segunda-feira, 26 de maio de 2008

A reclamação do profeta

Todos nós temos um senso interno de justiça. Se um pai joga sua própria filha da janela do 6º andar e continua a viver como se nada tivesse acontecido, outros pais certamente se revoltariam e desejariam dar cabo da vida desse pai insano.
Podemos discordar quanto ao que é justo ou não, mas todos nos pautamos por algum tipo de código interior.
E, para ser franco, a maior parte do tempo, a vida parece injusta. Que criança "merece" ser jogada da janela do 6º andar pelo próprio pai e pela madrasta? Que criança “merece” crescer nas favelas de Calcutá, Rio de Janeiro ou Bronx? Por que pessoas como Adolf Hitler, Joseph Stalin e Saddam Hussein conseguem se safar depois de oprimir milhões de pessoas? Por que pessoas tão meigas e gentis morrem no vigor de sua juventude, enquanto outras, vivem até uma velhice insuportável? Todos nós fazemos versões diferentes dessas perguntas. Já o profeta Habacuque as fez direto para Deus, e recebeu uma resposta sincera. Habacuque não mede suas palavras. Exige que o Senhor explique por que Ele não reage diante da injustiça, da violência e do mal que o profeta vê a sua volta. Deus responde com a mesma mensagem que Ele transmitiu a Jeremias, dizendo que enviará os babilônios para punir Judá. Acontece que tais palavras de nada servem para confortar o profeta, pois os babilônios são um povo selvagem e sem piedade. Não é injusto usar uma nação ainda pior para castigar Judá? O livro de Habacuque não oferece uma solução para o problema do mal. No entanto, as conversas do profeta com seu Deus convencem-no de uma certeza: o Senhor não perdeu o controle. Como Deus de justiça, Ele não pode deixar o mal vencer. Primeiro trará os babilônios conforme as regras que eles próprios estabeleceram. Então, mais tarde, intervirá com grande força, abalando os fundamentos da terra até que nenhum sinal de injustiça permaneça. "Mas a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas enchem o mar", Ele promete a Habacuque. Um vislumbre dessa glória poderosa muda a atitude do profeta de indignação para alegria. No curso do seu debate com Deus, Habacuque aprende lições sobre fé, expressas de maneira maravilhosa que seu livro, que começa com uma reclamação, termina com um dos mais belos cânticos encontrado na Bíblia.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Cosmovisão

É interessante como ao longo de nossa peregrinação espiritual nos deparamos com diversas formas de ver o mundo.
Quando nos convertemos, recebemos um legado de informações que regem a subcultura evangélica brasileira, chamada de "doutrina". Aprendemos a interpretar a Bíblia em sua literalidade, e por instinto legalista e fundamentalista, julgamos tudo e a todos, por acreditar que agora nossos olhos foram abertos e não somos mais escravos do pecado. É incutido em nossa mente, que somos diferenciados, privilegiados e até mesmo, filhos prediletos; e aí percebemos que nossos olhos ainda não foram abertos como pensávamos.
Estou experimentando uma nova fase. A doutrina rígida que nos foi passada pela denominação tradicional em que faço parte, não tem mais aquela primazia em minha vida como no início da caminhada.
Suplico a ti, caro leitor, que não se escandalize devido ao teor dos meus escritos. Simplesmente, aprendi que existe uma nova maneira de ver o mundo (Cosmovisão). Falamos tanto da Graça, mas parece-me que não entendemos seu real significado. Aprendi que Graça não é só um conceito teológico, mas é para ser recebida e vivida. Aprendi que o céu é pra todos, e que principalmente, Jesus não é só Jesus dos crentes, mas Jesus de todos. É claro que existem algumas condições para se chegar ao céu, mas ao contrário, monopolizamos Jesus dentro de quatro paredes, estigmatizamos essas condições e nos tornamos etnocentristas (crença na superioridade do povo a que se pertence, acompanhada de sentimento de menosprezo por padrões culturais que se afastam da posição cultural do observador).
Faço coro com o Pr. Ed quando diz:
"Uma das coisas mais estúpidas que já acreditei em termos de religião foi que a composição da população do céu podia ser mensurada pelo número de pessoas que dissessem “sim” a um apelo de conversão a Jesus Cristo feito nas bases da tradição do cristianismo protestante evangélico anglo-americano. Traduzindo: se você acredita que irão para o céu somente as pessoas que aceitam a Jesus como salvador depois de ouvir o evangelho pregado a partir da cultura anglo-americana, então você está em apuros: o seu céu é pequeno demais; o seu Deus é pequeno demais; o seu Cristo é pequeno demais; o seu evangelho é pequeno demais; o seu Espírito Santo é pequeno demais; o seu universo de comunhão é pequeno demais; seu projeto existencial é pequeno demais; sua peregrinação espiritual é pequena demais. É urgente que se articule uma outra maneira de convocar pessoas para que se coloquem a caminho do céu. Uma convocação que considere que “nem todo o que me diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus” – Palavras de Jesus. Uma convocação que re-signifique o conceito de céu, que deve deixar de ser um lugar geográfico em outro mundo para onde se vai após a morte, para significar uma dimensão de relacionamento com o Deus Eterno para a experiência contínua do processo de humanização: estar em Cristo e ser como Cristo. Com isso quero dizer que o convite para aceitar Jesus como salvador como credencial para ir para o céu não é a melhor convocação. A melhor convocação é um chamado para se tornar uma outra pessoa. A peregrinação espiritual cristã não é uma migração de um lugar para outro, mas de um estado de ser para outro. Nosso destino não é o céu. Nosso destino é Cristo. E tenho certeza de que muita gente vai chegar lá mesmo sem nunca ter ouvido o plano de salvação desenvolvido pelos teólogos sistemáticos anglo-americanos".

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails