quarta-feira, 7 de julho de 2010

A alma que me cabe


– Os conservadores e reformados – disse o dono do haras ao jangadeiro – afirmam que a missão é levar as pessoas a abraçarem o nome de seu mestre de modo a evitar o inferno e ganhar o céu; para eles, trata-se de salvar almas não para este mundo, que e irremediável, mas para a vida eterna. Os liberais e libertários afirmam que a missão é transformar este mundo a partir do exemplo revigorante do seu mestre, de modo a construir nesta vida uma estirpe honorária de céu; para eles, trata-se menos de prometer o reino de Deus para a vida futura que implementá-lo contra todos os impedimentos nesta existência. Qual é a sua opinião? Qual dos dois pensamentos está certo?

O jangadeiro terminou de fazer o nó que o incomodava e aspirou a maresia.

– O que sei sobre a vida eterna é que ela é para ser um presente, e presente a gente não deve cobrar nem esperar. O mesmo, você deve entender, posso dizer desta vida. A vida futura que deve me ocupar é o momento seguinte, porque o momento seguinte depende do que faço neste. Salvar as pessoas ou transformar o mundo? Se você pensar, qualquer um desses seria fácil demais, porque tanto o mundo quanto as pessoas estão fora de mim; a metamorfose deles nada exige de mim e para mim nada implica além daquilo que me beneficia. O desafio do legado de Jesus é que eu transforme a mim mesmo. É natural que transformando a mim mesmo estarei transformando o mundo, mas essa não é a questão. A alma que me cabe salvar continuamente é a minha.
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Extraído da Bacia das Almas

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