“As inexoráveis ‘leis da natureza’, que operam em desafio ao sofrimento ou mérito humano, que não são detidas pela oração, parecem, à primeira vista, fornecer um forte argumento contra a bondade e o poder de Deus. Vou apresentar a idéia de que nem mesmo a Onipotência poderia criar uma sociedade de almas livres sem ao mesmo tempo criar uma natureza ‘inexorável’ e relativamente independente... Podemos talvez conceber um mundo em que Deus tenha corrigido os resultados do abuso do livre arbítrio pelas suas criaturas a cada momento: de maneira que a viga de madeira se tornasse macia como grama ao ser usada como arma, e o ar se recusasse a obedecer-me se tentasse utiliza-lo em ondas sonoras que transmitissem mentiras ou insultos. Num mundo assim, porém, os atos errados seriam impossíveis e, portanto, ficaria anulado o livre arbítrio... A idéia de que Deus pode modificar, e realmente modifica, ocasionalmente, o comportamento da matéria produzindo o que chamamos de milagres, faz parte da fé cristã; mas a própria concepção de um mundo comum e portanto estável exige que tais ocasiões sejam extremamente raras... As leis fixas e toda a ordem natural, são tanto limites dentro dos quais a sua vida comum fica confinada como também a condição sob a qual essa vida pode existir. Tente excluir a possibilidade de sofrimento que a ordem da natureza e a existência do livre arbítrio envolvem, e descobrirá que excluiu a própria vida. O que realmente nos satisfaria seria um Deus que dissesse a respeito de qualquer coisa que gostássemos de fazer: ‘Que importa se isto os deixa contentes?’ Queremos, na verdade, não tanto um Pai Celestial, mas um avô celestial – uma benevolência senil que, como dizem, ‘gostasse de ver os netos se divertindo’ e cujo plano para o universo fosse simplesmente que se pudesse afirmar no fim de cada dia: ‘todos aproveitaram muito’”.
.Estes comentários de C. S. Lewis extraídos de seu livro O problema do sofrimento (Editora Vida, 2006) ajudam a responder o velho dilema proposto por Epicuro (341 a. C.) a respeito da tensão entre a onipotência e a bondade de Deus: se Deus existe, ele é todo poderoso e é bom, pois não fosse todo-poderoso, não seria Deus, e não fosse bom, não seria digno de ser Deus. Mas se Deus é todo-poderoso e bom, então como explicar tanto sofrimento no mundo? Caso Deus seja todo-poderoso, então ele pode evitar o sofrimento, e se não o faz, é porque não é bom, e nesse caso, não é digno de ser Deus. Mas caso seja bom e queira evitar o sofrimento, e não o faz porque não consegue, então ele não é todo-poderoso, e nesse caso, também não é Deus. Em síntese, o dilema propõe que Deus não pode ser bom e onipotente ao mesmo tempo.
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Uma resposta ao dilema está proposta nos comentários de C.S. Lewis, que indicam que a existência humana exige pelo menos duas coisas: a liberdade de toda e cada pessoa humana, o que implica a absoluta flexibilidade de fatos e eventos; e um mundo com leis fixas que valem para toda e cada pessoa humana. Caso vivêssemos em um mundo no qual Deus impedisse que o mal acontecesse, ou que as leis naturais variassem de acordo com os interesses, caprichos, necessidades e conveniências de cada pessoa particular, a atividade livre e responsável seria impossível. A bondade de Deus caminha ao lado da liberdade humana. O mundo é o palco estável onde Deus e o homem caminham, idealmente, numa parceira de amor e liberdade.
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www.ibab.com.br
4 comentários:
Olá amado irmão,
Tudo na paz?
Estive parado um pouco com o blog, devido a mudanças no mesmo.
Já estou de volta, no mesmo endereço só que agora no Wordpress.
Quando puder dá uma passadinha lá!
Um abraço,
Em Cristo,
Agnaldo Gomes
www.despertaigreja.com
Indiquei seu site para uma premiação.
Dê uma passadinha lá!
http://preberjamil.wordpress.com/
Um abraço
Graça e Paz de Jesus!
Caro Pr. Éber!
Obrigado pela indicação.
Deus lhe retribua.
Fraternalmente,
Junior
Grande Agnaldo!
Sempre que posso dou uma passada em seu edificante blog.
Seu novo layout está bem legal.
Com carinho,
Junior
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