameaçados de morte, rejeitados, caluniados, e perseguidos por causa do nome de Jesus [Mateus 5.10-12], e passariam por muito sofrimento e tribulação antes de receberam a vitória plena no reino leterno de Deus [Atos 14.22]. Isto é, antes de dar tudo certo, daria tudo errado.

A convicção de que “em Cristo somos mais que vencedores” [Romanos 8.37], e que “em Cristo Deus sempre nos conduz em triunfo” [2Coríntios 2.14], é também acompanhada de uma profunda compreensão a respeito dos custos de se colocar ao lado de Deus e do reino de Deus, em oposição à injustiça e aos agentes promotores e mantenedores da morte no mundo: ”Porque me parece que Deus nos colocou a nós, os apóstolos, em último lugar, como condenados à morte. Viemos a ser um espetáculo para o mundo, tanto diante de anjos como de homens. Nós somos loucos por causa de Cristo, mas vocês são sensatos em Cristo! Nós somos fracos, mas vocês são fortes! Vocês são respeitados, mas nós somos desprezados! Até agora estamos passando fome, sede e necessidade de roupas, estamos sendo tratados brutalmente, não temos residência certa e trabalhamos arduamente com nossas próprias mãos. Quando somos amaldiçoados, abençoamos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, respondemos amavelmente. Até agora nos tornamos a escória da terra, o lixo do mundo” 
[1Coríntios 4.9-13].

Fica, portanto, muito evidente que quando os cristãos do Novo Testamento diziam que “vai dar tudo certo” estavam afirmando coisas completamente diferentes dessas afirmadas na mensagem que recebi pela internet, que diz:

”Tudo irá bem contigo a partir de agora”; “Você tem sido destinado para ser uma pessoa vitoriosa e conseguirá todos teus objetivos”; “Nos dias que restam deste ano se dissiparão todas as tuas agonias e chegará à vitória”; “Cobre com tua luz preciosa a minha família, minha casa, meu lugar, meu emprego, minhas finanças, meus sonhos, meus projetos e a meus amigos”; “Receberás um milagre amanhã”; “Uma benção está vindo em sua direção”; “Dentro de 4 minutos te dirão uma notícia boa”.

Meu amigo, minha amiga, não é verdade que “tudo irá bem contigo a partir de agora”, e também não é verdade que “você tem sido destinado para ser uma pessoa vitoriosa e conseguirá todos teus objetivos”. Não se iluda, pois não é verdade que “nos dias que restam deste ano se dissiparão todas as tuas agonias e chegará à vitória”. Preste atenção: o compromisso cristão não suplica que Deus cubra com sua luz “minha família, minha casa, meu lugar, meu emprego, minhas finanças, meus sonhos, meus projetos e a meus amigos”. Na verdade, o compromisso cristão exige que você deixe de viver para seus sonhos, seus planos e seus projetos e passe a viver para Deus, pois, como ensina a Bíblia, “o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou“ [2Coríntios 5.14,15], e justamente por isso é que quem deseja seguir a Jesus deve lmebrar o que Jesus disse:

”Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, a encontrará. Pois, que adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o homem poderá dar em troca de sua alma?” [Mateus 16.24-26].

Também não é verdade que “receberás um milagre amanhã” e que “dentro de quatro minutos te dirão uma notícia boa”.

Pelo amor de Deus, jogue fora esse evangelho açucarado, que promete o que Deus jamais prometeu, e gera falsas esperanças nas pessoas. Respeite o sofrimento e a dor das milhares de pessoas que, apesar de sua fé, e talvez justamente por causa de sua fé, passam fome, não têm mínimas condições de sobrevivência, sofrem as consequências de tragédias pessoais e fatalidades naturais, são vítimas de um sistema político e econômico cruel, que as condena à escravidão e a uma vida sem futuro. Lembre dos cristãos que vivem na África, na Índia, na América Latina, e nos rincões miseráveis do Brasil. Seja solidário com as minorias: os negros escravizados, as mulheres violentadas, as crianças abusadas, as populações indígenas dizimadas, os refugiados de guerra, os perseguidos políticos, os desaparecidos. Respeite a grandeza dos cristãos perseguidos e mortos sob a tirania do fundamentalismo terrorista islâmico (diferente do Islã) e dos regimes políticos ateístas. Pense um pouco se essa mensagem “vai dar tudo certo, todos os seus sonhos se realizarão, você vai receber um milagre amanhã” faz algum sentido na ala infantil do Hospital do Câncer, no campo de refugiados (mutilados) de Angola, ou nos casebres secos do sertão brasileiro.

Construa sua fé sobre um alicerce mais sólido. Por exemplo, o Salmo 22, aviltado com essa mensagenzinha “vai dar tudo certo”. Aliás, é bom lembrar que Bíblia não é um livro que pode ser manuseado por qualquer pessoa, de qualquer jeito. Da mesma maneira que não é qualquer pessoa que pode dar palpite a respeito do direito, de medicina, da engenharia, ou do marketing, também a teologia exige um mínimo de preparo, senão, muito preparo mesmo. Digo isso porque talvez o autor dessa mensagenzinha não saiba que o Salmo 22 é um dos Salmos messiânicos, que profetiza o sofrimento e o fracasso do Messias, que foi (1) abandonado por Deus e pelos homens [Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? Por que estás tão longe de salvar-me, tão longe dos meus gritos de angústia? Meu Deus! Eu clamo de dia, mas não respondes; de noite, e não recebo alívio! Não fiques distante de mim, pois a angústia está perto e não há ninguém que me socorra], (2) rejeitado [Mas eu sou verme, e não homem, motivo de zombaria e objeto de desprezo do povo], (3) insultado [Caçoam de mim todos os que me vêem; balançando a cabeça, lançam insultos contra mim], (4) dilacerado pela dor que lhe foi brutalmente imposta [Como água me derramei, e todos os meus ossos estão desconjuntados. Meu coração se tornou como cera; derreteu-se no meu íntimo. Meu vigor secou-se como um caco de barro, e a minha língua gruda no céu da boca; deixaste-me no pó, à beira da morte. Cães me rodearam! Um bando de homens maus me cercou! Perfuraram minhas mãos e meus pés], e por fim (5) cuspido na cara e crucificado como impostor.

Para esse Messias não deu nada certo. Ele não recebeu uma boa notícia quatro minutos após sua agonia no Getsêmani, e também não recebeu um milagre no dia seguinte. No dia seguinte foi crucificado.

Mas esse Messias, apresentado pelo profeta como “homem de dores, que sabe o que é padecer” [Isaías 53], “Deus exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” [Filipenses 2.9-11]. Isso sim é dar tudo certo.
Provavelmente alguém vai dizer que é isso o que a mensagenzinha quis dizer. Mas não foi. Nas linhas, pode ter sido. Mas no contexto da religiosidade popular e da subcultura evangélica, a mensagenzinha sugeriu que “os seus sonhos e os seus projetos” darão certo, e que você pode esperar para amanhã aquela resposta milagrosa de Deus para resolver seus problemas e dificuldades particulares, e que em quatro minutos você vai receber uma notícia boa, muito provavelmente trazendo a você uma benção na forma de conforto e prosperidade.

Em síntese, a mensagenzinha pode ser interessante, pode trazer uma esperança e um conforto para quem está lutando contra um sofrimento ou uma dificuldade medonha, e pode até mesmo trazer um alívio do tipo “eu sei que não é bem assim, mas é bom pensar que é, ou acreditar que pode ser”. Mas definitivamente essa mensagenzinha não tem nada a ver com o Evangelho de Jesus Cristo.
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Por Ed René Kivitz

Ensaio sobre uma queda


Ted Haggard era até semana passada pastor principal da New Life Church, uma mega-igreja com 14 mil membros e dezenas de ramificações sediada em Colorado Springs. Um dos evangélicos mais influentes dos Estados Unidos, Haggard era presidente da Associação Evangélica Norte-Americana (que reúne 45.000 igrejas e 30 milhões de membros) e tinha encontros semanais com o presidente Bush e outros oficiais da Casa Branca. Ted Haggard era porta-voz exemplar dos valores associados aos evangélicos tradicionais, defendendo por exemplo o criacionismo contra ateístas articulados e ativistas como Richard Dawkins, e participando ativamente da campanha para limitar os direitos dos homossexuais no seu estado.

Na quinta-feira Haggard afastou-se voluntariamente de seus cargos na igreja e na Associação Evangélica, a partir de uma acusação de envolvimento com drogas e prostituição. Um sujeito chamado Mike Jones, ex-prostituto homossexual, alegara numa entrevista que durante três anos tinha vendido acesso a seu corpo e à droga meth a um homem que descobriu mais tarde, assistindo televisão, ser o pastor Haggard.

Mike Jones, que se afirma cristão, disse que o que motivou a vir a público com a sua denúncia foi descobrir que Ted Haggard e sua igreja apoiavam ativamente a proposta para tornar ilegal no Colorado o casamento de homossexuais. “Chorei muitas noites, em dúvida sobre se deveria fazer isso… mas concluí que era a coisa certa a se fazer”. Segundo Jones ele e Haggard viam-se cerca de uma vez por mês, e o pastor pagava 200 dólares em dinheiro por uma sessão de menos de uma hora. “Não era emocional”, garante Jones. “Era coisa física, estritamente física”. Jones afirmava ainda ter gravações “reveladoras” da voz de Haggard tiradas da sua secretária eletrônica.

A primeira reação de Haggard foi negar por completo as acusações. “Nunca tive um relacionamento homossexual com quem quer que seja. Estou firme com a minha esposa. Sou fiel à minha esposa,” disse Haggard, que é casado e tem cinco filhos. Perguntado se conhecia seu acusador, Mike Jones, garantiu que não, explicando ainda que afastara-se temporariamente do pastorado porque não podia “continuar a ministrar debaixo da nuvem criada pelas acusações feitas na entrevista de rádio desta manhã”.

No dia seguinte Haggard viu-se forçado a modificar sua versão. Ele agora admitia ter recebido uma massagem do homem que o acusava, mas negava ter mantido relações sexuais com ele; confessava ter comprado metanfetamina, mas “tinha comprado por curiosidade e jogado fora”. Para acreditar nessa versão era preciso mais fé do que na primeira, mas os membros da New Life Church estavam ali para fornecer esse improvável apoio. “A reação na igreja foi de tristeza e surpresa”, disse um dos pastores associados, “mas acreditamos nele. Estamos do lado dele”.

No sábado, no entanto, o corpo administrativo da igreja decidiu pela exclusão definitiva de Haggard, porque uma investigação interna havia “provado sem qualquer dúvida que o pastor Haggard cometeu conduta sexual imoral”.

Um trecho da declaração:

"O texto do estatuto da nossa igreja afirma que na qualidade de supervisores devemos decidir, em casos em que o pastor principal demonstrou “conduta imoral”, se devemos “afastar o pastor de sua posição ou discipliná-lo do modo como acharmos necessário”.
Em consulta com líderes evangélicos e especialistas no tipo de comportamento demonstrado pelo pastor Haggard, decidimos que a medida mais positiva e produtiva para nossa igreja é sua dispensa e remoção (dismissal and removal)."

Finalmente, pressionado por todos os lados e três dias depois da acusação inicial, Haggard admitiu, numa carta lida para sua congregação no domingo de manhã, ser culpado de “imoralidade sexual” e de ter cedido aos impulsos “sombrios e repulsivos” (dark and repulsive) que o “perseguiram durante toda a vida”.

Trechos da carta:

"Por longos períodos eu conseguia desfrutar da vitória e regozijar-me na liberdade. Mas periodicamente a sujeira de que eu pensava ter me livrado voltava à superfície, e eu me pegava acalentando idéias e experimentando desejos contrários a tudo que eu cria e ensinava.
As acusações feitas contra mim não são todas verdadeiras, mas uma porção suficiente delas é verdadeira para justificar que eu tenha sido afastado."

* * *

Ted Haggard não é o primeiro pastor evangélico envolvido num escândalo sexual extra-marital, mas é certamente o primeiro do seu porte a ser pressionado a admitir uma transgressão que é tida nesse meio como particularmente abominável e sórdida, a relação sexual entre homens.

O que acho revelador neste caso é que no fim das contas, para si mesmo e para seus pares, a transgressão essencial de Haggard foi mesmo ter cedido a uma “conduta sexual imoral”. Qualquer outra eventual falha de caráter não é para comparar com a enormidade dessa baixeza, e é manifestamente por causa dela que o corpo administrativo da igreja viu-se forçado a remover do cargo o seu pastor. As verdadeiras falhas morais, fica implícito nessa reação coreografada, são todas da carne, e devemos orar no sentido de ver restaurada a castidade do pastor.

Essa linguagem supostamente piedosa só serve como cortina de fumaça para encobrir a verdade, que o pecado essencial de Haggard não foi – e nunca é – sexual.

Os cristãos podem ostentar um longo currículo de glorificação do sexo via sua demonização, mas não era assim no tempo e na ótica de Jesus. É natural que Jesus não ignorava o terrível potencial do sexo para promover o rompimento de relações entre gente que deveria se amar e respeitar; no seu tempo o emblema mais evidente desse potencial estava no adultério.

A diferença está em que Jesus não escolhia ignorar, como fazemos, que a imoralidade sexual (entendida como qualquer desejo ou conduta sexual que acaba promovendo alguma ruptura num relacionamento que deveria se caracterizar pela integridade) é coisa tão generalizada que se formos julgados ou julgar por ela não restará um sequer para continuar tocando o barco.

Para começar, Jesus minou nossas mais queridas seguranças quando opinou que sexo na cabeça é indistinguível do sexo no corpo: basta desejar uma mulher para ter adulterado com ela “no coração”. Jesus não estava com isso sustentando a ilusão de que com alguma disciplina nossas cabeças podem viver livres de imoralidade sexual; ele queria demonstrar o contrário, que os mais castos na carne permanecem ainda culpados dela.

Para Jesus, que não tinha aparentemente as nossas ilusões, a imoralidade sexual é coisa generalizada: um homem não vai pagar um prostituto apenas por uma massagem, e uma mulher não vai tirar água do poço fora de hora se não tiver mais do que um marido para esconder. O espírito pode estar muito vivo e bem-disposto, mas a carne não está morta. Numa das passagens mais esclarecedoras da sua postura a respeito do assunto, Jesus pede aos fariseus que estão “sem pecado” que atirem a primeira pedra numa mulher apanhada em adultério. Tremendamente mais honestos do que nós, os desafiados afastam-se um a um, dos mais velhos aos mais jovens. A coragem e honestidade desses homens fica enfatizada na confissão tácita, devido à peculiaridade da circunstância, de que seu pecado também era de natureza sexual. Os fariseus daquela época eram – pasme-se – menos fariseus do que nós.

Finalmente, quando todos os acusadores partem sentindo-se culpados e deixando em paz a mulher adúltera, Jesus exibe uma postura inesperada e maravilhosa, que os cristãos de todas as épocas têm encontrado a maior dificuldade para engolir. O Filho do Homem rejeita a solução simples que seria dizer “Eu te perdôo” antes de concluir com o conhecido “Vá e não peques mais”.

Embora reconheça a pisada de bola da mulher e recomende que ela não caia mais nessa roubada, o que Jesus diz a respeito da conduta da adúltera é – surpreendentemente, terrivelmente, inconcebivelmente – “Eu também não te condeno”.

O termo grego para condenar pode ser traduzido intercambiavelmente como “julgar”. A postura de Jesus nessa passagem pode ser então reconstruída da seguinte forma: “como vejo que o pecado sexual é coisa tão generalizada e inescapável (‘onde estão os que te acusavam?’), recuso-me a julgar você a partir dela. Agora me deixe em paz escrevendo na areia antes que eu perca o fio da meada. E não me faça mais isso”.

A posição de Jesus a respeito da imoralidade sexual é essencialmente essa: eu não condeno você. Há naturalmente o adendo, “não faça mais isso”, mas esse condição só se torna ao mesmo tempo concebível e atraente quando você absorve a manignanimidade da postura inicial. Esse sujeito saca qual é a minha e mesmo assim não me rejeita. Ele conhece meus impulsos e atos mais “repulsivos e sombrios”, e só pede que eu não ceda a eles por amor à minha integridade, e com a autoridade singular de quem não me condena por eles.

Enquanto isso vejo as imagens de arquivo da congregação da New Life Church chorando diante da leitura da carta em que Ted Haggard confessa sua imoralidade sexual. Nosso grande e querido líder caiu na carne e da forma mais grotesca, é o que sentem e lamentam os membros daquela igreja, convidando-nos assim a sentir e lamentar o mesmo. Porém se choramos por essa razão pré-codificada demonstramos não ter uma sombra da maturidade de Jesus, que sabia que o teor da carta de Haggard poderia permanecer inalterado e se aplicaria ainda assim a todos e a qualquer um. Qualquer membro da New Life Church, qualquer cristão de qualquer época; eu, meu pai, minhas irmãs, todos os papas, Billy Graham, Madre Teresa, Martin Luther King ou Martinho Lutero. Não há um santo sequer, não há um com a ficha limpa em atos e intenções. Deveríamos estar chorando a nossa própria incongruência, e não celebrando com nossas lágrimas a captura de mais um conveniente bode expiatório, em quem projetávamos a santidade que sabemos não ter.

Ainda mais revelador nas lágrimas da New Life Church diante dessa confissão de “imoralidade sexual” é que elas comprovam que os membros da igreja ansiavam por um líder que se definisse essencialmente pela sua castidade – dito de outra forma, ansiavam por um líder espiritual que se definisse pelo sexo. Eles não estariam chorando da mesma forma se Haggard tivesse sido apanhado meramente roubando um banco, transando drogas ou contratando um hitman para apagar Richard Dawkins. Uma igreja obcecada por sexo: é o que dois mil anos de cristianismo conseguiram produzir. Você, caro pastor, precisa ser dispensado e removido da nossa presença por não se mostrar à altura dos padrões que ninguém consegue seguir, mas pelos quais fingimos nos definir. Que venha outro que tenha a decência de manter seus impulsos no campo da intenção.

* * *

Eu não condeno você, é o que Jesus teria dito a Ted Haggard.

Não por isso, pelo menos.

Porque o mesmo Jesus que acolhia com paciência prostitutas, adúlteros e reincidentes (setenta vezes sete, e contando) não demonstrava um mínimo de compaixão diante de quem se rebaixava à hipocrisia. Da inconsistência sexual aparentemente ninguém escapa, mas cometer hipocrisia é que era para Jesus pecado particularmente abominável, o impulso “sombrio e repulsivo” por excelência. Ele reservava todo um repertório de imprecações (ninhada de víboras, impostores, carne em decomposição dentro de sepulturas bem pintadas) para condenar (agora sim) os que se alardeavam como santos e exigiam dos outros a postura que não sustentavam nem mesmo para si.

Ai de vós também, intérpretes da Lei! Porque sobrecarregais os homens com fardos superiores às suas forças, mas vós mesmos nem com um dedo os tocais.
Lucas 11:46

O Senhor, porém, lhe disse: Vós, fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e perversidade.
Lucas 11:39

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando!
Mateus 23:13

Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.
Mateus 15:7-9

Guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo!
Mateus 23:24

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia!
Mateus 23:27

Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.
Mateus 7:1-5

E castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes.
Mateus 24:51

A queda de Haggard deixou expostas não apenas a fragilidade do discurso evangélico, mas as engrenagens do mais essencial mecanismo psicanalítico: no campo sexual, sentimo-nos estranhamente atraídos e vivemos paradoxalmente obcecados por aquilo que passamos a vida condenando. Talvez seja por isso que a sentença eu-não-condeno-você de Jesus seja tão excepcionalmente rara: porque para proferi-la sem que seja só da boca para fora (e no meu caso é naturalmente apenas da boca para fora) é preciso que o sujeito não tenha ele mesmo nenhuma neura sexual.

O pecado que Haggard e seus amigos deveriam estar lamentando não é a imoralidade sexual, pela qual Jesus recusou-se a julgar, mas a hipocrisia, que ele não se cansava de denunciar. Concentrar nossa atenção no aspecto sexual da transgressão é mero artifício a fim de sustentar a farsa que a conduta insuficiente de Haggard ameaçou por um momento derrubar. Alguém coloque outro depressa no lugar: preciso de um homem para idealizar, e é pra agora.

A grande mancada de Ted Haggard foi a segunda. Não está em ter cometido a gafe de ser apanhado no que outros tomam maiores cuidados para não trazer a público, mas em recusar-se a encarar e expor a extensão da sua hipocrisia e da nossa.

A transgressão que deveria estar sendo exposta e chorada neste momento é a única que tirava do sério o homem que afirmamos seguir: a hipocrisia religiosa. A hipocrisia é uma forma brutal de incredulidade, de tirania e de rebelião. Hipócrita é quem vive gastando recursos para sustentar uma ilusão, porque prefere de longe esse terrível investimento a ter de enfrentar a realidade da sua insuficiência e contradição essencial. É pagar a máscara de sanidade para não ter de encarar a necessidade de recorrer ao médico. É desclassificar os outros por aquilo que nós mesmos não somos capazes de resolver. É projetar sobre os outros a culpa que é essencialmente nossa.

Jesus era conhecido por congraçar-se com pecadores e prostitutas; Ted Haggard, por outro lado, nunca mais será visto entre homossexuais, mesmo que já tenha descoberto que não precisava pagar para desfrutar da companhia deles.
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Extraído da Bacia das Almas
Por Paulo Brabo

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Quando o pensar ameaça


A igreja tem medo de pensar. A verdade assusta. Muitos são os que amam a ignorância porque não querem assumir as consequências do pensar. Muitos sofrem da síndrome do presídio: o medo da liberdade - por viver tantos anos preso o indivíduo, uma vez liberto, cometerá outro crime só para voltar ao único mundo que conhece - o mundo das regras e punições.

Esse tipo de fobia é o prato predileto dos políticos, dos coronéis sagrados, dos mini-Hitlers da fé, de todos que detém poder sobre a massa. É muito mais fácil governar uma massa burra, uma massa de manipulação garantida. Quando a massa pensa também ameaça.

O nível de leitura do evangélico brasileiro é horroroso. Sua teologia é tão vulnerável quanto seu compromisso. O nome da hora é confusão: o que somos? Protestantes, evangélicos, cristãos, crentes, gospel? Nossa (in)definição é tão turva quanto nossas (in)certezas. A coqueluche da prosperidade é só um efeito colateral da burrice gospel aliada à malandragem tupiniquim.

Faça um teste: coloque um cartaz bem grande na frente de sua igreja com os seguintes dizeres: "Campanha do pensamento teológico no mês da Reforma". O que você acha que acontecerá? Parece que vejo alguém perguntando: "Ih! O pastor já vai fazer outra reforma no templo?" Pensar dói...

R. A. Torrey disse: "Uma teologia frouxa leva a uma moralidade igualmente frouxa". Esse é o retrato do que se chama "evangélico" hoje. Como pode indivíduos charlatães se proliferarem como praga nas igrejas e isso ser normal? Como pode programas de tv absurdamente mercenários serem vistos por uma miríade de pessoas que ainda ajudam finaceiramente essa fábricas de ilusões? Como pode um pregador à lá Silvio Santos empobrecido levar plateias ao delírio? Como?

Pensar ameaça. Quem pensa é condenado à solidão. Ao ostracismo (que, convenhamos, dependendo da igreja, é uma bênção). Quem pensa incomoda, "puxa o tapete" dos "Ali Babás e seus milhares de ladrões". Quem pensa desespera os "irmãos metralhas" da celestialidade bandida. Pensar é uma arma de grosso calibre deflagrando cápsulas de realidade na cara feia dos magos do poder.

Pense!
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Por Alan Brizotti

domingo, 5 de dezembro de 2010

O Fluminense é tricampeão, e o Nelson Rodrigues já sabia

Foi suado, foi sofrido, mas o Brasil tem um novo velho campeão:
O Fluminense reencontra sua vocação e se reconcilia com o verbo “conquistar”, cultivado em suas veias, desde o berço.

“Ninguém conquista um título num único dia, numa única tarde. Não… Um título é todo sangue, todo suor e todo lágrimas de um campeonato inteiro.”

As palavras do gênio Nelson Rodrigues poderiam ter sido escritas há pouco, mas foram em 1969, após uma vitória épica num Fla-Flu.

Quarenta e um anos depois, o Fluminense reedita o “Profeta Tricolor”: foi, de longe, o time que mais liderou o campeonato, 23 rodadas.

Venceu com o verde da esperança, contra um Guarani surpreendentemente aplicado. Venceu com o sangue do encarnado, com gol difícil, vitória mínima, de importância máxima.

E sobretudo venceu não em uma, não em duas batalhas, mas em 38. Superou traumas recentes, perdeu sua casa, revestiu-se de coragem e resgatou sua glória.

Este Fluminense, “time de guerreiros”, primeiro e genuíno, que virou modelo para outros, germinado pelas mãos de Cuca, crescido saudável nos braços de Muricy.

Que nem sempre brilhou qual luz de um refletor, mas que fascina pela sua disciplina.
Que encanta pelo carisma e magia de Conca, genial e humilde argentino, eternizado no país de Pelé.

Que recheado de astros nem sempre presentes, sobreviveu e triunfou pela força de todos, pela união de um grupo, pela cartilha das Sandálias da Humildade.

Que deu à sua linda, gigantesca e apaixonada torcida o que ela merecia há tempos:
A clareza absoluta de que todo o sofrimento valeu a pena. A certeza de que fariam tudo de novo, apenas por este momento de êxtase.

“Vivos e mortos subiram as rampas. Os vivos saíram de suas casas… E os mortos de suas tumbas.”

As futuras gerações vão saber: em 5 de dezembro de 2010, num Engenhão engalanado, vivos e mortos saborearam o triunfo. E conheceram o mais nobre dos sentimentos: o amor, aquele que não se explica; apenas se sente.

Salve o querido pavilhão, das três cores que traduzem o tricampeão.
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Nelson Rodrigues, em 1969:

“Acreditem…

O Fluminense começou a ser campeão muito antes. Sim… Quando saiu do caos para a liderança. Do caos para a liderança, repito…
Foi a nossa viagem maravilhosa. Lembro-me do primeiro domingo em que ficamos sozinhos na ponta. As esquinas e os botecos faziam a piada cruel: “líder por uma semana….”
Daí pra frente, o Fluminense era sempre o líder por uma semana…”
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Por José Ilan

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Instituição igreja x Igreja de Cristo

Em mais uma de suas palestras brilhantes, Ed René Kivitz mostra de uma forma singela e verdadeira, alguns equívocos que cometemos quando achamos que a instituição igreja é a mesma coisa que Igreja como Corpo Vivo de Cristo.

Assita o vídeo e tire suas conclusões. Não esqueça de ver as outras duas partes do vídeo. Em breve, articularemos uma série de postagens a respeito deste tema.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Resenha - Ensaio sobre a cegueira


Ato falho é aquela situação onde revelamos, de forma espontânea, os mais sigilosos segredos. Conta-se que isso é um ato do inconsciente. Um exemplo clássico é a do sujeito que troca o nome, e acaba chamando a esposa pelo nome da amante.

Quando li o angustiante “Ensaio sobre a cegueira” de Saramago, ateu ferrenho, notei algo em um de seus personagens: a mulher do médico é a única capaz de ver quando a epidemia de cegueira branca domina todo o país.

Ela escolhe estar com o médico, seu marido, quando ele é recolhido pelo governo para o isolamento, se fazendo de cega. Eles, e mais um grupo, se apinham em uma ala de hospital, abandonados pelo governo, que tenta esconder o problema.

A epidemia não se restringe à classe A, B, ou C. Repórteres estão no meio do noticiário quando ficam cegos, e agora, no “campo de concentração”, se amontoam cegos, montando facções rivais, a ponto de uma ala tentar dominar a outra, com direito a violência sexual e assassinato.

Enquanto os cegos se multiplicam, os hábitos higiênicos destes inexperientes desprovidos de visão são abandonados gradativamente, defecam pelo caminho sem se limpar, comem como animais, fazem relações sexuais no meio dos outros e já não se vestem de forma adequada.

Nem imaginam que ali, existe alguém que se obriga a ver tudo, em silêncio, guardando para si toda a tragédia e humilhação que se espalha por sua sadia retina. Até o marido (só ele então sabe de sua visão), por quem se sacrificou, a trai com uma prostituta, mantendo relações sexuais diante dela, ignorando sua presença e ciência.

Eles estão agora submersos num mundo onde são imundos, precários, mesquinhos, e a mulher, que ajuda o grupo com seu dom, vê tudo aquilo e se reserva a sofrer silenciosamente.

O que não é Deus muitas vezes que não isso? A presença que se obriga a ver a miséria de quem perdeu a visão, que mais parece uma epidemia fictícia, e a perda o faz, aos poucos, se entregar a imundícia.

A mulher, por amor, permanece no auxílio e cuidado, mesmo quando ele o traí com a garota de programa, lembrando nossa condição de saber que Ele (Deus) está aqui, mas nos fazemos de desentendidos, fingindo que não existe, ou que faltou bem nesse dia.

Um dos cegos entra em pânico quando descobre que existe entre eles alguém que enxerga, e sua reação é tentar destruir aquela presença. Destruir a presença daquele que vê tudo, e portanto, sabe de nossa vergonha.

Saramago era ateu, mas toda a onisciência de seu personagem em relação a miséria humana, e sua insistente crença neles, só conseguem me lembrar de um Deus que ele não cria, mas em um ato falho, acabou por inserir como personagem principal de sua tragédia épica.

Um personagem que se obriga a sofrer tudo por amor de seu esposo, e depois, incorpora novos cegos em seu sacrifício, se fazendo líder e servo, pondo sua vida em risco em prol daqueles outros personagens tão mesquinhos, e que realmente, não valem a pena. Como eu, e você.



Palco da Vida


Você pode ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não se esqueça de que sua vida é a maior empresa do mundo. E você pode evitar que ela vá à falência.

Há muitas pessoas que precisam, admiram e torcem por você. Gostaria que você sempre se lembrasse de que ser feliz não é ter um céu sem tempestade, caminhos sem acidentes, trabalhos sem fadigas, relacionamentos sem desilusões.

Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros.


Ser feliz não é apenas valorizar o sorriso, mas refletir sobre a tristeza. Não é apenas comemorar o sucesso, mas aprender lições nos fracassos. Não é apenas ter júbilo nos aplausos, mas encontrar alegria no anonimato.


Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.


Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.


Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples, que mora dentro de cada um de nós. É ter maturidade para falar "eu errei". É ter ousadia para dizer "me perdoe". É ter sensibilidade para expressar "eu preciso de você". É ter capacidade de dizer "eu te amo". É ter humildade da receptividade.


Desejo que a vida se torne um canteiro de oportunidades para você ser feliz... E, quando você errar o caminho, recomece, pois assim você descobrirá que ser feliz não é ter uma vida perfeita, mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância.


Usar as perdas para refinar a paciência.
Usar as falhas para lapidar o prazer.
Usar os obstáculos para abrir as janelas da inteligência.


Jamais desista de si mesmo.

Jamais desista das pessoas que você ama.

Jamais desista de ser feliz, pois a vida é um espetáculo imperdível, ainda que se apresentem dezenas de fatores a demonstrarem o contrário.


Pedras no caminho? Guardo todas... Um dia vou construir um castelo!

Por Fernando Pessoa

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Que igreja é essa?


Reunidos em agosto deste ano no Conselho de Ministros Evangélicos de Jacarepaguá – COMEJA -, um grupo de pastores e líderes de diversas denominações debateu em extensão e profundidade as idéias que indicam respostas possíveis para uma pergunta que, em princípio, já implica um olhar de perplexidade diante dos rumos que a igreja vai tomando na era da globalização. O pastor Ariovaldo Ramos, líder da Comunidade Cristã Reformada de São Paulo, foi o convidado do encontro, que ocorre periodicamente às quintas-feiras e que tem produzido reflexões de alta relevância para o diagnóstico sobre o momento histórico vivido pelo povo de Deus no Brasil e no mundo.

Existe, na concepção de Ariovaldo Ramos, a igreja-mercado e a igreja de Jesus Cristo. A primeira é simplesmente a via pela qual se pratica o que ele chama de estelionato religioso, que é o fato de se vender produtos que não poderão ser entregues. Esta igreja representa uma traição ao evangelho, por ignorar aspectos essenciais da proposta cristã, como o amor a Deus e ao próximo, a concepção da igreja como comunidade de fé e a atitude sacrificial no trabalho com pessoas das áreas carentes, além do desprezo pela graça comum presente em todas as áreas da vida. Essa traição se define também pelo fato de se fazer do milagre um fim em si mesmo, como se a solução de problemas materiais fosse o único alvo a ser buscado no âmbito da vida espiritual, em detrimento inclusive da consciência da qual toda pessoa humana precisa partir para encontrar a cura completa de sua vida.

O autêntico evangelho da graça exige na parte de cada pessoa o exercício do dever, que é também um direito, de reconhecer os sinais da presença de Jesus Cristo na igreja e no mundo e de assumir conduta compatível. Esse reconhecimento implicará, assim, a necessidade de uma decisão no sentido de tornar-se discípulo ou tornar-se um traidor. Tornar-se discípulo significa aceitar estar com Jesus Cristo na vida e na morte, responsabilidade que recai sobre todo aquele que se dispõe a corresponder de maneira concreta ao amor de Deus manifestado também concretamente na do Filho de Deus. Nesse sentido, não há ninguém que seja especial. A propósito, Ramos destaca uma outra falha da igreja-mercado: a criação de figuras especiais, acima das pessoas comuns, através de recursos mercadológicos que nada têm a ver com o reino de Deus. O verdadeiro homem de Deus não se coloca acima de ninguém, o que não o impede de orientar o rebanho do Senhor com relação aos sinais que indicam a presença de Jesus Cristo no mundo.

Ao longo desse frutífero encontro, vários outros pastores líderes denominacionais também se manifestaram. Em dado momento críticaram a idéia de que o cristão deva aceitar o pensamento de que precisa ser um vitorioso segundo os ídolos do mercado, especialmente no que se refere à questão das finanças. “em muitas vezes o rico é a pessoa mais pobre, porque em geral só tem o dinheiro. Se ficar sem este, nada mais lhe restará”, afirma um deles. Na mesma linha, Ariovaldo Ramos declara que igreja de Jesus é constituída por aqueles que não dobram seus joelhos nem a Baal nem a Mamon.

O encerramento do encontro deu-se numa atmosfera de otimismo quanto ao futuro da igreja que não se deixou seduzir pelas ilusões do deus-mercado.
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Fonte: Comeja

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O colapso do Movimento Evangélico


Dois pastores paulistas se fantasiam de Fred e Barney. Isso mesmo, fantasiados de Flintstone, entre gracejos ridículos, acreditam que estão sendo "usados por Deus para salvar almas". Na rádio, um apóstolo ordena que tragam todos os defuntos daquele dia, pois ele sente que Deus o "ungiu para ressuscitar mortos".

Os jornais denunciam dois políticos de Minas Gerais, "eleitos por suas denominações para representar os interesses dos crentes", como suspeitos de assassinato. O rosário se alonga: oração para abençoar dinheiro de corrupção; prisão nos Estados Unidos por contrabando de dinheiro, flagrante de missionários por tráfico de armas; conivência de pastores cariocas com chefões da cocaína .

Fica claro para qualquer leigo: O movimento Evangélico brasileiro se esboroa. O processo de falência, agudo, causa vexame. Alguns já nem identificam os evangélicos como protestantes. As pilastras que alicerçaram o protestantismo vêm sendo sistematicamente abaladas pelo segmento conhecido como neopentecostal. Como um trator de esteiras, o neopentecostalismo cresce passa por cima da história, descarta tradições e liturgias e se reinventa dentro das lógicas do mercado. É um novo fenômeno religioso.

É possível, sim, separá-lo como uma nova tendência. Sobram razões para afirmar-se que o neopentecostalismo deixou de ser protestante ou até mesmo evangélico. É uma nova religião. Uma religião simplória na resposta aos problemas nacionais, supersticiosa na prática espiritual, obscurantista na concepção de mundo, imediatista nas promessas irreais e guetoizada em seu diálogo cultural.

Mas a influência do neopentecostalismo já transbordou para o senso comum prostestante. O neopentecostalismo fermentou as igrejas consideradas históricas. Elas também se vêem obrigadas a explicar quase dominicalmente se aderiram ou não aos conceito mágicos das preces. Recentemente, uma igreja batista tradicional promoveu uma "Maratona de Oração pela Salvação de Filhos Desviados". Se não fosse trágico, seria cômico.

Pentecostais clássicos, como a Assembléia de Deus, estão tão saturados pela teologia neopentecostal que pastores, inadvertidamente, repetem jargões e prometem que a vida de um verdadeiro crente fica protegida dentro de engrenagens de causa-e-efeito. Os "ungidos" afirmam que sabem fazer "fluir as bênçãos de Deus". É comum ouvir de pregadores pentecostais que vão ensinar a "oração que move o braço de Deus”.

O Movimento Evangélico implode. Sua implosão é visceral. Distanciou-se de dois alicerces cristãos básicos - graça e fé. Ao afastar-se destes dois alicerces fundamentais do cristianismo, permitiu que se abrisse essa fenda histórica com a tradição apostólica.

1. A teologia da Graça

Desde a Reforma, protestantes e católicos passaram a trabalhar a Graça como pedra de arranque de um novo cristianismo. O texto bíblico, “o justo viverá da fé”, acendeu o rastilho de pólvora que alterou a cosmovisão herdada da Idade Média. A Graça impulsionou o cristianismo para tempos mais leves. Foi a Graça que acabou com a lógica retributiva que mostrava Deus como um bedel a exigir penitência. Devido a Graça entendeu-se que a sua ira não precisa ser contida. O cristianismo medieval fora infectado por um paganismo pessimista e, por isso, sobravam espertalhões vendendo relíquias e objetos milagrosos que, segundo a pregação, “ garantiam salvação e abriam as janelas da bênção celestial”.

Lutero, um monge agostiniano, portanto católico, percebeu que o amor de Deus não podia ser provocado por rito, prece, pagamento ou penitência. Graça, para Lutero, significava a iniciativa de Deus, constante, unilateral e gratuita, de permanecer simpático com a humanidade. Lutero intuiu que Deus não permanecia de braços cruzados, cenho franzido, à espera de que homens e mulheres o motivassem a amar. O monge escancarou: as indulgências eram um embuste. Assim, Lutero solapava o poder da igreja que se autoproclamava gerente dos favores divinos.

Passados tantos séculos, o movimento neopentecostal, responsável pelas maiores fatias de crescimento entre evangélicos, abandonou a pregação da Graça. (É preciso ressaltar, de passagem, que o conceito da Graça pode até constar em compêndios teológicos, mas não significa quase nada no dia-a-dia dos sujeitos religiosos).

Os neopentecostais retrocederam ao catolicismo medieval. É pre-moderna a religiosidade que estimula valer-se de amuletos “como ponto de contato para a fé”; fazerem-se votos financeiros para “abrir as portras do céu”; “pagar o preço” para alcançar as promessas de Deus. Desse modo, a magia espiritual da Idade Média se disfarçou de piedade. A prática da maioria dos crentes hoje se concentra em aprender a controlar o mundo sobrenatural. Qual o objetivo? Alcançar prosperidade ou resolver problemas existenciais.

2. A compreensão da Fé

“A Piedade Pervertida” de Ricardo Quadros Gouvêa é um trabalho primoroso que explica a influência do fundamentalismo entre evangélicos.

“O louvorzão, assim como as vigílias e as reuniões de oração, e até mesmo o mais simples culto de domingo, muitas vezes não passam de um tipo de superstição que beira a feitiçaria, uma vez que ele é realizado com o intuito de ‘forçar’ uma ação benévola da parte de Deus, como se o culto e o louvor fossem um ‘sacrifício’, como os antigos sacrifícios pagãos. Neste caso, não temos mais liturgias, mas sim teurgias, nas quais procura-se manipular o poder de Deus” .

Ora, enquanto fé permanecer como uma “alavanca que move os céus”, as liturgias continuarão centradas na capacidade de tornar a oração mais eficaz. Antes dos neopentecostais, o Movimento Evangélico já se distanciara dos Místicos históricos que praticavam a oração com um exercício de contemplação e não como ferramenta de como tornar Deus mais útil.

Fé não é uma força que se projeta na direção do Eterno. Fé não desata os nós que impedem bênçãos. Fé é coragem de enfrentar a vida sem qualquer favor especial. Fé é confiança de que os valores de Cristo são suficientes no enfrentamento das contingências existenciais. Fé aposta no seguimento de Cristo; seguir a Cristo é um projeto de vida fascinante.

O neopentecostalismo ganhou visibilidade midiática, alastrou-se nas camadas populares e se tornou um movimento de massa. Por mais que os evangélicos conservadores não admitam, o neopentecostalismo passou a ser matriz de uma nova maneira de conceber as relações com o Divino.

A alternativa para o rolo compressor do neopentecostalismo só acontecerá quando houver coragem de romper com dogmatismos e com os anseios de resolver os problemas da vida pela magia.

O caminho parece longo, mas uma tênue luz já desponta no horizonte, e isso é animador.

domingo, 26 de setembro de 2010

Amar a Deus com liberdade


O livro de Jó parece se concentrar na questão do sofrimento. No fundo, um problema diferente está em jogo: a doutrina da liberdade humana. Jó teve de suportar um sofrimento imerecido a fim de demonstrar que o Senhor está, na verdade, interessado no amor demonstrado em liberdade.
A disputa travada entre Deus e Satanás não foi um exercício trivial. A acusação feita por satanás de que Jó só amava o Senhor por que “puseste uma cerca em volta dele” é um ataque ao caráter divino. Implica que Deus não é digno de amor por si mesmo; as pessoas fiéis só o seguiriam mediante “suborno”. A reação de Jó depois que todos os sustentáculos da fé fossem removidos comprovaria ou descartaria o desafio de Satanás.

Para entender essa questão da liberdade humana, talvez o melhor seja imaginar um mundo em que todos obtêm aquilo que merecem. Esse mundo imaginário tem uma certa atração. Seria justo e consistente e todos saberiam com clareza o que Deus esperava. A justiça reinaria. Há, no entanto, um enorme problema com um mundo assim tão organizado: ele não tem nada a ver com o Deus pretende realizar na terra. Ele quer de nós o amor, amor ofertado em liberdade. E não ousemos subestimar a recompensa que Deus associa a esse amor. O Senhor lhe atribui tamanha importância que permite ao nosso planeta ser um câncer de maldade no seu universo – por algum tempo.

Se o mundo funcionasse de acordo com regras fixas, justas e perfeitas, não haveria liberdade real. Agiríamos certo por causa do nosso ganho imediato e motivações egoístas infestariam cada gesto de bondade. As virtudes cristãs descritas na Bíblia, pelo contrário, se desenvolvem quando escolhemos Deus e seu caminho apesar da tentação ou dos impulsos para fazer o contrário.

Na Bíblia inteira, uma analogia que ilustra o relacionamento entre o Senhor e seu povo salta aos olhos o tempo todo. Deus, o marido, é retratado tentando atrair a noiva para si mesmo. Ele quer seu amor. Se o mundo fosse construído de forma que cada pecado recebesse um castigo e cada boa ação, um prêmio, o paralelo não resistiria. A analogia mais próxima a esse relacionamento seria uma mulher mantida em cativeiro, mimada, subordinada e trancafiada em um quarto de forma que o amante pudesse estar seguro de sua fidelidade. Deus não “prende” seu povo. Ele nos ama, oferece-se para nós e espera ansioso por nossa livre reação.

O Senhor quer que optemos por amá-lo de livre e espontânea vontade, mesmo que essa opção envolva dor, por estarmos comprometidos com Ele, não com sensações e recompensas que nos façam sentir bem. Ele quer que permaneçamos fiéis a Ele, como fez Jó, inclusive quando tivermos todos os motivos do mundo para negá-lo com veemência. Jó se apegou à justiça de Deus no momento em que se tornou o melhor exemplo da história da aparente injustiça divina. Não procurou o Presenteador por causa do presente; pois quando todos os presentes foram removidos, ele ainda O buscava.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Odeio política!

Todo mundo tem uma posição radical sobre alguma coisa. A minha é essa: eu odeio política! Sempre que penso sobre esse "mal (des)necessário", uma questão me inquieta: eu comeria uma maçã - ainda que limpa - se ela estivesse em um cesto de lixo? Não. É assim que vejo os cristãos na política. Ameaçados por ambientes de sujeira.

A grande desculpa teológica dos que se envolvem nas tramas da política é: "Daniel era político". Contudo, esquecem que Daniel NÃO se candidatou a nenhum cargo, era escravo, condição que o impedia de negar sua indicação a qualquer posto político. Daniel tinha um caráter acima de qualquer suspeita, já os políticos de hoje...

Odeio política. Meu ódio é uma mistura de raiva e frustração. Fúria e angústia. Vejo nas arenas políticas muito mais destruição do que construção. Muito mais medo do que virtude. Muito mais máfia do que unidade para algum fim.

Odeio política porque liberta o pior que habita o homem: ambições desmedidas. Em nome dessas ambições atropela-se toda a agenda da esperança. O que os políticos querem não é o bem-estar do povo, mas salários estratosféricos, tráfico de influências, manipulação midiática, idolatria institucional, prostituição eleitoreira, todo tipo de engano. No jogo sujo da política quem perde é sempre o povo.

Eu sei que existem, eventualmente, alguns poucos políticos honestos, mas a proporção de malandros é tão avassaladoramente maior que chega a ser covardia.

Lênin dizia que "a democracia é o regime político no qual o povo escolhe aqueles que vão oprimi-lo nos próximos quatro anos". É muito raro o encontro de um discurso político e da Verdade num mesmo palanque. A mentira é o sobrenome da política. Ser político é vivenciar a arte de ludibriar mentes frágeis.

Odeio política porque ela inverte valores: recebe profanos nos púlpitos, e condena ao silêncio santo nos bancos. Veste mentiras com roupas da verdade. Em nome do dinheiro vende a alma para acobertar a clandestinidade dos caixas 2. Usa a fé sincera do povo para propagar esperanças irreais.

Odeio política! Essa é a minha radicalidade. Voto porque ainda sou cidadão, mas só Deus sabe o sacrifício que faço para votar. Vou para a urna com a sensação de quem está comendo a maçã estragada pelo ambiente da sujeira. Sinto no peito o impacto do que vaticinou Carlos Drummond de Andrade: "O voto, a arma do cidadão, dispara contra ele".
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Definitivamente, odeio política!!
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Por Alan Brizoti

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Minha fé não é aquilo em que acredito


A distinção mais útil que encontrei nesta caminhada foi a que estabeleceu Jacques Ellul entre fé e crença. Crença é aquilo que professamos acreditar; é o contéudo doutrinário peculiar à nossa facção religiosa, expresso com palavras muito bem escolhidas em nossas declarações de fé. Não há, por outro lado, conjunto de palavras suficiente para definir adequadamente a fé. Nossas crenças são passíveis de exposição, mas nossa fé é questão pessoal – seu conteúdo é o mistério tremendo, a tensão superficial entre eu e o universo, entre eu e o desconhecido, entre eu e o futuro, entre eu e a morte, entre eu e o outro, entre eu e Deus.

Os religiosos de todas as estirpes vivem em geral muito mais preocupados com as filigranas da crença do que com a vivência da fé – e posso dizê-lo por experiência própria. As divisões que fazemos questão de estabelecer entre a nossa e as demais facções da cristandade, e entre a cristandade e as outras heranças religiosas, estão fundamentados, naturalmente, em diferenças de crença. Às vezes dizemos que diante de Deus o desafio da fé é o mesmo para todos, mas agimos claramente como se nossa identidade de cristãos e de seres humanos fosse adequadamente definida pelo teor de nossas crenças. Sentimo-nos devidamente legitimados, devidamente representados, pela felicidade de pertencermos ao grupo ou denominação que professa (ao contrário, naturalmente, de todas os outros grupos ou denominações) a crença mais pura, destilada e correta. Fingimos que nos dobramos diante de Deus e de seu Cristo, mas nosso cristianismo é ortodoxolatria.

“A fé”, explica Ellul, “isola o indivíduo; a crença, (qualquer que seja, inclusive a cristã) ajunta pessoas. Na crença nos vemos unidos a outros na mesma corrente institucional, todos orientados em direção ao mesmo objeto de crença, compartilhando das mesmas idéias, seguindo os mesmos rituais, arrolados na mesma organização, falando o mesmo dialeto.”

Diante disso, sinto-me cada vez menos inclinado a responder aos que perguntam em que acredito, ou aos que levantam-se em indignação quando ouvem a temerária confissão de alguma crença minha (“O quê? O Brabo acredita na evolução?” “O quê? O Brabo não condena a fé dos católicos?” “O quê? O Brabo crê que igreja bem-sucedida é a que fecha as portas?” “O quê? O Brabo acredita em [inserir crença arbitrária aqui]“). Sinto-me cada vez menos motivado a responder aos que perguntam sobre minha tradição religiosa, a qual denominação pertenço, se faço parte de alguma igreja, se endosso determinado autor ou se fico devidamente escandalizado diante de determinada barbárie doutrinária.

Não devo iludir a mim mesmo ou a quem quer que seja dando a impressão de que resta algo de importância na vida espiritual (ou na vida) que não seja a fé, e – minha gente – minha fé não é aquilo em que acredito. Minha fé não está naquilo em que acredito, e nem poderia estar. Minha fé não é adequadamente expressa por aquilo em que acredito, e nem poderia ser.

Em primeiro lugar, porque minhas crenças mudam, mesclam-se e transformam-se constantemente. Minhas crenças nascem, reproduzem-se e morrem num plano totalmente independente do desafio que está na fé. Em segundo lugar porque, como lembra Ellul, “toda crença é um obstáculo à fé. As crenças atrapalham porque satisfazem a nossa necessidade de religião”. Quem pergunta aquilo em que acredito está tentando estabelecer comigo a mais rasteira das conexões; está querendo legitimar a sua crença a partir da minha, e isso não tem como ser saudável para ninguém.

Quem se abraça dessa forma à crença está buscando, evidentemente, o conforto do terreno conhecido e palmilhado. “A crença é confortadora”, observa Ellul. “A pessoa que vive no mundo da crença sente-se segura”. A fé, por outro lado, é coisa terrível, a que ninguém em são juízo deveria aspirar. A fé deixa-me sozinho com um Deus que pode não estar lá. A fé convida-me a um grau de liberdade que posso não ter o desejo de experimentar. A fé quer tirar-me da zona de conforto da crença e levar-me para regiões de mim mesmo e dos outros aonde não quero ir. A fé pressupõe a dúvida, a crença exclui a dúvida. A crença explica sensatamente aquilo em que acredito, a fé exige loucamente que eu prove.

Nossas crenças são âncoras de legitimação, que nos mantém seguros no lugar mas nos impedem de seguir adiante – o que, convenhamos, é muito conveniente. Quem iria em sã consciência escolher abandonar o abraço confirmatório da crença comum e dar um passo em direção à vertigem da fé, ao desafio de tornar-se um indivíduo separado, distinto e singular (numa palavra, santo) diante de Deus? Queremos voltar para o Egito, onde havia cebolas; não suportamos o desafio constante, sempre iminente, sempre exigente, do deserto.

Não tenho como recomendar a crença; sua única façanha é nos reunir em agremiações, cada uma crendo-se mais notável do que a outra e chamando o seu próprio ambiente corporativo de espiritualidade. Não tenho como endossar a crença; não devo dar a entender que a espiritualidade pode ser adequadamente transmitida através de argumentos e explicações. Não devo buscar o conforto da crença; o Mestre tremeu de pavor e não tinha onde reclinar a cabeça. Não devo ouvir quem pede a tabulação da minha crença; minha fé não é aquilo em que acredito.

Nunca deixa de me surpreender que para o cristianismo Deus não enviou para nos salvar um apanhado de recomendações ou uma lista suficiente de crenças, mas uma pessoa. Minha espiritualidade não deve ser vivida ou expressa de forma menos revolucionária. Não pergunte em que acredito. Mande um email, pegue uma condução, venha até minha casa, tome um café na minha mesa e aceite o meu abraço. Não devo esperar ato maior de fé, e não tenho fé maior para oferecer.
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Extraído da Bacia das Almas

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Reformas já!


Como já era esperado pelos telespectadores da mídia go$pel, mais uma peripécia da dupla dinâmica da pro$peridade está no ar – a unção financeira dos R$ 610,00.

Como não deu certo o “clubinho dos mil”, resolveram baixar a oferta.

Gostaria de saber dos profeteiros da prosperidade onde eles conseguem extrair essas hermenêuticas esdrúxulas sem fundamentação bíblica. De onde vem tanta criatividade? De onde vem essa numerologia cabalística? Se não fosse trágico, seria cômico. E o pior que o povo gosta.

A verdade é que quem pastoreia e apascenta as massas é a mídia evangélica. As ovelhas frágeis ficam a mercê dos lencinhos do Valdomiro, da benção financeira do Malafaia e Cerullo, da rosa e outros apetrechos do Macedo e das curas de caroços e heresias do RR. Os pastores sérios fazem todo um trabalho de conduzir o rebanho na sã doutrina e vêm os profeteiros e põe tudo por água abaixo.

Às vezes parece que essa luta é inglória. Mas não me cansarei de discernir e apontar os erros crassos dos mercadejantes da fé. Não desanimarei em meio ao ataque beligerante de suas heresias. Sei que não estou sozinho nessa labuta. Os sete mil que não dobraram os joelhos a baal e a mamon estão de mangas arregaçadas, e o próprio Senhor Jesus é quem vela pela sua noiva.
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A revista Época publicou em sua última edição um artigo sobre os novos apologistas da web. Seria uma nova Reforma Protestante? Apesar de ser uma revista secular e polêmica, vale a pena conferir as entrevistas concedidas por pessoas referenciais no meio protestante.
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Continuemos a lutar pelo Evangelho puro e sem mácula e combater esses desvios doutrinários do show da fé, pois em breve veremos os resultados sendo colhidos para glória de Deus Pai.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Pelos méritos de Cristo


"Mas quando, da parte de Deus, nosso Salvador, se manifestaram a bondade e o amor pelos homens, não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós generosamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador. Ele o fez a fim de que, justificados por sua graça, nos tornemos seus herdeiros, tendo a esperança da vida eterna". Tito 3.4-7 (NVI)

Um dos atributos mais importantes de Deus revelado nas Escrituras Sagradas é sem dúvida o amor. A bondade e o amor de Deus foram revelados para que nossa miséria fosse exposta e reconhecêssemos que era necessário alguém pagar por nossas ofensas, pois, nenhuma boa obra que praticássemos era suficiente para alcançarmos a misericórdia divina.
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Em toda a história, o homem sempre tentou chegar a Deus por meio dos méritos de seu braço, mas a justiça de Deus se revelou nos mostrando que nenhuma boa obra era capaz de trazer a salvação para homem nenhum. Por isso, se manifestou o amor de Deus pela humanidade em doar Seu único Filho em sacrifício por nossas culpas. Sua morte e ressurreição fizeram com que o Espírito Santo renovasse e regenerasse nossas vidas. Num ato generoso de Deus em entregar o que Ele tinha de melhor, nós fomos considerados justos, não por nossos merecimentos, mas pela própria justiça de Deus. Com essa atitude de bondade fomos reputados como herdeiros e co-herdeiros da promessa de reinarmos com Ele na glória.
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Devemos sempre ter isso em mente, pois, é nossa maior esperança. Enquanto os ímpios correm atrás das coisas perecíveis, nossa busca deve ser pelas espirituais, que estão guardadas para aqueles que amam e aguardam Sua vinda. A maior manifestação de amor já existente em toda a história foi Deus conceder Seu Filho inocente pelos pecados da humanidade. Tal sacrifício fez com que hoje tivéssemos acesso direto ao trono das misericórdias de Deus, fazendo com que o Espírito Santo fosse derramado em nossas mentes e em nossos corações.
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Reflita nisso!


quarta-feira, 7 de julho de 2010

A alma que me cabe


– Os conservadores e reformados – disse o dono do haras ao jangadeiro – afirmam que a missão é levar as pessoas a abraçarem o nome de seu mestre de modo a evitar o inferno e ganhar o céu; para eles, trata-se de salvar almas não para este mundo, que e irremediável, mas para a vida eterna. Os liberais e libertários afirmam que a missão é transformar este mundo a partir do exemplo revigorante do seu mestre, de modo a construir nesta vida uma estirpe honorária de céu; para eles, trata-se menos de prometer o reino de Deus para a vida futura que implementá-lo contra todos os impedimentos nesta existência. Qual é a sua opinião? Qual dos dois pensamentos está certo?

O jangadeiro terminou de fazer o nó que o incomodava e aspirou a maresia.

– O que sei sobre a vida eterna é que ela é para ser um presente, e presente a gente não deve cobrar nem esperar. O mesmo, você deve entender, posso dizer desta vida. A vida futura que deve me ocupar é o momento seguinte, porque o momento seguinte depende do que faço neste. Salvar as pessoas ou transformar o mundo? Se você pensar, qualquer um desses seria fácil demais, porque tanto o mundo quanto as pessoas estão fora de mim; a metamorfose deles nada exige de mim e para mim nada implica além daquilo que me beneficia. O desafio do legado de Jesus é que eu transforme a mim mesmo. É natural que transformando a mim mesmo estarei transformando o mundo, mas essa não é a questão. A alma que me cabe salvar continuamente é a minha.
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Extraído da Bacia das Almas

terça-feira, 29 de junho de 2010

A justiça da Graça


Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Rm 3.23-24


Desde a queda da humanidade no Jardim do Éden, o homem sempre buscou meios de se aproximar novamente da ligação que tinha com Deus no princípio da criação. Durante toda a história, rituais e formas religiosas foram criadas para restabelecer o elo perdido com o criador. As Escrituras Sagradas declaram que toda a humanidade pecou em Adão e, por isso, estamos afastados e carentes da glória de Deus. O pecado é definido como transgressão à Lei divina e o apóstolo Paulo salienta que o pecado não anda em conformidade com a glória de Deus. Para tanto, Deus providenciou gratuitamente a história da redenção do homem caído, dando Seu único Filho para morrer por nossos delitos e pecados.

Saiba que por meio do sacrifício de Jesus Cristo, temos acesso direto ao Pai das luzes e a vida de miséria que levávamos por conta de nossas transgressões foi substituída por uma vida vitoriosa em Cristo Jesus. Passamos do banco dos réus para sentarmos em lugares altos, e onde havia condenação, há justificação. Pelo simples ato de fé no sacrifício expiatório de Jesus Cristo nos tornamos justos e podemos desfrutar das maravilhas de sermos declarados inocentes.

Devemos dar graças a Deus todos os dias, pois, através de Seu amor por nós, alcançamos gratuitamente, mediante a fé na redenção de nosso Senhor Jesus Cristo, a graça que nos propiciou a reconciliação com o Criador.

Portanto, conscientizemo-nos da tão grande vitória sobre o pecado e sobre a morte que foi alcançada ao nosso favor por Jesus Cristo na cruz e experimentemos o prazer de sermos ligados novamente à comunhão com esse Pai maravilhoso que tanto nos ama.

sábado, 26 de junho de 2010

A Senda verdadeira

Nunca vemos Cristo como o nosso único caminho. Não cremos que a solução para nossas dificuldades está unicamente em Cristo. Não temos esperança que Ele seja capaz de transformar um lar que está em trevas, finanças destruídas, famílias acabadas e sentimentos escravos de ressentimentos. Depositamos nossa esperança em homens, em livros humanos e vazios de vida, ou até em nós mesmos.

Diante de tudo isso, Deus deve estar permitindo que a situação humana se agrave seriamente nessas últimas décadas. Ao olharmos para as famílias, para a sociedade, para as escolas, constatamos que nada está em ordem. E mesmo assim, ainda cremos que acordos humanos, projetos humanos, conselhos de homens possam surtir algum efeito nessa sociedade em que vivemos que está dominada pelo conhecimento do bem e do mal.

Diante de tudo isso, vejamos o que está escrito no Evangelho de João 14.6, que diz:
“Respondeu-lhes Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim”.

Hoje, queremos mudar a sociedade, as famílias, mas tudo sem o único caminho, sem a única verdade e sem a única vida. Como podemos mudar nosso quadro lamentável sem Cristo?
A Bíblia diz que quando os homens rejeitaram o conhecimento da verdade (o que esta na Bíblia), Deus os entregou, para que vivessem como quisessem. O resultado é o que vemos hoje: sociedade corrompida, famílias destruídas, desigualdades sociais, filhos rebeldes e indisciplinados. O que existe em nossa sociedade é o resultado de séculos em que o homem viveu independente de Deus e da única verdade.

A Palavra de Deus sempre ensinou que os filhos devem ser obedientes aos pais. Mas em qual família podemos ver isso acontecendo? A Bíblia diz que o filho entregue a si mesmo é uma vergonha para os pais. Hoje, nos envergonhamos das coisas que acontecem em nossa sociedade porque cada um faz o que pensa ou acredita ser bom. Mas, nem tudo o que é bom aos olhos humanos está correto com a verdade de Cristo. Educamos filhos de acordo com o que pensamos que será melhor para eles, mas nem cogitamos em depender da única verdade, que é Cristo, para educarmos nossos filhos. Tudo o que vemos hoje é conseqüência da independência do homem, do viver independente de Deus.

Precisamos voltar a depender de Cristo! Precisamos conhecer o Caminho, a Verdade e a Vida para que possamos corrigir nossas vidas. Quando isso acontecer, viveremos debaixo da bênção de Deus. Deus só abençoa um lar que vive de acordo com a única verdade. Nossos lares vivem debaixo de maldição porque estão errados no que diz respeito à verdade. Precisamos conhecer a verdade para então aplicarmos ela em nossa vida prática.

Quando você corrigir a sua vida com a verdade, saberá o que é viver desfrutando diariamente da vida de Cristo e das bênçãos de Deus.

Pense nisso...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Onde está, ó morte, o teu aguilhão?


“Portanto, visto que os filhos são pessoas de carne e sangue, ele também participou dessa condição humana, para que, por sua morte, derrotasse aquele que tem o poder da morte, isto é, o Diabo, e libertasse aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte” Hb 2.14-15 (NVI).

Muitas pessoas hoje em dia têm um pavor imenso da morte, pois elas não sabem para onde irão e qual será o seu destino. A Bíblia é enfática em dizer que aqueles que não confessarem com sua boca e não crerem com seu coração que Jesus Cristo é o Senhor estarão sendo conduzidos ao sofrimento eterno, que é a separação definitiva de Deus.

A morte e ressurreição de Jesus Cristo nos proporcionaram bênçãos sem medida na esfera espiritual. Assim como Jesus venceu e derrotou a morte, nós também, os que cremos, venceremos o poder da segunda morte e reinaremos para sempre ao lado de Deus. O propósito definitivo da encarnação de Cristo foi a destruição do diabo e a libertação do poder da morte.

A derrota de Satanás não significa que ele esteja aniquilado, mas que seu poder está reprimido na vida daqueles que se comprometem com as causas de Cristo.

O texto revela um preço pago, suficiente para todos, e apto para todos, porque foi em nossa natureza de carne e sangue. Aqui se demonstra o amor maravilhoso de Deus, porque quando Cristo se propôs a sofrer em nossa natureza e como devia morrer nela, a assumiu prestamente. A expiação deu lugar à liberação de seu povo da escravidão de Satanás, e ao perdão dos pecados pela fé.

Portanto, não temeremos o poder da morte, ela foi vencida através do sacrifício de nosso Senhor Jesus Cristo, e todos aqueles que creem em Seu nome tem a garantia de vitória sobre o pecado e a morte. Estejamos vigilantes para que o adversário de nossas almas não nos afaste da presença de Deus, pois a vitória sobre a morte nos foi outorgada pelo sangue de Jesus.

No amor do Verbo que venceu o aguilhão da morte.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Os critérios do amor


Este é um mundo de retribuição, em que ninguém ama quem não tem nada a oferecer. Quem são nossos favoritos? Os notáveis, os talentosos, os destacados, os fluentes, os bonitos, os ricos, os famosos, os sábios, os espirituais, os afinados, os inteligentes, os que lembram-se do nosso nome. Quanto mais admiráveis nos parecerem as qualidades de alguém, mais naturalmente — mais inevitavelmente — essa pessoa parecerá merecedora do nosso amor.

Nossa tendência mais natural é amarmos as pessoas pelo que são capazes de fazer, seja essa capacidade efetiva ou potencial. Nisso consiste o que chamo de "Lei Crua do Amor": não amamos as pessoas, amamos as suas competências.

Com raras exceções, a Lei Crua do Amor rege todos os nossos relacionamentos e afeições. Sei muito bem aqueles que me sinto tentado a amar: os virtuosos, os compassivos, os articulados, os bonitos, os fluentes, os criativos, os destemidos, os galantes, os que sabem dançar, os indomáveis, os modestos, os heróis que não conhecem o seu próprio valor. São essas as competências que estão no topo da minha lista, mas cada pessoa estabelece o seu próprio critério de seleção. O que temos todos em comum é a tendência de amar aqueles que demonstram ter as competências que admiramos.

A Lei Crua do Amor determina ainda o modo como estimamos o nosso próprio papel num relacionamento — nosso valor. É por isso que tememos tanto a doença e a velhice, porque sabemos que estão à espreita, esperando o momento de arrancar de nós as competências que nos são mais caras, aquelas ao redor das quais construímos nossa identidade. Os primeiros sinais bastarão para nos colocar em parafuso: a primeira falha de memória, a primeira barbeiragem no trânsito, a primeira incontinência urinária, a primeira desafinada, a primeira queda de cabelo.

Por que tememos dessa forma a perda das nossas competências? Acontece que sabemos muito bem que as competências dos outros determinam em grande parte nossa afeição por eles. Intuímos, pela natureza inclemente dos nossos próprios critérios, que a perda de uma competência fará com que nos tornemos menos atraentes e menos dignos de amor aos olhos dos outros.

Aqueles que não têm alguma competência para oferecer — os feios, os desajeitados, os que não sabem cantar, os que não sabem falar, os que não sabem escrever, os que não sabem jogar bola, os que não sabem agradar — intuem, por sua vez, que nunca serão amados de forma unânime e intensa como os notáveis. Não têm competências em grau ou quantidade suficientes para merecerem o nosso amor, e sabem disso.

Jesus viveu, naturalmente, para denunciar a Lei Crua do Amor. Ele convidava, de forma singela, a que adotássemos um novo e notável critério, que é, incrivelmente, a ausência de qualquer critério.

A mensagem de Jesus deixa claro, em primeiro lugar, que na perspectiva de Deus, na perspectiva do universo, as competências que tanto celebramos e redundantemente admiramos equivalem a precisamente nada — talvez menos. Se Deus fosse premiar a competência não premiaria ninguém. É por isso, por não julgar as pessoas pelas competências que têm para oferecer, que Deus faz chover sobre justos e injustos. É com base no rigoroso critério do critério algum que ele derrama do seu sol sobre heróis e marginais.

Jesus opina que na perspectiva divina a única competência que de fato conta é a competência moral, a capacidade de não fazermos o mal aos outros e a habilidade correspondente de fazermos o bem a eles. Todo o resto é acessório e deve ser descartado do nosso caderninho de admirações. Deus, no entanto, conhece-nos o bastante para não decidir julgar-nos nem mesmo por essa competência essencial. Na verdade, explica Jesus, a mais contundente demonstração de competência moral está precisamente na nossa disposição em amar os outros, e assim o círculo se fecha.

O Filho do Homem desafia-nos a sermos nisso singulares (santos) como Deus é, disparando amor arbitrariamente, como metralhadoras, abandonando definitivamente os critérios usuais de competência. Essa regra divina é a Lei Distributiva do Amor, que pode ser expressa desta forma: ninguém merece, por isso todos podem ter.

Quem será capaz de sentir-se atraído pelos que não têm coisa alguma para oferecer? Quem será capaz de aceitar os desprovidos de competências? Talvez aquele que desperte para a consciência de que tem o que não merece; esse ousará, quem sabe, distribuir.

Esse estará alterando a tessitura do mundo.
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Por Paulo Brabo.
Extraído do livro "A Bacia das Almas"


segunda-feira, 21 de junho de 2010

Graça e misericórdia


Mas quando, da parte de Deus, nosso Salvador, se manifestaram a bondade e o amor pelos homens, não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós generosamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador. Ele o fez a fim de que, justificados por sua graça, nos tornemos seus herdeiros, tendo a esperança da vida eterna. Tito 3.4-7 (NVI)

Um dos grandes atributos de Deus revelado nas Escrituras Sagradas é sem dúvida o amor. A bondade e o amor de Deus foram revelados para que nossa miséria fosse exposta e reconhecêssemos que era necessário que um Ser sobremodo excelente pagasse por nossas ofensas, pois, nenhuma boa obra que praticássemos era suficiente para alcançarmos a misericórdia divina.

Em toda a história, o homem sempre tentou chegar a Deus por meio dos méritos de seu braço, mas a justiça de Deus se revelou nos mostrando que nenhuma boa obra era capaz de trazer a salvação para homem algum. Por isso, se manifestou o amor de Deus pela humanidade em doar Seu único Filho em sacrifício por nossas culpas. Sua morte e ressurreição fizeram com que o Espírito Santo renovasse e regenerasse nossas vidas. Num ato generoso de Deus em entregar o que Ele tinha de melhor, nós fomos considerados justos, não por nossos merecimentos, mas pela própria justiça de Deus.

Com essa atitude de bondade fomos reputados como herdeiros e co-herdeiros da promessa de reinarmos com Ele na glória. Devemos sempre ter isso em mente, pois, é nossa maior esperança. Enquanto os ímpios correm atrás das coisas perecíveis, nossa busca deve ser pelas espirituais, que estão guardadas para aqueles que amam e aguardam Sua vinda. A maior manifestação de amor já existente em toda a história foi Deus conceder Seu Filho inocente pelos pecados da humanidade. Tal sacrifício fez com que hoje tivéssemos acesso direto ao trono das misericórdias de Deus, fazendo com que o Espírito Santo fosse derramado em nossas mentes e em nossos corações.


No amor d'Aquele que exala graça e misericórdia.

sábado, 12 de junho de 2010

Socorro: Os críticos da crítica voltaram!


Reapareceram na web alguns textos censurando blogs que tratam temas delicados e expõem vicissitudes do povo evangélico. Apologistas novamente são duramente criticados por expor o calcanhar de Aquiles da igreja brasileira aos olhos de milhares de freqüentadores das páginas de vidro deste webmundo.

O primeiro argumento que os defensores do “status quo” usam contra nós é de que “Deus não precisa de defensores; ele é maior de idade e sabe se defender”. Uma amiga internauta disse que esta frase é de autoria de Caio Fábio. Ao menos assim, fora de contexto, a frase do reverendo não podia ser mais infeliz. Isso porque embora Deus não precise de defensores, a fé crista sim. E não foram os anjos que receberam a missão de preservar a mensagem incorruptível e transmiti-la às gerações futuras, e sim a igreja. Não podemos permitir que o evangelho seja modificado, adulterado, nem aceitar uma mensagem diferente daquela contida nas Escrituras (Gl 1.8).

O segundo argumento dos “críticos da crítica” é que ao citar nomes e tornar pública a conduta dúbia dos falsos mestres, ficamos em dívida com a ética e matamos nossos próprios soldados. Penso que aqueles que afirmam isso não devem jamais ter lido a carta aos Gálatas, quando Paulo repreende a Pedro, seu conservo e apóstolo, por sua dissimulação (Gl 2.11-14), nem a segunda epístola pastoral que ele enviou a Timóteo, à fim de advertir o jovem pastor sobre aqueles obreiros reprovados, os quais ele não teme mencionar os nomes (2 Tm 2.17; 2Tm 4.10). Aliás, uma das características que distingue a Bíblia dos outros livros religiosos é o fato de que ela não encobre a transgressão dos seus personagens, coisa que deve parecer politicamente incorreta aos olhos dos nossos queridos colegas.

O terceiro argumento dos “nossos juízes” é, ironicamente, que não devemos julgar quem quer que seja. Eles dizem que julgar está em desarmonia com Jesus e com os evangelhos. Sinceramente, às vezes penso que a única versão do evangelho que estas pessoas conhecem é aquela apresentada pelo Augusto Cury ou pelo Paulo Coelho. O pecado e o juízo simplesmente não existem na concepção deles, o que me leva a pensar que no mínimo, eles adoram um Jesus diferente. Ora, em Mateus 7.15-19, o Senhor Jesus disse:

“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? [...] Toda árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis”

E também em Mateus 7.21-23, diz:

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade”

Ora, o que são estes dois textos, senão um convite ao discernimento espiritual e uma promessa de juízo sobre todos os falsos religiosos? Diferente do pensamento que predomina nos arraiais evangélicos, Jesus não nos vetou o juízo, mas nos convidou a discernir entre o lobo e o pastor.

Assim sendo, penso que uma campanha contra a apologética e as denúncias dos descalabros cometidos por falsos profetas feitas em blogs e sites é incompatível com o evangelho. Se Deus fez com que denúncias semelhantes fossem impressas e preservadas nas páginas de papel, por que razão estaríamos pecando ao fazer denuncias semelhantes e publicá-las em nossas páginas de vidro?
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Por Leonardo Gonçalves

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