quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A arte do vernáculo


Estou me deliciando na obra "Alma Sobrevivente" do escritor Philip Yancey. Nos idos do capítulo 10, encontrei uma pérola que gostaria de compartilhar com meus leitores.

O trecho abaixo falou muito ao meu coração.

"A partir das cartas que recebo e dos comentários que ouço em festas e lançamentos de livros, chego à conclusão de que as pessoas têm uma visão romântica da vida de um escritor. Essas pessoas nunca estiveram ao lado de um escritor que fica parado 15 minutos diante de um dicionário de sinônimos em busca de uma única palavra. Devido ao próprio trabalho, os escritores levam uma vida solitária. Trabalhamos sozinhos, fugindo de qualquer distração, e criamos nossa própria realidade particular, explorando-a e domesticando-a até que chega o momento quando o editor começa a instigar outras pessoas a trabalhar conosco - momento em que, naturalmente, estamos felizes, construindo outra realidade falsa. Na maior parte das vezes, o mundo que criamos é muito mais interessante do que aquela triste realidade na qual vivemos. Às vezes, tenho a impressão de que minha vida de escritor se sobressai à minha vida real. Fico pensando: Se eu não escrevesse, será que eu chegaria mesmo a existir? Como posso saber o que penso ou sinto sem abrir meu computador e começar a escrever sobre aquilo? Lembro-me de um dia em que trabalhava em uma pequena história numa manhã bem cedo. Por três horas, esforcei-me para desenvolver personagens tridimensionais, tirando todos os clichês de seus diálogos. Iniciante na ficção, estava ficando com uma terrível dor de cabeça por causa do esforço. Naturalmente, usava isto como desculpa para parar de escrever, atravessar a rua e tomar um café. Imagine minha surpresa ao descobrir que todas as pessoas da cafeteria eram personagens bidimensionais, que falavam usando clichês! Nenhuma daquelas pessoas parecia-me tão interessante quanto as pessoas que povoavam minha história. Corri de volta para a segurança de minha falsa realidade que me esperava (e somente a mim) no meu escritório no porão".

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