Técnicos da Polícia Científica, do Departamento de Controle do Uso de Imóveis (Contru) e da Defesa Civil iniciaram os trabalhos para descobrir as causas do desabamento que matou 9 pessoas e feriu outras 106, sendo 8 em estado grave, no início da noite de domingo.
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Os primeiros indícios mostram que a estrutura desmoronou por falta de manutenção, pequenas infiltrações e excesso de peso causado por ar-condicionado, aparelhos de som e de iluminação colocados indevidamente no teto nos últimos anos, conforme os técnicos revelaram ao Estado.
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Fotografias feitas ontem pelos órgãos da Prefeitura mostram cupim na madeira do telhado, além de vários equipamentos de som e de luz que sobrecarregaram o teto. A instalação do ar-condicionado também foi feita sem levar em conta que a estrutura não aguentava tanto peso. "Pela condição do cimento, da madeira e das vigas de ferro, é possível falar que falta de manutenção também deve ter sido essencial pra tragédia", disse uma das peritas que trabalham na investigação.
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O presidente da Renascer, o deputado federal Geraldo Tenuta Filho (DEM-SP), o Bispo Gê, disse que o teto não oferecia perigo, a manutenção era feita anualmente e ele "nunca permitiria a entrada de fiéis em um local condenado". Bispo Gê ainda anunciou que indenizará as famílias das vítimas.
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Prefeitura e Renascer passaram o dia de ontem tentando se eximir da responsabilidade pelo desabamento. A igreja tinha alvará de funcionamento expedido em 15 de julho de 2008, acompanhado de um laudo técnico assinado pelo engenheiro Carlos Alberto Freire de Andrade Neto atestando a segurança.
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Segundo o secretário de Habitação, que assumirá em breve a de Controle Urbano, Orlando Almeida, os técnicos do Contru só são obrigados a checar as saídas de emergência e os equipamentos de segurança, mas não as condições estruturais do imóvel. "Isso é responsabilidade do proprietário", disse ele. A Renascer limitou-se a afirmar que tem alvará válido até 2009.
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O Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea/SP) informou que o engenheiro Andrade Neto, que assinou o laudo técnico, poderá ser responsabilizado criminalmente pela tragédia. A entidade também vai investigar o desabamento. O engenheiro não foi localizado pelo Estado.
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O que nem o governo nem a Igreja conseguiram esclarecer é que o teto do templo da Renascer passou por uma reforma "total" entre setembro e novembro de 2008, que não foi comunicada à Prefeitura. A informação do deputado estadual José Antonio Bruno (DEM), bispo primaz da Igreja, é que o telhado e as telhas foram trocados. Pela legislação municipal, o Contru deveria ter sido informado previamente sobre a obra, o que não ocorreu, segundo a Secretaria da Habitação. O templo, portanto, estava irregular e passível de fechamento.
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A promotora Mabel Tucunduva, da Promotoria de Habitação e Urbanismo do Ministério Público Estadual, disse que, em 1998, instaurou procedimento para apurar as condições de funcionamento de templos e igrejas da capital. Na ocasião, um laudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) apontou "risco de ruína total ou parcial da estrutura (de sustentação do telhado)".
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Após a reforma, no ano seguinte, um engenheiro, um arquiteto e o próprio IPT liberaram a sede da Renascer. "É inadmissível que, dez anos depois, esse telhado tenha ruído", disse a promotora, que agora pretende investigar os demais templos da Renascer na cidade. O promotor Ricardo Andreucci vai acompanhar o inquérito sobre o acidente, instaurado na 1ª Delegacia Seccional. Na segunda, seis pessoas foram ouvidas.
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A Secretaria da Habitação informou que recebeu apenas um pedido de alvará de funcionamento da Renascer em dez anos. A pasta disse ainda que, se o proprietário não pede o alvará, "está sujeito a fiscalizações". Ainda assim, não soube esclarecer por que o local não foi vistoriado antes.
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Fonte: Jornal Estado de São Paulo
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