sábado, 29 de novembro de 2008

Barack Hussein Obama

Por alguma razão fantástica, mas inusitada, mares de lágrimas descem teimosas de milhares de faces de norte-americanos, dos olhos da América. Algumas mais copiosas e consternantes, geradas em pranto incontinente como as que despencan dos piedosos olhos do Rev. Jessé Jakson. É uma grande cena que a maravilha da comunicação moderna deita aos olhos do mundo como um ato de pugilismo desconcertante. Na Igreja Batista de Ebenezer (certamente em centenas de outras!), de afroamericanos, os devotos dão fim à uma vigília de oração pela América, e agora grita de júbilo: "Obama is our President!"
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As 5h da manhã (fuso horário de Angola) a contagem de votos acabava de confrmar a eleição de Barack Obama como o 44o presidente dos Estados da América, o presidente da nação militar e economicamente mais poderosa do mundo; presidente da nação das mais imensas contradições históricas, na qual a história da escravidão dos negros revelou-se mais gritante, mais cruciante e mais humilhante para a raça do continete negro. América faz história elegendo um presidente não apenas jovem e negro, mas diretamente um africano-americano. Barack Obama não é afro-descendente como os demais afro-americanos. Ele não descendente dos escravos africanos da velha América, mas um legítimo africano, gerado de um africano cujo corpo praticamente ainda se encontra quente numa tumba das terras do Quênia. Ele não é um imigrante como Arnold Schwarznegger, que pelo caminho da glamurosa Hollywood chegou ao posto número 1 da política californiana. Obama é também legítimo americano, nascido em seu solo, mas de sangue negro de um negro africano de nascimento, passaporte e carteira de identidade da República do Quênia. Fazendo justiça à lógica da derivação genética e geracional da raça humana, que de resto nós humanos cultivamos com repetição tradicional e clássica, o mundo está hoje diante de um fenômeno histórico maior ainda: a América do Norte elegeu para si, consciente ou inconscientemente, um presidente africano. A maior potência do mundo, no interior da qual puritanos e fundamentalistas de boa fé, em nome da justiça divina e da piedade, se uniram entre 1861 e 1865 para matar e expulsar da nação os que defenderam a abolição da escravidão nas terras do tabaco, hoje se rende à grandiosidade, à decência e à beleza da humanidade, para dar-se um presidente africano. Para mim é o fim, mas também o início da história. Senhores, não importa qual desempenho e desfecho aguarda pela Casa Branca, que de branca terá apenas o nome e não a cor do seu inquilino número um nos próximos 4 anos; depois da presidência desse africano-americano, a Amércia, a África e o mundo terá concedido à história a dignidade da reconciliação das raças e dos continentes. O que hoje ficou evidente, num tempo em que a escravidão de pessoas ainda prevalece em muitos quadrantes do mapa global, a África pode dar às nações mais do que escravos, mais do que razões para debater políticas e conflitos raciais.
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As 6 horas da manhã em ponto desta quarta-feira, 5 de novembro, subiu à tribuna o presidente africano para tecer um silogismo que nada tem de filosófico: diante de vós está hoje a realização do sonho da verdadeira América, que deixou de ser uma coleção de ideologias, de raças e de origens, para se tornar os Estados Unidos da América! Em gratidão, entre todos aos quais deveu a sua eleição, e entre a sua família, não esqueceu os seus irmãos de sangue. Literalmente, estes são africanos, asiático e nenhum americano legítimo de pai e mãe.
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Originário de um país africano (Quênia) em que diariamente centenas de crianças ainda morrem de fome e desnutrição consequente, e cerca de 40% dos seus jovens está fora das salas de aula, Obama tem certamente pela frente o desafio de entregar os sonhos que vendeu. Assim como fez seu compatriota Raila Ondinga, por sinal da mesma tribo que ele, Obama terá que ser hábil para evitar a divisão momentânea e histórica da América. Mas certamente não se pode mais negar que ele realizou um importante projeto político e social das novas gerações americanas, que ele assume no prefácio de 2004 da sua autobiografia política "A origem dos meus sonhos": atenuar, de alguma maneira, as fissuras entre as raças que caracterizaram a experiência norte-americana, bem como o estado fluido de indentidades, isto é, a transposição de obstáculos postos pelo choque das culturas, que marca a vida moderna.
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John McCain, cerca de meia hora antes, fez o melhor discurso da noite, mais patriótico e mais cioso e convincente: pede a Amércia a descer para os dificeis rincões da razão para dignificar a história diante de si com a eleição do primeiro afroamericano. Sim, também para McCain, Obama é um africano-americano. Apela a unidade nas diferenças, e apoiar Obama a unir o país nas diferenças e devolver a Amercia os tempos de glória, da segurança e da prosperidade. É um grande comunicador também, e discursa grandiosamente bem sem as perorações enlatadas e os exórdios escritos que nossos políticos africanos nos habituaram no continente negro (embora não só). Enfim, ele partiu e chegou decidido a fazer coisas que ele afirma que irão funcionar na Casa Branca: diminuir distâncias, fazer conexões, forjar alianças.
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Obama também nada leu, e fez história na arte da comunicação. Com o refrão "yes we can" (sim, podemos), ele seguiu e repetiu a conhecida rapsódia do sermão mais famoso do mundo,"I have a dream" (tenho um sonho), de Martin Luther King. Tom no tom, ênfase totalmente colada, fez o novo presidente negro da América repetir, ao fim de cada verso que evocava a realização do sonho da velha América de King e da América da nova geração, "Yes we can". Confesso, camaradas, neste momento histórico e sublime minhas lágrimas literais uniram-se com as de milhões de Americanos, e mais uma vez aos do incontinente Jesse Jakson, feito criança inconsolável. Foi bom ter vivido e "presenciar" esta cena e este momento, graças ao milagre da Televisão. Repouse em paz Martin Luther King, pois seu sonho, o sonho da América unida, hoje começou a materializar-se de modo tão grandioso como o sonhaste.
Deus abençoe a América. Assim como reza o seu nome (barack, abençoado em árabe), Deus abençoe Obama. Deus abençoe a África. Deus abençoe o mundo.
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Por Dr. Zakeu Zengo (Professor da UERJ)

A (im) paciência de Jó

Há um livro na Bíblia quase atemporal. Narra a experiência de Jó, rico patriarca que teria vivido no tempo de Abraão mas cuja história é provável que tenha sido reduzida a esta forma poética centenas de anos mais tarde, na era de ouro literária de Israel. Independente disso, o livro levanta questões tão prementes e universais que sua mensagem acaba sendo útil para todas as épocas.
No período entre o Antigo e o Novo Testamento, o livro de Jó se torna um dos preferidos dos judeus. A história de Jó gira em torno de uma questão que tem assombrado os judeus desde os primeiros dias, quando foram escolhidos como povo da aliança de Deus. De alguma forma eles esperavam melhor tratamento. Jó tem a coragem de dar voz à pergunta “Deus é injusto?” e ninguém a fez com maior eloqüência e profundidade.
O livro parece ter sido escrito para explorar os limites exteriores da justiça. Jó, o homem mais reto, mais excelente de toda a terra, tem de passar pela pior das calamidades. Sofre castigos insuportáveis – mas por quê? O que ele fez de errado?
O livro se assemelha a um romance policial cujos leitores sabem muito mais que os personagens centrais. O primeiríssimo capítulo responde a principal inquietação de Jó: ele não fez nada para merecer tamanho sofrimento. Nós, leitores, sabemos disso, mas ninguém conta nada pra Jó e seus amigos. Como o prólogo revela, Jó está envolvido em um teste cósmico, um jogo proposto no céu mas encenado na terra.
Nos tempos de Malaquias, as pessoas haviam perguntado “O que ganhamos seguindo a Deus?” e essa pergunta é o cerne da provocação de Jó. Satanás afirma que as pessoas amam a Deus só pelas suas boas dádivas. De acordo com ele, ninguém jamais seguiria a Deus não fosse devido a algum ganho egoísta. Claro que Jó não tem culpa de nada e é um homem correto; mas é também rico e saudável. Retire essas coisas boas de sua vida, Satanás desafia, e a fé desse homem desaparecerá com suas riquezas e saúde.
A reputação de Deus está em jogo neste livro, dependendo da reação incerta de um homem desolado, miserável. Jó continuará a confiar no Senhor, no mesmo momento em que seu mundo desmorona a sua volta? Acreditará em um Deus de justiça mesmo quando as circunstâncias parecem ser injustas?
Descubra as respostas destas indagações lendo os 42 capítulos deste edificante livro.

sábado, 22 de novembro de 2008

Sofrimento e liberdade


Na teologia, a grande discussão, o principal nó a ser desatado, tem a ver com a relação entre Deus, felicidade, e liberdade.
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E os questionamentos da teodicéia (definida como conjunto de doutrinas que procuram justificar a bondade divina, contra os argumentos da existência do mal no mundo) principiam qualquer debate. Por que sofremos? Por que Deus, sendo simultaneamente bom e onipotente, permite tanta maldade? Não poderia o Todo-Poderoso ter criado um mundo isento de dor?
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Para piorar a angústia humana, o sofrimento não só existe, como é percebido. Quando animais irracionais sofrem, a dor não é antecipada, não é analisada e não lhes causa ansiedade. Homens e mulheres, porém, padecem para além da dor física.
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Ademais, a dor humana é fonte inesgotável de questionamento, tanto pela sua concretude (dói mesmo) como pela sua subjetividade (existem dores que não sabemos explicar, como a saudade).
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Todos sofrem e se angustiam ao mesmo tempo – corpo e mente padecem. Portanto, não bastam as aspirinas, as morfinas, os ansiolíticos.
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Também não adianta questionar se é possível um mundo sem dor. O sofrimento é universal, esmurra nossa cara todos os dias. Mesmo quando o dente não dói e o rim não provoca urros, existe a percepção de que agora mesmo, em algum lugar, alguém está chorando.
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Os gregos enxergavam o sofrimento como uma tragédia, na qual os seres humanos eram reduzidos a um fantoche. A história seguia por trilhos que eles chamavam de destino e ninguém conseguia se libertar dessa cadeia inexorável. O fatalismo grego provocava passividade (estoicismo), negação (cinismo), permissividade (hedonismo) ou um salto transcendental (platonismo). O mal, contudo, permanecia absoluto, já que nada, e ninguém, poderiam anulá-lo. Nesse sentido, as forças que governavam o mundo permaneciam essencialmente cegas.
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Então, o nó górdio da filosofia, e posteriormente, da teologia, se expressava nos paradoxos: “Se existe um Deus onipotente, ele não pode eliminar o mal e o sofrimento? Se existe um Deus bom por que ele não deseja acabar com a dor? Se pode e não faz, não é bondoso. Se quer e não faz, não é onipontente. Se ele não for onipotente, não é Deus. Se não for bondoso, não merece ser servido”.
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Reconheço minha limitação. Não tenho a pretensão de dar uma resposta definitiva que desalinhe o novelo que intrigou Heráclito, Sócrates, Agostinho, Tomás de Aquino, João Calvino, Soren Kierkegaard e tantos outros. Meu conhecimento é bem intuitivo e minha contribuição, mínima. Mas como bom cearense, vou ser atrevido.
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Para começar a arranhar a superfície do assunto, falemos de liberdade. Tanto divina como humana. Até que ponto existe liberdade no universo? No raciocínio grego, Deus era preso a si mesmo. Compreendido a partir de conceitos absolutos (convém lembrar que no universo semítico não se falava em absolutos), o deus grego era impassivo, já que nada poderia ser tão forte que o afetasse; era inerte, porque o perfeito jamais poderia mudar.
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Os gregos restringiam, portanto, a liberdade a uma mera inserção harmônica do indivíduo na polis e da polis no cosmos divino. As bitolas do destino, ou do cosmos, é que conduziam cada indivíduo, cada sociedade e toda a história.
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O ser humano não tinha como reverter, adiar ou antecipar o que estivesse determinado pelas engrenagens do fatalismo. Sua liberdade era bem pequena. Ele podia até fazer micro-ações que lhe dariam um pouco de satisfação, mas jamais concretizar macro-ações, aquelas capazes de alterar o que “já estava escrito e determinado”.
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A revelação judaico-cristã nunca concordou com essa compreensão grega do “motor imóvel” (Deus como um motor que põe tudo em movimento, mas ele mesmo, por nada é movido). Nem aceitava que o futuro não pudesse ser alterado por estar determinado à priori.
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Se os gregos não acreditavam na possibilidade de alterar o curso da história, os profetas judeus, e mais tarde os evangelistas cristãos, convocavam o povo a mudar o futuro.
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Aceito o argumento de Jose Comblin de que a compreensão da liberdade não evolui porque se manteve restrista ao conceito grego. A propalada democracia ateniense “somente valia para uma minoria de privilegiados”; a rigor, só havia aristocracia na Grécia. Poucos, muito poucos, conheciam a liberdade.
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Portanto, proponho que o debate sobre o sofrimento humano considere a liberdade dentro do campo de compreensão judaica. Deus é livre e os seres humanos, criados à sua imagem, também possuem liberdade de arbítrio.
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Deus é onipotente; Deus usou de sua soberania para criar pessoas dotadas de arbítrio. Para mim, essas duas afirmações não comportam discussão.
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Mas como podem co-existir duas liberdades, sendo uma delas infinitamente mais poderosa do que a outra? Como os seres humanos poderiam ser livres de verdade se Deus não lhes desse espaço? Feuerbach afirmava que a onipotência divina esmaga a dignidade humana e que se Deus for tudo, não somos nada. Muitos, depois dele, trabalharam dentro da mesma lógica: para Marx, Deus promove alienação; para Nietzsche, empobrecimento; para Freud, infantilização.
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O esvaziamento de Deus em Cristo, acaba com o paradoxo da onipotência versus liberdade humana. Cito Andrés Torres Queiruga:
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“Talvez não exista mal-entendido mais terrível e mais urgente a ser erradicado do que aquele que Feuerbach pôs – ou melhor, detectou – na raiz do ateísmo moderno: o Deus que em Cristo, “sendo rico, se fez pobre por vós, para vos enriquecer com sua pobreza (2Co 8,9), é rechaçado como o vampiro que vive à custa do empobrecimento do homem: “Para enriquecer a Deus, deve-se empobrecer o homem; para Deus seja tudo, o homem deve ser nada".
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Portanto, a liberdade humana só é possível porque Deus concede espaço. Eis a maior de todas as manifestações da Graça. Deus se esvaziou, entrou na hístória "manso e humilde de coração", voluntariou-se a viver todas as contingências às quais estamos submetidos, sofreu e morreu como qualquer um.
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“O ser humano participa da divindade no sentido de que é feito livre como Deus é livre. Para que a pessoa seja livre, Deus renuncia seu poder. Entrega o poder ao ser humano – juntamente com toda a criação – para que ele construa a sua vida com toda liberdade. Deus se retira para não se impor. A sua presença no mundo manifesta-se na vida e na morte de Jesus. Deus fez-se um crucificado para que o ser humano fosse inteiramente livre. Esta liberdade pode ser para o bem e para o mal. Não há liberdade se não houver possibilidade de escolha” (Comblin).
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Segundo Jürgen Moltmann, a fé cristã “liberta para a liberdade”. A reação moderna e atéia, segundo Moltmann, foi na direção oposta:
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“No mundo moderno, pelo contrário, os homens entendem liberdade como o fato do sujeito dispor livremente de sua própria vida e de sua propriedade e liberdade coletiva como o fato de corporações políticas, povos ou estados disporem soberanamente sobre seus próprios interesses. Aqui a liberdade é entendida como o ‘direito de autodeterminação’ do indivíduos ou dos povos. Liberdade aqui é domínio sobre si mesmo”.
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Mas a fé cristã segue outra lógica. Deus soberanamente decide valorizar as pessoas como cooperadoras com ele na construção da história.
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“Mas para a fé cristã a verdadeira liberdade não consiste nem na compreensão de uma necessidade cósmica ou histórica, nem no dispor com autonomia sobre si próprio e sobre sua propriedade, mas sim no ser tocado pela energia da vida divina e no ter parte nela. Na confiança no Deus do Êxodo e da Ressurreição o crente experimenta esta força de Deus que liberta e desperta, e dela se torna participante" (Moltmann).
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O mal, portanto, inerente à liberdade que Deus soberanamente decidiu conceder aos humanos, existe simultâneo ao bem. No espaço dessa contingência, o bem e o mal não são apenas possíveis como podem ser potencializados e anulados pelo arbítrio dos filhos de Deus.
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A trama das Escrituras consiste em mostrar que essa liberdade foi usada perniciosamente, mas que Deus nunca desistiu da sua criação. Ele revela seu pesar pelo mal; fielmente fornece princípios e verdades que podem tornar a vida bonita; chama seus filhos para que se arrependam das suas más escolhas e os convoca a serem artesãos de uma nova história.
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Soli Deo Gloria.
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Bibliografia:
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Queiruga, Andrés Torres - "Do Terror de Isaac ao Abbá de Jesus" - Paulinas.
Moltmann, Jürgen - "O Espírito da Vida" - Editora Vozes.
Comblin, Jose - "A Vida - Em Busca da Liberdade" Editora Paulus.
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Por Ricardo Gondim
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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Dizem por aí

Dizem por aí, que Deus é tão soberano, a ponto de excluir a liberdade humana para fazer o que propôs em Seu coração. Visto que não existiria amor sem liberdade, não me vejo a acreditar nestes pressupostos conceitos de “soberania”.

Dizem por aí, que incondicionalmente, Deus escolhe seus eleitos para vida eterna. Visto que as condições impostas por Deus em toda Bíblia dão sempre opções de dois caminhos ao homem (obedecer ou desobedecer), não me vejo a acreditar neste suposto conceito de “incondicionalidade”.

Dizem por aí, que Deus é responsável por tudo que acontece de bom e de ruim. Visto que esse conceito irrevogável da responsabilidade de Deus o coloca culpado de tudo, não me vejo a acreditar neste fatalismo “muçulmano”.

Dizem por aí, que todos aqueles que disserem “sim” a um apelo de aceitar a Cristo como seu Salvador, terá sua morada garantida no céu. Visto que nem todos que dizem “sim” ao apelo passam realmente por uma metanóia, me vejo a não acreditar nestas supostas conversões em massa que temos visto em tempos modernos.

Dizem por aí, que Jesus Cristo foi apenas um grande homem iluminado. Visto que a transformação de minha vida se deu única e exclusivamente pelo poder de sua ressurreição, me vejo a acreditar que Jesus Cristo foi tanto um homem iluminado, como o Deus único e verdadeiro.

Dizem por aí, que "quem tem promessa não morre". Visto que o escritor aos hebreus salienta que “todos estes (os heróis da fé do AT), tendo sido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa”, me vejo a não acreditar nestes clichês dos pregadores atuais.

Dizem por aí, que "quem não faz barulho está com defeito de fabricação". Visto que não consigo enxergar o apóstolo Paulo, ou até mesmo Jesus, gritando, sapateando ou marchando no poder, me vejo a acreditar que muitos pentecostais foram fabricados por pseudolíderes que apresentam distúrbios em suas exegeses bíblicas.

Dizem por aí, que dinheiro, fama e sucesso, são sinais da benção de Deus. Visto que Jesus foi pobre e não tinha onde reclinar a cabeça, me vejo a não acreditar nas supostas profecias destes profetas da famigerada teologia da prosperidade.

Dizem por aí, que se o Espírito Santo fosse retirado da igreja, 90% das atividades eclesiásticas iriam continuar a acontecer normalmente como se nada tivesse ocorrido. Visto que isso é algo estarrecedor, sou obrigado dar crédito a este dado, orando em todo tempo, para que tenhamos sensibilidade de perceber isso em nossas vidas.

Tantas coisas dizem por aí, mas prefiro ficar com o Evangelho genuíno apresentado nas páginas das Escrituras.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Máximas Teológicas - 10

"O universo está completo. A grande obra-prima, ainda incompleta, ainda no processo de ser criada, é a História. Para completar seu grande projeto, Deus precisa do homem".
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Abraham Joshua Heschel

terça-feira, 11 de novembro de 2008

JESUS, o retrato de Deus


Por que Jesus empresta um caráter único ao cristianismo, em meio a todas as outras religiões? O que o distingue dos grandes líderes religiosos da história mundial?
João dá a resposta no primeiro capítulo de seu evangelho. Ele chama Jesus de “a Palavra” e declara que ele tanto estava com Deus como era Deus. Em seguida explica que Jesus, a Palavra, “tornou-se carne e viveu entre nós (...) cheio de graça e de verdade”. Andando pela terra com o corpo de carne e osso de homem, Jesus incorporava a plenitude de Deus. Com sua palavras e ações, em forma humana, ele revelou Deus como Deus nunca se revelara até então. Não só Jesus exibia a verdade encontrada só em Deus como demonstrava a graça que define esse Deus e o distingue de toda outra suposta divindade em qualquer tempo ou lugar.
Philip Yancey conta em seu livro, Maravilhosa Graça, uma história sobre o autor e intelectual C. S. Lewis:

"Durante uma conferência britânica a respeito de religiões comparadas, técnicos de todo o mundo debatiam qual a fé cristã, se é que existia essa crença. Eles começaram eliminando as possibilidades. Encarnação? Outras religiões tinham diferentes versões de deuses aparecendo em forma humana. Ressurreição? Novamente, outras religiões tinham histórias de retorno dos mortos. O debate prosseguiu durante algum tempo até que C. S. Lewis entrou no recinto. “A respeito do que é a confusão?”, ele perguntou, e ouviu a resposta dos seus colegas de que estava discutindo sobre a contribuição única do cristianismo entre as religiões do mundo. Lewis respondeu: “Oh, isso é fácil. É a graça”.
Depois de alguma discussão, os conferencistas tiveram de concordar. A noção do amor de Deus vindo a nós livre de retribuição, sem cordas amarradas, parece ir contra cada instinto da humanidade. O caminho de oito passos do budismo, a doutrina hindu do Karma, a aliança judaica, o código da lei muçulmana – cada um deles oferece um caminho para alcançar a aprovação. Apenas o cristianismo se atreve a dizer que o amor de Deus é
incondicional".

Antes que Jesus viesse, Deus demonstrou graça repetidas vezes ao povo israelita, perdoando-o por desobedecer e lhe voltar as costas. Até para os gentios ele estendeu sua graça – pessoas como Raabe, Rute e os persas do tempo de Éster que se converteram ao Deus verdadeiro. O padrão para salvação, contudo, não mudou. O apego à lei ainda era necessário para que as pessoas fossem consideradas aptas para eternidade na presença de um Deus santo.
No começo do Antigo Testamento, porém, Deus já planejava criar um caminho para o povo alcançá-lo que não fosse por intermédio da lei. Naquele período, ninguém guardou a lei com perfeição exigida pelo Senhor, de forma que, no fim, só a fé as qualificava para o céu. A salvação era possível graças ao sacrifício de Cristo ainda por acontecer. Jesus foi o jeito que Deus encontrou para salvar a dívida pelo pecado de uma vez por todas. Sua morte na cruz é o melhor retrato da graça de Deus e de seu amor por nós.
O Senhor tem todos os motivos do mundo para se afastar por causa de nossos fracassos em amá-lo como deveríamos. Em vez disso, por intermédio de Jesus, ele caminha em nossa direção. Jesus é o retrato de que dispomos de um Deus santo e amoroso, que aproxima de si os que nele crêem.

sábado, 8 de novembro de 2008

O Cristão e o Código de Barras


O Código de Barras, que muitos cristãos consideram o sinal da besta, por enquanto é apenas um extraordinário sistema de catalogação. Ao passar no caixa do supermercado, por exemplo, a máquina leitora identifica o produto, dá baixa no estoque, registra o preço e facilita a vida de todos, a começar daqueles que estão na fila.
No entanto, como toda máquina, a leitora de Códigos de Barras, a tal pistola, tem inteligência limitada na sua programação. Se alguém substituir o selo do Código de Barras de uma caixa de cereais pelo selo de um produto mais barato, como farinha, a máquina faz a leitura como se o produto fosse, de fato, um saco de farinha. A máquina leitora não faz a comparação entre o selo do Código de Barras e o produto. E, nesse caso, uma caixa de cereais sai do supermercado disfarçada de saco de farinha.
Se entendo bem o Evangelho, a máquina leitora do Código de Barras que existe no portão do céu é muito mais inteligente do que a que existe no caixa do supermercado. A pistola do céu é capaz de compatibilizar o selo com o produto e verificar a coerência entre a identificação visível e o produto em si.
Samuel, o profeta, foi instruído quanto aos critérios de julgamento divino. Aprendeu que Deus não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, mas Deus vê o coração. Em outras palavras, o homem vê o Código de Barras, mas Deus enxergar o que tem dentro da caixa.
Por esta razão, Jesus disse que “nem todo o que me diz : Senhor, Senhor! Entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que estás nos céus”. Coreografia, declarações verbais e placas sinalizadoras podem impressionar as massas, mas não têm nenhum valor aos olhos de Deus. O Evangelho implica transformação de dentro para fora. Tornar-se cristão não é apenas uma questão de confissão de fé ou de passar a acreditar em algumas coisas, mas de relacionamento dinâmico e conseqüente com Deus, por intermédio de Jesus, sob a ação constante do Espírito Santo.
Sou cristão por que nasci de novo e, em Cristo, sou nova criatura, nova pessoa. Hoje experimento o processo através do qual o Espírito Santo de Deus vai me transformando de glória em glória, até que a imagem de Cristo seja formada em mim.
Que ninguém se iluda. A corrida aos templos em busca de socorro circunstancial não quer dizer absolutamente nada em termos de multiplicação de cristãos. Nem mesmo os favores eventualmente recebidos são evidência de conversões genuínas. Afinal, Deus faz o sol nascer sobre maus e bons, faz chover sobre justos e injustos, e entre dez leprosos curados pelo favor de Deus, apenas um experimentou salvação em resposta a sua fé.
A salvação em Cristo não implica apenas novo status de relacionamento diante de Deus – do tipo filho em vez de criatura, ou justificado em vez de injusto. A salvação em Cristo implica necessariamente nova vida a partir deste novo relacionamento. Cristo não veio para que tivéssemos nova verdade ou novas bênçãos. Ele veio para que tivéssemos vida. Conhecimento da verdade e bênçãos são a moldura em que o relacionamento com Deus acontece, mas esse relacionamento é na essência a participação da vida de Deus fazendo-nos pessoas absolutamente distintas daquelas que éramos antes da fé em Cristo.
Há, portanto, pelo menos dois evangelhos na praça. O primeiro convoca pessoas para que supliquem o favor divino e vejam sua vida mudar de fora para dentro, sendo que, na maioria das vezes, as coisas mudam apenas do lado de fora – e quando mudam de fato. Este promete mundos e fundos para quem não é bobo, está sofrendo ou deseja viver mais confortavelmente. O outro evangelho é aquele que convoca pessoas ao arrependimento e à fé, que resultam em transformação de dentro para fora. Este é o caminho estreito, apelo para que se tome a cruz. O primeiro é caminho que ao homem parece direito, mas ao fim se mostrará caminho de morte. O segundo é caminho de cruz, que convive com glória prometida a todos aqueles que perderam sua vida por amor de Jesus.
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Referência Bibliográfica:
KIVITZ, Ed René. Outra Espiritualidade: fé, graça e resitência. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2006.


quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Entrevista com Tatiana Malafaia



Em uma riquíssima e impactante entrevista concedida ao Reflexões do Reino, Tatiana Malafaia fala sobre seu 1º CD; realidade da música gospel; realidade da igreja; entre outros assuntos. Vale a pena conferir este edificante e satisfatório bate-papo.
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Tatiana é casada com Fabiano Malafaia Macedo e congrega na Assembléia de Deus em Jacarepaguá, liderada pelo Pr. Gilberto Malafaia. Seu serviço ao Reino de Deus divide-se entre as áreas de Educação e Música. É psicóloga clínica, professora de Psicologia Geral do Seminário Teológico Shalom, comentarista da revista de Escola Dominical Tudo a Ver com Jesus, destinada aos adolescentes de 12 a 14 anos, da Editora Central Gospel. Já lecionou para adolescentes na EBD e participou de trabalhos em comunidades carentes. Na área musical, fez parte do ministério de louvor de sua igreja e canta em corais desde o início da adolescência. Recentemente, gravou seu primeiro CD, Creio em Ti, pela Central Gospel Music, que traz seis músicas de sua autoria.

Reflexões do Reino: Conte-nos como foram as experiências que antecederam a gravação do CD Creio em Ti. E quais são as suas expectativas depois do lançamento?

Tatiana: Gravar um CD nunca foi um sonho pessoal. Sempre gostei de estudar e pensava em dar prosseguimento à minha profissão como Psicóloga. Também gosto muito de dar aula, por isso, já sonhava com o Mestrado e o Doutorado, para lecionar em Universidades. Quando comecei a namorar meu esposo, que é Oficial da Marinha do Brasil, imediatamente acalentei a idéia de ingressar na carreira militar. Eu tinha certeza que seria o melhor para nós dois! Mas, Deus tinha outros planos pra mim. Ele me falou que, um dia, eu gravaria um CD. Eu me achava inadequada para isso! Não me via encaixada no perfil de cantora gospel. Com o tempo, o Senhor trabalhou no meu coração, eu aceitei a vontade de Deus e hoje estou aqui, à disposição dEle. Espero que este CD seja tudo aquilo que o Senhor me prometeu: um canal para abençoar vidas e conduzir almas a Cristo.

Reflexões do Reino: Sabemos que o louvor tem seu devido poder sobre a vida dos fiéis, e até mesmo na preparação da pregação da Palavra de Deus. Como você observa a qualidade da música evangélica brasileira? Tem sido relevante no seio da igreja ou tem sido somente entretenimento?

Tatiana: Penso que a música tem alcançado um espaço e uma atenção em nossos cultos muito maiores do que lhe é necessária. O louvor tem adquirido um status mais poderoso que o da Palavra de Deus, a ponto de muitos afirmarem que o louvor liberta. Não concordo. Creio que a Palavra ministrada na forma de música, essa sim, liberta! (Jo 8.32). Melodia emotiva, harmonia perfeita e ritmo contagiante sem respaldo bíblico não passa de nuvem sem água. Meus ouvidos doem por causa de certas músicas, totalmente desprovidas de inspiração divina, propagadoras de falsas promessas, de um falso Evangelho. Muitas dessas não têm o propósito de adorar a Deus, mas sim de proporcionar ao cantor uma oportunidade de testar seu IBOPE, fazendo o povo dar glória ainda que o conteúdo seja contrário à Palavra. Em contrapartida, agradeço a Deus porque também ouço muitos louvores ungidos, entoados por servos de Deus, que são fiéis ao chamado que o Senhor lhes confiou, que pensam em agradar somente a Ele, e não à platéia.

Reflexões do Reino: Quais são os cantores que você admira e se espelha?

Tatiana: Aprendi com minha sogra que a palavra ministrar, na Bíblia, tem a mesma raiz que a palavra servir. O que me fascina num cantor é sua postura como verdadeira adoradora do Senhor, a unção que é manifesta em sua vida, a simplicidade e a humildade com que trabalha para Deus. Gosto de muitos, mas vou resumir. Da turma masculina, gosto do Nani Azevedo, do Lázaro, do Marquinhos Gomes. Entre as mulheres, gosto das músicas da Eyshila, da Flávia Afonso e da Ana Paula Valadão.

Reflexões do Reino: Muito se fala a respeito da falta de conhecimento do povo de Deus; que somos um povo ignorante e outros adjetivos pejorativos. Falando agora como professora, como tens visto a realidade das EBD’s e dos seminários teológicos?

Tatiana: Percebo que, basicamente, duas motivações atraem as pessoas ao Seminário: aquisição de conhecimento e/ou a aquisição de um diploma. O fato é que muitos alunos chegam despreparados, sem o conhecimento necessário para realizar o curso, que possui exigências de um curso de nível superior. Não há rigor na seleção dos alunos, até porque se houvesse poucos entrariam, devido a tamanha falta de preparo. Isso contribui para que haja um desnível de conhecimento entre os alunos da turma, o que gera um desnível de interesses. O aluno que conhece mais, busca um conhecimento maior ainda. O aluno que nada sabe, contenta-se com a superfície, pois até isso é novidade para ele. Esse desnível divide o professor, que acaba não se aprofundando muito em certos temas para não prejudicar os alunos mais atrasados. Muitos desses também encaram o Seminário como uma “obrigação”, e não um prazer, mostrando-se desinteressados. Isso desmotiva o professor que, ciclicamente, desmotiva o aluno.
Quanto ao ensino nas EBD’s, creio que o principal problema é o fato de a liderança incumbir para esta tarefa pessoas despreparadas didaticamente, não dedicadas ao ensino, que não tenham aptidão, vocação, sensibilidade, que não se identifiquem com o trabalho e/ou não possuam conhecimento bíblico sólido.

Reflexões do Reino: Alguns estudiosos e críticos dizem que a igreja está passando por uma crise de identidade. Os mais otimistas dizem que estamos conquistando o Brasil para Cristo. Em sua opinião, estamos em um avivamento ou em uma crise?

Tatiana: Nem todos estão avivados, assim como nem todos estão em crise. Qual dos dois lados está ganhando? Prefiro utilizar-me da lógica: se a grande maioria estivesse inserida em um autêntico avivamento (aquele que nos faz crescer na graça e no conhecimento de Deus, através da Sua Palavra, em comunhão uns com os outros): o mundo ficaria pequeno para tantos missionários disputando o campo; a janela 10-40 teria seus dias contados; haveria poucos doentes nos hospitais, para tantos crentes dispostos a fazer-lhes a oração da cura; as gráficas não dariam conta das encomendas de folhetos para evangelização, pois os grupos de visita cresceriam cada vez mais; nunca mais se ouviria que um crente está passando necessidade, pois não faltaria gente disposta a supri-las; o pastor seria obrigado a construir cada vez mais congregações e prédios anexos para obra social, pois não teria onde investir tantas ofertas num único templo; nunca mais ouviríamos alguém dizer que vive da obra, mas sim para a obra; a Igreja nunca mais temeria a ação dos governantes, pois por causa da oração constante do Seu povo, Deus inclinaria os seus corações para o bem que quisesse realizar. É o que penso.

Reflexões do Reino: De tantos problemas que a igreja do séc. XXI tem enfrentado, qual o maior que você destacaria?

Tatiana: A valorização da imagem, em detrimento da realidade, tem assolado a vida de muitos crentes. Por exemplo, eles se endividam, compram carros, casas, roupas caras, para passar a imagem da prosperidade. Pregador bom é o que sapateia e manda a igreja “dar glória”. O povo prefere pregadores carismáticos, com presença de palco, que operam milagres e prodígios, mesmo que o tal leve uma vida de pecado. Se o irmão é fiel, verdadeiro servo de Deus, prega a Verdade, mas não leva a platéia ao delírio, não serve. Os crentes têm sido tentados a abraçarem uma vida ilusória, onde o “parecer ser” é mais importante que o ser, de fato.

Reflexões do Reino: Sabemos que a Europa foi o berço dos grandes avivamentos existentes na história, mas infelizmente, hoje vivem em decadência espiritual. Hoje grandes templos que viram grande fervor espiritual são museus e até mesmo bares e restaurantes. Você acha que o Brasil pode chegar ao mesmo declínio ou ainda há esperanças?

Tatiana: Creio que não, porque mesmo com tantos desafios à nossa vida espiritual, temos visto remanescentes que não se curvam. Graças ao Senhor temos homens de Deus que falam sem temor a Palavra de Deus, para toda a nação escutar.

Reflexões do Reino: Tatiana, foi um prazer ter você aqui no Reflexões do Reino. Deixe um recado para nossos leitores.

Tatiana: É tempo de lutarmos pela nossa fé, combatermos o ativismo, dedicarmos nossas vidas a Deus, anunciando o Evangelho a toda criatura e preparar-nos para a vinda do Senhor Jesus! Oro para que os joelhos vacilantes sejam fortalecidos, em nome de Cristo!

Máximas teológicas - 9


"Encontrar-se com o Senhor, e mesmo assim continuar a buscá-lo, é o paradoxo da alma que ama a Deus. É um sentimento desconhecido daqueles que se satisfazem com pouco, mas comprovado na experiência de alguns filhos de Deus que têm o coração abrasado."
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A.W. Tozer

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