quinta-feira, 16 de julho de 2015

As tocantes verdades da flor (Parte 5)


expiação limitada – desafios
Os arminianos e os calvinistas de quatro pontos dizem que a doutrina da expiação limitada esbarra em textos bíblicos que dizem que Cristo morreu por todos ou pelo mundo inteiro. Alguns exemplos desses textos (com breves explicações calvinistas) são os seguintes:
2 Coríntios 5.15 – Esse versículo diz que Cristo “morreu por todos”, sendo essa a base para o desafio de viver para ele. Os universalistas hipotéticos entendem que aqui a palavra "todos" se aplica a cada ser humano. No entanto, uma leitura mais ampla e atenta revelará que, nesse texto o vocábulo, “todos” se refere a todos os crentes. Essa palavra aparece também no v.14 (“todos morreram”) onde esse é o único sentido possível. 
1 Timóteo 2.6 – Nessa passagem, há o registro da frase que diz que Cristo se entregou  “como resgate por todos”. Mais uma vez, os oponentes da teologia reformada entendem que aqui é ensinada a expiação ilimitada. Contudo, nessa passagem, a palavra “todos” se refere a todos os tipos de pessoas — servos e senhores, ricos e pobres, judeus e gentios, etc. (veja os vv.1-2, onde somente esse sentido é possível).
De fato, a análise do contexto histórico dessa passagem mostra que Paulo estava muito preocupado em quebrar a ideia proposta pelo gnosticismo incipiente da época de que somente uma elite de homens tinha privilégios espirituais (1Tm 1.3-7). Daí sua afirmação de que Cristo morreu por todos os tipos de pessoas, anulando as distinções ensinadas pelos hereges (veja tb. Tt 2.11 onde o sentido é o mesmo. Aliás, logo a seguir nessa passagem, o v.14 mostra o alvo limitado da expiação).
Hebreus 2.9 – Esse texto afirma que Jesus provou a morte “em favor de todos”. Será que isso comprova a doutrina da expiação ilimitada? É claro que não. Aqui a palavra "todos" se refere a judeus e gentios. Deve ser lembrado que a carta em questão foi escrita para cristãos judeus. Ora, no século 1 havia entre esses crentes a tendência a crer que somente pessoas da nação israelita seriam beneficiadas pela obra do Messias. Os cristãos hebreus não assimilaram de pronto a ideia de que o Cristo tinha vindo em benefício de todos os povos. Por isso, era necessária a afirmação de que o Messias havia morrido por todos (judeus e gentios), no afã de enfraquecer a noção de exclusivismo soteriológico israelita.
Ademais, nesse ponto é preciso lembrar que, na Bíblia, nem sempre é possível que a expressão “todo homem” e similares signifiquem cada indivíduo que vive no mundo. Veja, por exemplo, João 12.321 Coríntios 15.22 e Colossenses 1.28. Em todas essas passagens, as expressões “todos” e “todo homem” têm um sentido limitado. Isso é muito óbvio!
Além desses textos, existem aqueles que pertencem aos escritos joaninos (Evangelho de João; 1,2,3 João Apocalipse). Nesses livros, os versículos mais citados contra a expiação limitada são João 3.16 1 João 2.2. Os arminianos e os calvinistas de quatro pontos entendem que, nesses dois trechos, a palavra “mundo” significa cada ser humano que há na Terra e acreditam, com isso, derrubar a terceira pétala da Tulipa.
Contudo, nos escritos joaninos há vários textos que provam que o vocábulo “mundo” nem sempre (talvez nunca) pode significar cada indivíduo do planeta. Veja, por exemplo, João 1.296.33 e 16.8. Se nesses trechos o termo “mundo” abranger cada pessoa, então cairemos no universalismo, afirmando que todos os homens estão salvos, o que é um grande desvio doutrinário. Considere ainda 1João 5.19. Note que, nessa passagem, o termo “mundo inteiro” está restrito em sua aplicação apenas aos incrédulos, sendo excluídos os salvos.
Como, então, deve ser interpretada a palavra “mundo” em João 3.16 e 1 João 2.2? Nos escritos joaninos só existe um versículo que revela como o termo “mundo” deve ser entendido em textos como esses. Trata-se de Apocalipse 5.9. Esse é o único texto que mostra o que João tinha em mente quando dizia que Deus amou o mundo ou que Cristo é a propiciação pelos pecados do mundo. De fato, Apocalipse 5.9 indica que, quando João falava assim, ele não pensava em cada indivíduo que vive aqui, mas sim em homens espalhados por “toda tribo, povo, língua e nação”.
Assim, quando a boa teologia afirma que Cristo se entregou pelo mundo, isso significa que ele morreu por homens que vivem no mundo todo e não por todos os homens que vivem no mundo. Percebeu a diferença?
(Continua)
Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

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