quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O que estão fazendo com a Igreja

Não é preciso grande dose de perspicácia para constatar que, nas últimas décadas, muitos evangélicos se distanciaram dos postulados da Reforma Protestante. Não há preocupação com interpretar corretamente o texto bíblico, com os parâmetros da hermenêutica e com a ética cristã. Os escândalos se multiplicam e a credibilidade da Igreja Brasileira esmorece cada vez mais. Há pouco interesse pela educação teológica. Assim, a Igreja Evangélica no Brasil não consegue mais ser sal da terra nem luz do mundo. É muito mais influenciada do que influencia. Os prejuízos têm sido enormes para a evangelização e para o crescimento espiritual dos fiéis.
Ao reduzir o espaço da teologia em seu modus operandi e sem os parâmetros da hermenêutica e da exegese bíblica, vários segmentos evangélicos no Brasil concedem a seus líderes a livre interpretação do texto bíblico, a multiplicação de novidades doutrinárias, uma criatividade questionável nos levantamentos de recursos financeiros e o emprego de manipulações na busca por mais adeptos.
Já há vários anos essa crise doutrinária e ética se alastra em grande parte do campo evangélico brasileiro. Nele encontra-se uma igreja capaz de mobilizar as massas, mas não a mente. Uma igreja muito mais propensa a sentir que a refletir, tende a exceder-se constantemente no uso dos dons espirituais e no ensino da fé cristã. Uma igreja que já não se lembra de suas raízes. De fato, o evangelho que se prega hoje em várias vertentes evangélicas brasileiras está muito distante daquele registrado nas páginas do Novo Testamento.
Quando se reuniu com os líderes de Éfeso, Paulo os alertou sobre tais perigos para o rebanho de Deus:

Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos. Por isso, vigiem! Lembrem-se de que durante três anos jamais cessei de advertir cada um de vocês disso, noite e dia, com lágrimas. Agora, eu os entrego a Deus e à palavra da sua graça, que pode edificá-los e dar-lhes herança entre todos os que são santificados.

Atos 20:29-32

Pedro também exorta:

No passado surgiram falsos profetas no meio do povo, como também surgirão entre vocês falsos mestres. Estes introduzirão secretamente heresias destruidoras, chegando a negar o Soberano que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. Muitos seguirão os caminhos vergonhosos desses homens e, por causa deles, será difamado o caminho da verdade.

2 Pedro 2:1-2

Uma das maiores necessidades dos evangélicos brasileiros é o discernimento bíblico e doutrinário, pois nunca uma geração de crentes foi tão bombardeada com informações como a atual. Os ventos de doutrina e as distorções bíblicas estão por toda parte. Temas importantes da fé cristã como justificação pela fé, conversão, pecado, salvação, arrependimento, graça e parousia já perderam espaço para o canto, a dança, o show e o entretenimento em muitos púlpitos. Por isso, este livro do Dr. Augustus Nicodemus é bem-vindo e extremamente necessário.
Creio que o autor é uma voz que Deus levantou para falar a esta geração. Sua formação acadêmica e ampla experiência como pesquisador, escritor e pastor de almas conferem-lhe autoridade mais que suficiente para alertar a Igreja Brasileira sobre as ameaças da pós-modernidade no campo das idéias. Como afirma o autor, o perigo está em toda parte: nas universidades, nas escolas teológicas, nas igrejas e na mídia em geral.
Com linguagem clara e, muitas vezes, contundente, o autor trata de diversos assuntos que causam inquietações e geram controvérsias nos arraiais evangélicos, como a neo-ortodoxia, o pluralismo religioso, a proposta de uma espiritualidade com base na mística medieval, questões quanto à autoridade e inerrância da Bíblia Sagrada e o constante conflito entre o liberalismo teológico e a ortodoxia cristã. Como doutor em hermenêutica, discorre também sobre os métodos de interpretação bíblica.
A obra trata do neopentecostalismo, um movimento que fez da teologia da prosperidade sua mola propulsora. Por conhecer bem o campo religioso brasileiro e interagir com as diferentes denominações, inclusive as pentecostais, o autor comenta com lucidez e paixão pastoral a tentação que reina entre muitos pregadores tradicionais de imitar a liturgia e os métodos proselitistas neopentecostais.
Muito acima do chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie, do doutor em Hermenêutica, do teólogo capaz de analisar e explicar, com brilhantismo, a história do pensamento cristão, pude conhecer, através das páginas deste livro, um homem cristão, que ama a Palavra de Deus e que conhece Jesus Cristo, e isso é o mais importante. Creio que o clamor por uma volta à Bíblia Sagrada e às verdades defendidas pela Reforma Protestante será ouvido por muitos após a leitura deste livro.

Referências Bibliográficas:

Prefácio da obra de: LOPES, Augustus Nicodemus. O que estão fazendo com a Igreja. Ed. Mundo Cristão, 2008. Por Paulo Romeiro.


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