sexta-feira, 29 de maio de 2009

A humildade


Sobre a humildade, concordo com André Comte-Sponville: “Não é a ignorância do que somos, mas, ao contrário, conhecimento, ou reconhecimento de tudo o que não somos”. É a admissão de que cheguei onde estou sem gabar-me: “sou o que sou pela graça”.

Quando penso em humildade, acompanho Dwight Moody: “O homem pode demonstrar um falso amor, uma falsa fé, uma falsa esperança e outras graças, mas jamais poderá simular humildade”. Também concordo com Stanley Jones: “A essência do divino é a humildade. O primeiro passo para encontrar a Deus é destruir nosso orgulho”.

A humildade não sobrevive sem que se aniquilem as falsas onipotências. O petulante não admite fragilidades, não reconhece limites, não aceita inadequações. O soberbo se embrutece porque é insaciável. Apropria-se da pergunta do poeta: “Por que não é infinito o poder humano, como o desejo?” Dionisíaco, atropela quem estiver na frente. Odeia ser frustrado.
Spinoza dizia que “a humildade é uma tristeza nascida do fato de o homem considerar sua impotência ou sua fraqueza”. Nietzsche bateu o martelo: “Conheço-me demais para me glorificar do que quer que seja”. E Comte-Sponville conclui: “O que é mais ridículo do que bancar o super-homem?... A humildade é o ateísmo na primeira pessoa: o homem humilde é ateu de si, como o não-crente o é de Deus”.

A humildade e a gratidão necessitam uma da outra. O humilde sabe que não se fez; não é o self-made man, que se recusa a reconhecer os que lhe ajudaram nos primeiros degraus. Sente-se devedor dos pais que se sacrificaram para que estudasse, dos professores que lhe incutiram valores, dos amigos que nunca censuraram na vergonha, dos poetas que traduziram beleza, dos profetas que lhe falaram em nome de Deus. Nos solilóquios, repete: “Não sou a causa de mim mesmo; vejo nos outros a raiz da minha alegria; celebro o meu presente como um dom".

A humildade é esvaziamento. O prepotente não consegue amar. Só quem abre mão dos controles sabe deixar-se invadir pela compaixão.
Simone Weil afirmou que “o amor consente tudo e só comanda os que consentem em ser comandados”. Amor é renúncia. Não existe a possibilidade de coerção e amor se misturarem. O pretensioso é inflexível, impaciente e estúpido. O humilde recua, na recusa de exercer força, poder, violência.

A humildade é demasiadamente discreta. Se pretendo, um dia, ser humilde ninguém pode perceber. Mas, espero aprender a não cobiçar a divindade.
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Por Ricardo Gondim

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