terça-feira, 10 de março de 2009

Graça x Religião


No cristianismo, o amor não é dado aos que já são dignos. Ao contrário, ele quer bem ao que nada vale e lhe outorga valor. A graça habilita o amor de Deus de se expressar sem exigir absolutamente nada. "O homem amado por Deus não tem nenhum valor em si; o que lhe dá um valor é o fato de Deus amá-lo".
Essa compreensão da graça de Deus é central nos evangelhos, por inúmeros motivos. Primeiro, nos alivia de enormes tensões religiosas. A graça não permite que Deus seja uma ameaça. O emaranhado de leis e regulamentos muitas vezes dificulta o conhecimento de Deus. Acaba escondendo-o!
Os judeus gostam de contar uma antiga história sobre um rabino que chegou em casa certo dia e encontrou sua filha, de nove anos, chorando muito. Perguntou-lhe porque tantas lágrimas. Entre soluços respondeu que estava brincando de escondeesconde com seus amigos. Na sua vez, se escondeu tão bem que os amigos desistiram de procurá-la e foram embora para brincar de outra coisa. Depois de mais de uma hora, quando saiu do esconderijo viu que estava sozinha. Na hora em que o rabino passava a mão na cabeça de sua filha, consolando-a, pensou: Será que a religião conseguiu esconder Deus tão bem que ele se sente sozinho e abandonado?

Não seriam as exigências religiosas um empecilho ao conhecimento de Deus? Erasmo de Rotterdam, um dos precursores da Reforma Protestante, clamou que a Igreja retornasse a Cristo sem o peso das exigências e doutrinas humanas. Seu pedido precisa ser ouvido:

"Verdadeiramente o jugo de Cristo seria suave, e seu peso leve, se as mesquinhas instituições humanas não acrescentassem coisa alguma ao que ele mesmo impôs. Ele nada nos ordenou a não ser o amor uns pelos outros, e não há nada, por mais amargo que seja, que a afeição não suavize e adoce. Tudo segundo a natureza é facilmente suportável, e nada concorda melhor com a natureza do homem do que a filosofia de Cristo, da qual o único fim é devolver à natureza caída sua inocência e integridade... A igreja acrescentoulhe muitas coisas, das quais algumas se podem omitir sem prejuízo da fé...
Que regras, que superstições nós temos a respeito da vestimenta!... Quantos jejuns se instituem!... Oxalá os homens se contentassem em deixar Cristo governar pelas leis do Evangelho, e não mais procurassem fortificar sua tirania tenebrosa como decretos humanos".
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Extraído do livro "É proibido"
Ricardo Gondim

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